Aumento nas exportações de carne suína impulsiona investimentos

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Aumento nas exportações de carne suína impulsiona investimentos

A venda de carne suína registra elevação acima de 50% e incentiva produtores a ampliar estruturas e quantidade de animais alojados. Apesar das boas projeções para o segundo semestre, entidades alertam para risco da oferta ser maior do que o consumo

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Aumento nas exportações de carne suína impulsiona investimentos
Das granjas do Vale do Taquari saíram mais de 1,8 milhão de cabeças em 2019. Vendas e consumo no exterior em alta, faz setor ampliar os plantéis. Créditos: Felipe Neitzke
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A família Bergmann, em Canudos do Vale, investiu R$ 170 mil na construção de novo galpão para aumentar o alojamento em mais 650 suínos. Ao todo, são três pavilhões com 1.850 cabeças. Os animais chegam a granja com 21 dias e ficam até os 50, quando são reencaminhados para a terminação.

“No ano passado recebemos em média R$ 10 por leitão, agora, no último lote chegou a R$ 15. Isso nos motiva a investir”, destaca Valentin. Paulo Wessel, de Marques de Souza vai aplicar mais de R$ 700 mil para construir um chiqueiro com capacidade de alojar 1 mil suínos. “É o momento de fazer. No último lote ganhei R$ 56 por cabeça. É muito bom”, resume.

As exportações brasileiras de carne suína in natura e processada cresceram 52,2% em maio, para 102,4 mil toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Em receita, as vendas alcançaram US$ 227,9 milhões, 58,4% mais que em igual mês de 2019. No acumulado do ano, as exportações de carne suína somam 383,2 mil toneladas, 34% acima dos cinco primeiros meses de 2019. A receita no período é 54,8% superior, de US$ 878,3 milhões em 2020.

“Ultrapassamos pela primeira vez o patamar de 100 mil toneladas e de US$ 200 milhões em um único mês. Era um comportamento esperado pelo setor para este ano, mesmo com o enfrentamento da pandemia”, segundo o presidente Francisco Turra.

O Vale do Taquari representa 20% da produção gaúcha de carne suína, sendo o maior produtor para abate em 2019, com o total de 1.801.176 cabeças. Entre janeiro e maio desde ano, o RS já exportou 93,2 mil toneladas, contra 65,4mil toneladas no ano passado, um aumento de 42,4%. O estado é o 3º maior produtor e 2º maior exportador de carne suína do Brasil.

Oferta e consumo

Para o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, é preciso ficar atento a demanda e a oferta para evitar prejuízos. Apesar da expectativa positiva, recomenda cautela em relação a novos investimentos ou ampliação dos plantéis.

O que justifica o aumento nas exportações em 2020?

Valdecir Folador – É justificado pela demanda do mercado asiático, de países como China, Hong Kong e Singapura, que são os principais importadores de carne suína brasileira. Ocorre devido ao problema de redução do rebanho pela Peste Suína Africana (PSA). Com isso, a oferta de carne caiu muito, principalmente na China. O país produzia em torno de 50 milhões de toneladas por ano e com o advento da PSA, segundo estimativas, é que se produza em torno de 35 milhões de toneladas este ano. Por isso a alta demanda e o grande volume de exportações para aquele país.

Depender apenas de um mercado é preocupante?

Folador – Sem dúvida, é preocupante e arriscado demais sermos dependentes de um único país. Se pegarmos desde o início da década de 2000, quando o Brasil se tornou um grande exportador de carne suína, até 2018 a Rússia sempre foi o nosso maior cliente com cerca de 65%. Hoje a China e Hong Kong respondem por quase 70%. Então, na verdade, só viramos a chave da dependência.

E como conquistar novos clientes?

Folador – Para entrar em outro mercado, é preciso tirar o fornecedor atual, ser mais competitivo e atender todas as demandas sanitárias. O produtor brasileiro é competente, tem uma excelente produção com excepcional qualidade, atende todas as exigências sanitárias, ambientais, de bem-estar animal, mas é um trabalho de longo prazo e bastante complicado.

Quais as perspectivas para os próximos meses?

Folador – As projeções para o segundo semestre de 2020 continuam sendo positivas. Mesmo com a pandemia as exportações se mantém em alta. Já no mercado interno o consumo reduziu e fez o preço do quilo cotado acima dos R$ 5, cair para R$ 3,83 aqui. Agora voltou a R$ 4,38. A entrada do Auxílio Emergencial pago pelo Governo ajuda a estimular as compras. Não temos excesso de oferta, mas principalmente pela alta nas exportações. Esperamos que essa pandemia tenha um arrefecimento para o segundo semestre, que as coisas comecem a voltar ao normal. Se isso acontecer, a tendência é de melhora no mercado interno. Isso, além de estimular o consumo, melhora o preço do suíno, a rentabilidade e faz com que sobre dinheiro para quem aposta no setor.

É aconselhado fazer novos investimentos?

Folador – A ampliação de plantéis, reformas e construção de novas estruturas ocorre e tem por objetivo ganhos de produtividade e mais eficiência. Isso vai aumentar a oferta. É importante todos ficarem atentos com uma ampliação em cima da demanda que temos de consumo, tanto de mercado interno quanto externo. Hoje a exportação vai bem pela necessidade da China e Hong Kong que representam quase 70% de todas as nossas vendas, visto que os plantéis de lá sofreram drástica redução. Os chineses trabalham para recuperar os rebanhos e até 2024 talvez não precisem mais de tanta carne. E na última semana o país exigiu das empresas exportadoras garantias de que o produto esteja livre da Covid-19. Isso ascende um sinal de alerta e poderemos até ter problemas de embargos ou mesmo renegociação nos preços, causando prejuízos em todo setor.

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