Pelo direito de ser e amar quem quiser

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Pelo direito de ser e amar quem quiser

O Dia do Orgulho LGBTI+, celebrado neste domingo, evidencia a luta de um grupo por respeito e igualdade

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Atualizado sexta-feira,
14 de Junho de 2020 às 13:38

Pelo direito de ser e amar quem quiser

Um data de resistência, que marca um acontecimento histórico. O Dia do Orgulho LGBTI+ faz menção a uma revolta ocorrida em um bar chamado Stonewall In, nos Estados Unidos, em 1969, conta a historiadora Jandra Cardoso Segabinazzi, 30.

Na época, não muito diferente de hoje, policiais costumavam invadir os bares LGBTQIA+ e atacar as pessoas, conta. “Cansadxs, elas reagiram. Por ser uma violência escrachadamente lgbtfóbica, houve uma organização da comunidade LGBTQIA+ para protestar contra esses ataques, por isso, este dia é lembrado como uma data de luta em vários lugares do mundo”.

Para Jandra, a comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta muitos desafios, reforçados pelo avanço da intolerância nos últimos anos. “Isto é incentivado pelo governo atual, e, mesmo não acreditando que o Estado seja capaz de gerenciar a sociedade de forma igualitária e sustentável, acredito que a falta de diversidade entre representantes políticos impossibilita que nossas pautas acessem locais de poder”.

A falta de diversidade dentro do aparato político, por si, já revela uma sociedade que exclui a participação efetiva das pessoas LGBTQIA+, opina.
“Vemos um Estado que não é laico e temos, também, um grande desafio dentro das escolas. Durante um período em que lecionei no ensino público, passei por uma situação em que uma colega professora gritou que minha família não existe, que o certo é homem e mulher. Imagina o que ela não deve falar para xs alunxs? Vejo pouca ou nenhuma atividade didática onde se fale sobre diversidade nas escolas”.

Sem rótulos, só amor

A bissexualidade é uma das vivências mais invisibilizadas dentro da comunidade LGBTQIA+, por ser vista, tanto por heterossexuais, como por muitos homossexuais, como pessoas “em cima do muro”, sem uma orientação definida.

Foi o que levou a designer de moda e funcionária pública Bruna Geller Ribeiro, 30, a se posicionar como bissexual, apesar de não gostar de rótulos. “Para mim, a sexualidade deveria ser algo leve e fluído”.

Bruna enxerga sua sexualidade por meio da afeição que sente por pessoas, independente do seu sexo ou identidade de gênero. Para ela, não deveríamos precisar rotular a sexualidade ou demais aspectos de nossas personalidades, mas vê de forma positiva uma mudança cada vez maior no comportamento de muitas pessoas sobre isso.
“Acredito que as pessoas estão repensando sobre suas sexualidades, experimentando coisas novas e se descobrindo em todos os sentidos, e isso faz parte da vida. Viver é um eterno aprendizado e experimentar para se descobrir faz parte.”

Para Jandra, o processo de descoberta e aceitação foi tranquilo, apesar de, na época, participar de um grupo de jovens da Igreja e ponderar sobre perder os amigos daquele espaço. “Mas foi a melhor sensação da vida, um mundo que se abria para mim”.

Jandra vivia em Uruguaiana e lembra que a mãe a proibia de ir a um bar da cidade pelos boatos de o local era frequentado por lésbicas e gays. “Mal sabia ela que era por isso que eu queria ir”, ri.

Aos poucos, a jovem conheceu outras pessoas LGBTQIA+ e passou a encontrar acolhimento nas amizades e em músicas sobre temas como feminismos e lesbianidades. A mãe também passou a aceitar melhor sua sexualidade e hoje até faz festa de aniversário com bolo de arco-íris, brinca Jandra.

“Eu sabia o que implicava ser lésbica. Sabia que mais do que nunca precisaria de coragem para viver minha sexualidade e expressar minha existência. Hoje vejo que avançamos no acesso a conteúdos diversos, coisa que na minha época de descoberta não era tão fácil. Por isso, percebo e insisto em dizer que hoje só é lgbtfóbico quem realmente quer”.

Para mudar o futuro

Jandra acredita que a forma mais eficaz de compreender e aprender sobre a luta da comunidade LGBTQIA+ é ouvindo estas pessoas. Para ela, é preciso que as os heterossexuais se posicionem a favor da luta LGBTQIA+ de forma urgente.
“Não acho justo que tanto se consuma da cultura LGBTQIA+ e que as pessoas não se posicionem na linha de frente na hora de defender e na hora de questionar as piadinhas lgbtfóbicas, por exemplo”.

A empatia e a responsabilidade são as chaves para construir um futuro mais justo. “Se há o desejo de aprender com a comunidade LGBTIQA+, em primeiro lugar, é preciso que mantenham nossas vidas seguras. Não basta não ser lgbtfóbico, é necessário se colocar de maneira ativa como antilgbtfóbico”.

Compreenda a sigla LGBTQIA+

No início, era comum utilizar o termo Movimento Gay ou Homossexual. Com o passar do tempo foram ocorrendo várias mudanças na nomenclatura, como GLTB, LGBT, LGBTI, entre outros.

Percebeu-se que algumas identidades eram excluídas e a sigla foi repensada para abraçar outras experiências e identidades. Por isso, a utilização do símbolo + para representar a imensa diversidade de experiências não tidas como a regra hetero-cis. Porém, não existe um jeito certo e fixo para o uso da sigla enquanto movimento social, explica Jandra.

L – Lésbicas: mulheres cis ou trans que sentem atração por pessoas do mesmo gênero;
G – Gays: homens cis ou trans que sentem atração por pessoas do mesmo gênero;
B – Bissexuais: pessoas que se atraem e se relacionam com pessoas de todas identidades de gênero;
T – Travestis, Transexuais ou Transgêneros: pessoas que se identificam com outro gênero que não aquele designado no seu nascimento;
Q – Queer: pessoas com identidades e orientações sexuais que não correspondem a um padrão heterossexual;
I – Intersexo: pessoas que não se encaixam no que a medicina define como biologicamente feminino ou masculino;
A – Assexuais: pessoas que não sentem atração sexual e/ou afetiva por outras pessoas.

Dicas para quem quer aprender mais:
Talk show Nanette
Série Pose
Filme Tomboy
Graphic novels de Alison Bechdel
Poemas de Audre Lorde

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