“Não é por ter errado que uma pessoa é má por natureza”

Abre aspas

“Não é por ter errado que uma pessoa é má por natureza”

No dia 23 de julho, completa 19 anos de uma ocorrência que marcou a vida do sargento da Brigada Militar de Teutônia, Pedro Hugarte Sant’Ana. Ele estava de folga e entrou em confronto com quatro ladrões de banco. Na troca de tiros, um bandido foi morto e ele ficou gravemente ferido. Foi atingido por 11 disparos. Natural de Palmitinho, o policial de 49 anos é casado com Vera e tem um casal de filhos, David, de 23 anos e Jennefer, de 12. Do trauma carrega consigo até hoje a certeza que agiu em defesa da sociedade.

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“Não é por ter errado que uma pessoa é má por natureza”
Brigada Militar de Teutônia, Pedro Hugarte Sant'Ana
Teutônia

O que levou o senhor à Brigada Militar?

Sempre gostei da atividade militar. Sou filho de agricultores e quando completei 18 anos fui servir ao Exército. Na época trabalhava com meus pais e vi uma oportunidade de carreira. Por eu não ter estudo, fiquei 11 meses e fui dispensado.

Quando sai, voltei a trabalhar e estudar. Me mudei para Bom Retiro do Sul e após pouco mais de dois anos concluí o Fundamental. Então comecei a me dedicar para fazer o concurso da Brigada.

Fui aprovado, fiz o curso preparatório em Montenegro e fui designado para Teutônia, onde estou até hoje.

Colegas de farda lembram até hoje da ocorrência em que o senhor foi ferido. Como aconteceu o confronto do dia 23 de julho de 2001?

Foi o momento mais difícil que passei. Fazia pouco tempo que tinha almoçado com minha família e fui levar minha esposa para o trabalho. Depois disso, eu fui ao banco para fazer um depósito. Estava de folga e percebi o assalto. Eu reagi. Foi involuntário, só pensei no meu dever como policial, de agir em situações de risco.

No confronto contra quatro bandidos, fui atingido por 11 tiros e um dos assaltantes também foi alvejado e morreu. Fui levado para o hospital, fiquei três dias na UTI e mais 43 dias internado.

A recuperação até voltar a trabalhar levou um ano e quatro meses. Tive fratura no fêmur devido ao tiro de 12, levei vários tiros de calibre .38 no corpo, com diversos danos aos órgãos.

Como foi sair do hospital e se recuperar? Acreditava que poderia voltar ao trabalho?

Foi bem marcante essa saída do hospital. Foi exatamente no dia 11 de setembro de 2001, no dia do atentado terrorista às torres gêmeas nos Estados Unidos. Eu cheguei na casa de um familiar, a tevê estava ligada com a notícia da explosão dos edifícios.

Tanto o confronto quanto a saída foram datas marcantes e tenho esses episódios vivos na memória. Toda a recuperação foi muito difícil. Eu perdi parte do intestino, passei por diversas cirurgias.

Mesmo com toda a dor eu não desisti. Meus familiares e amigos insistiam para eu não voltar à polícia, que parasse por tudo que tinha passado. Eu tinha 30 anos, era jovem demais. Considerava ter boa saúde e acreditava que poderia voltar a trabalhar.

Com dificuldades para me mexer, caminhar, para fazer coisas simples, retornei à BM. Fui fazer trabalhos internos, na sala de operações e atendimento ao público. Depois de cinco anos, de muito preparo, de fisioterapia, de exercícios, consegui voltar ao policiamento de rua.

Todo esse período foi muito difícil. Os tratamentos eram muito caros e passei por problemas financeiros também. Mas tive o apoio de vários colegas, de familiares e da comunidade de Teutônia. Todos me acolheram e me ajudaram. Eu só tenho a agradecer, pois foram muito importantes para que eu pudesse voltar a ser policial.

O que mudou no senhor após o confronto?

Quando somos jovens, fazemos algumas coisas no impulso, sem pensar muito. Isso tanto no trabalho como ao tratar as pessoas. Eu mudei um pouco o meu comportamento, passei a pensar mais e valorizar cada vida, cada ser humano.

Hoje tenho mais empatia. Não é por ter errado que uma pessoa é má por natureza. Aprendi que sempre temos de pensar no lado bom da vida e ser responsável pelos nossos atos.

Hoje se arrepende de ter reagido ao assalto?

Não. Eu agi pensando nas pessoas que estavam ali e na defesa do patrimônio. Me senti na obrigação. Fiz um juramento de servir a farda, de cumprir o dever com o risco da própria vida. Assumi o perigo e consegui superar. Se acontecesse de novo, agiria da mesma forma, na defesa daquilo que jurei.

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