“Prefiro meio Cláudio Klein do que qualquer um de vcs em dose dupla”

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

“Prefiro meio Cláudio Klein do que qualquer um de vcs em dose dupla”

Lajeado

Nesta semana, os vereadores do MDB de Lajeado encaminharam ofício ao Ministério Público, pedindo ação de improbidade administrativa contra o secretário Cláudio Klein (sem partido) e o prefeito Marcelo Caumo (PP).

Se valeram de uma entrevista de Klein à Rádio A Hora 102.9, quando este admitiu que não cumpre expediente integral na prefeitura. Revelou ter condicionado e acordado com o chefe do Executivo, antes de aceitar o cargo.

Cláudio Klein é médico pneumologista e mantém um consultório particular, no qual atende em determinados horários do dia. Via de regra, seu cargo não exige cumprimento de horário fixo na função pública. Entretanto, o MDB se apega à lei municipal, quando da criação do cargo, que sugere uma jornada de 165 horas mensais.

Para o assessor jurídico da prefeitura, Natanael dos Santos, o pedido do MDB não faz sentido. Ele diz que o secretário precisa estar disponível em tempo integral e atender ao chamado do prefeito quando necessário, não importando o horário.

O ofício do MDB está com o promotor Neidemar Fachinetto, o qual terá de decidir se propõe uma ação contra os dois gestores, ou se opta pelo arquivamento.

Nas redes sociais, sobraram comentários e críticas às partes. Mas foi contra os autores do ofício que se ergueram os mais contundentes e numerosos.

Aqui selecionei alguns, e destaco o comentário da jornalista e blogueira Laura Peixoto, do qual pinço uma frase pitoresca: “Prefiro meio Cláudio Klein do que qualquer um de vcs em dose dupla”, se referindo aos vereadores.
Por que este comentário merece destaque? Talvez alguns possam pensar que este colunista aprove ou rechace. Nenhuma das possibilidades importa neste momento.

Destaco as afirmações de Laura Peixoto por ilustrarem um sentimento popular crescente, carregado de insatisfação com a classe política, em especial, do Legislativo. As pessoas estão cansadas de ouvir políticos tergiversarem – no popular, é “enrolar” – quando questionados sobre temas que exigem respostas sensatas.

É, justamente, dos representantes do povo – os legisladores – que a população espera a maior sensatez e sensibilidade. E não o contrário, como tem sido faz tempo.

De volta ao nosso quintal. Falemos dos 43 assessores na câmara de Lajeado. A maioria dos “representantes do povo” defende, ferrenhamente, a manutenção dos cargos, apesar da flagrante contrariedade do “próprio povo”, que os elege e paga a conta. Inacreditável.

Ainda que alguns legisladores argumentem pela proporcionalidade per capita, ou invoquem o “custo da democracia”, a câmara de Lajeado tem assessores com salários de até R$ 5 mil.

O gasto anual da câmara de Lajeado passa de R$ 5,4 milhões, enquanto “falta leite” para algumas famílias lajeadenses, como invocou Sérgio Kniphoff (PT) ao criticar o superávit da prefeitura, em entrevista à Rádio A Hora, nesta semana.

É muita falta de sensibilidade política para seguir defendendo um gasto exagerado e rechaçado pela população, tentando invocar tais argumentos. Basta pedir a qualquer cidadão nas ruas.

O presidente Lorival Silveira (PP), na mesma entrevista, insistiu que precisa dos assessores para “fazer um bom trabalho”. Argumentou que a cidade ficou grande e que o vereador não consegue estar em todos os compromissos e demandas ao mesmo tempo.

Me belisquem. É difícil entender estes argumentos, ainda mais em tempos de pandemia, quando os assessores estão em casa.

Enquanto os pequenos comerciantes lutam para não falir, outros pais e mães clamam por empregos ou duplicam jornadas para conseguir alguns reais a mais no sustento da família, a classe política segue intacta nas suas convicções corporativistas. É um sistema que insiste em legitimar o inaceitável.

Afinal, é impossível convencer um pai de família desempregado, ou um comerciante à beira da falência, que o custo da câmara de Lajeado é baixo em relação às demais cidades. Ainda mais quando revelada a cifra superior a R$ 5,4 milhões em gastos anuais. E pior, enquanto “falta leite” para colocar à mesa de algumas famílias.

Reforço meu apreço e valor ao parlamento. Ele é fundamental. Precisa de credibilidade nos momentos conflitantes. E é por esta relevância que insisto: vamos reduzir o custo legislativo, senhores vereadores. A sociedade precisa retomar sua confiança no parlamento.

Negar ou relativizar a gastança em nome do “custo da democracia”, da “proporcionalidade” ou do “tamanho” da cidade de Lajeado, é uma insensatez indefensável.

Ainda tenho esperança que os vereadores cairão em si. Insistir em manter 43 assessores em uma cidade onde “falta leite” para algumas crianças não pode ser o único caminho.

Do contrário, o grande recado se erguerá nas próximas eleições. O Congresso Nacional já é uma mostra disso nas últimas eleições. Foi apenas uma prova do que o voto popular é capaz.

Em cidades menores, este sentimento pode ser ainda mais latente quando a população sentir o desprezo pela sua vontade.

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