“É você que está com o coração da minha filha?”

Nova chance para viver

“É você que está com o coração da minha filha?”

Essas foram as palavras de Paulo, pai de Ivete, doadora de órgãos e que ajudou a salvar a vida do vereador de Lajeado, Lorival Silveira. Nesta semana, o transplantado esteve em Bento Gonçalves, onde se reuniu com toda a família Domann

“É você que está com o coração da minha filha?”

Do drama de estar perto da morte a uma nova vida. Tudo em um mês. Internado no Hospital de Clínicas no dia 25 de março até o procedimento, um transplante de coração. Foram dias de muito medo, relembra o vereador de Lajeado Lorival Silveira (PP). Na época, respondia pela Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas). Para agradecer a nova chance de viver, ele visitou a família da doadora, Ivete Domann, 39.

O encontro foi nessa quarta-feira, 8 de janeiro. Silveira foi até Bento Gonçalves. Foi recepcionado pelos pais, irmã, marido, os dois filhos e sobrinhos da doadora. “Quando desci do carro, o pai de Ivete (Paulo) veio em minha direção e disse: ‘É você que está com o coração da minha filha. Aquilo me tocou. Senti algo muito forte. Não há como explicar”, relembra o vereador.

Desde quando saiu do hospital, um dos objetivos era conhecer a família. “Tinha de abraçá-los e agradecer. Eles salvaram minha vida. Só eu sei o que estava passando. Foi uma atitude muito nobre.” O vereador progressista tem 52 anos e foi diagnosticado com insuficiência cardio-respiratória.

Já a doadora, Ivete Domann Rener, era professora da rede municipal de Bento Gonçalves desde 2012. Ela morreu em 24 de março, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

“Me senti em casa”
O encontro carregado de emoções precisou ser pensado. Silveira tinha ideia de como poderia mexer com ele e se preparou, inclusive com medicação para evitar algum imprevisto. Conseguiu o contato telefônico dos Domann, marcou a hora e o dia da visita. “É uma família maravilhosa. Percebi que eles carregam consigo o sentido de ajudar as pessoas.”

Em homenagem a Ivete, os Domann construíram uma capela em frente da casa. Com a foto dela. Silveira foi até o local e rezou. “Nessa hora o coração bateu forte. Fiquei muito emocionado. Não há como medir os sentimentos que tive. Parecia que eu conhecia eles. Me senti em casa, uma coisa inexplicável.”

As duas filhas de Silveira, Taís, 33 e Tamara, 26, estavam presentes no dia do encontro. “Lembro que o pai estava ansioso por esse momento. Antes de chegar, paramos um pouco no carro para nos organizarmos”, diz.

“Vendo ele abraçar a família foi muito emocionante. Nos sentimos em casa mesmo. Uma família muito boa. Fizemos uma amizade muito fácil”. Ao mesmo tempo que foi um momento de alegria, Tamara lembra dos cuidados necessários, pois se trata também de tristeza para os Domann. “Para nossa surpresa, eles também estavam nos procurando.”

De frente com a morte
Momentos antes do transplante, o encontro com a equipe médica mostrou a gravidade do quadro de saúde de Silveira. Ele foi internado dia 25 de março e já teve o diagnóstico da necessidade do procedimento. O coração estava lento demais, faltava oxigênio para os outros órgãos.

A notícia é que ele teria no máximo um ano de vida caso não fizesse o transplante. Caso conseguisse, teria mais uns 15 anos de vida média. “Estava com os exames do procedimento na minha frente. Estava apavorado.”

Um exame de consciência começou nesses dias. Silveira relembrava os momentos em que se descuidou da saúde. “Foram vários arrependimentos. De não fazer o tratamento correto, de as vezes beber uma cerveja quando estava tomando remédios.”

Como o quadro era de risco de morte, foi colocado entre os primeiros na fila pela cirurgia. No dia 25 de abril foi informado de que havia um doador compatível.

Após assinar a documentação, foi duas horas de preparação para a cirurgia. Quando estava prestes a entrar no bloco cirurgico, ouviu uma conversa entre dois enfermeiros. Um deles pediu para esperar, que a família do paciente estava chegando para dar um tchau. “Ali caiu a ficha. Eu poderia entrar e não sair mais. Lembro que pensei: acho que vou morrer. Foi um choque.” Silveira entrou para a cirurgia em uma quinta-feira. Só acordou no sábado.

Vida quase normal
Depois do transplante, foram três meses em Porto Alegre, com visitas diárias ao hospital. O acompanhamento era necessário para verificar a reação do organismo ao novo órgão. Sem complicações, hoje pode fazer quase tudo que fazia antes.

A fraqueza de quando o coração não conseguia bombear oxigênio suficiente para os outros órgãos desapareceu. Hoje, Silveira voltou a viver. “Eu não conseguia caminhar, me mexer. Não tinha vontade de sair de casa. Agora consigo caminhar. Faço minhas tarefas com alegria. Voltei a ser quem eu era.”

Devido à imunidade mais baixa do que pessoas normais, tem restrições alimentares e não pode fazer muito esforço. “Antes eu caminhava com os amigos e ficava para trás. Me chamavam de preguiçoso. Eu não contava do meu problema. Agora são eles que ficam para trás”, conta.

Conscientização para salvar vidas

“Foi como se eu conhecesse eles”, afirma Lorival Silveira, que recebeu o novo coração em abril do ano passado

“Foi como se eu conhecesse eles”, afirma Lorival Silveira, que recebeu o novo coração em abril do ano passado

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