A segunda ligação do Vale com o sistema energético nacional representa condições para o desenvolvimento econômico e social. É o que afirmam líderes regionais, empresários e agentes públicos.
A linha de transmissão no distrito de Costão, interior de Estrela, está em fase de testes e entra em operação neste domingo, dia 5. O complexo é construído pela companhia indiana Sterlite Power Grid Ventures Limited. No valor aproximado de R$ 400 milhões, a estrutura terá 114 quilômetros e inclui duas novas subestações e a modernização de outras quatro no RS.
A subestação tem capacidade de gerar 166 megawatts de energia. De acordo com o diretor operacional da Certel, Ermani Mallmann, a estrutura duplica a capacidade energética regional.
É justamente a cooperativa de Teutônia a primeira concessionária a se ligar na nova subestação. O investimento da Certel alcança R$ 12 milhões.
Com a nova rede de alimentação, se minimizam os riscos de apagões. “Para nós, representa uma fonte de energia e a garantia de suprimento para o Vale. Não só para a Certel, outras operadoras também”, afirma o presidente da cooperativa, Erineo Hennemann.
De acordo com ele, com o investimento internacional no complexo, e o aumento da capacidade para o Vale, se garante o suprimento energético para os próximos 15 anos. Na primeira etapa, será ligada uma subestação. A cooperativa espera estar com toda a carga conectada na nova linha em fevereiro.
Alto consumo e o risco de racionamento
Caso não houvesse a obra, a chance de haver racionamento energia elétrica em 2020 era real, afirma Hennemann. Isso se deve ao aumento considerável no consumo. Milhares de agricultores, indústrias, comércios e mesmo a casa das famílias sofreriam com essa situação. “Seria um desastre para a nossa economia”, frisa o presidente da Certel.
Com a entrada em funcionamento da Subestação de Costão, essa probabilidade se afasta. “Agora temos condições inclusive de ampliar o consumo.” Na avaliação dele, a capacidade energética é um dos primeiros requisitos avaliados pelos investidores. “O Vale do Taquari se coloca em uma situação privilegiada em comparação com outras regiões. Essa é uma garantia de crescimento acima da média nacional”, aposta.
Para ele, a base para o desenvolvimento regional está em três pilares: infraestrutura energética, de comunicação e logística. “Com a autonomia energética, sem dúvida, vai incentivar a indústria e a economia regional.”
Olhar para o desenvolvimento
Para a presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento (Codevat), Cíntia Agostini, não há como pensar em crescimento econômico sem uma estrutura em condições para receber novos negócios e ampliar os empreendimentos existentes. “A energia é condição básica para o desenvolvimento. Contribui para o setor privado e também para a qualidade de vida da população.”
De acordo com ela, a região sofria uma constante pressão caso houvesse algum problema na linha de transmissão entre Lajeado e Nova Santa Rita. “Já temos perdas quando há quedas de energia. Imagina a implicação na economia caso houvessse um apagão.”
Conforme Cíntia, a segunda ligação reduz muito o risco de um blecaute. Esse é um indicativo esperado inclusive pelos investidores, reforça a presidente do Codevat, que também é economista. “Quando falamos em negócio, sempre se olha na perspectiva de minimizar riscos. Com a rede adicional, garantimos isso, além de fortalecermos a disponibilidade energética.”
Avaliação semelhante do presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT), Pedro Barth. “A preocupação de não termos energia nos acompanhou por muitos anos. Foram diversas lutas, dos líderes locais para garantir uma infraestrutura condizente com o tamanho da nossa região.” Para ele, agora se tem um quadro de segurança energética para o futuro.
O cenário nacional e a mobilização regional
O risco de um apagão era uma constante nas discussões da região desde os anos 2000. A mobilização para incrementar a infraestrutura local se fortaleceu a partir do esforço de diferentes organizações.
E justo no ano seguinte ao início dos debates, o país sofreu o primeiro apagão geral. A crise energética afetou a distribuição e o abastecimento. Ocorreu no dia 1º de julho. Foi um alerta mostrando a falta de planejamento nacional e de investimento em geração de energia, aliada com a falta de chuvas para alimentação das hidrelétricas.
Enquanto isso, o Vale do Taquari aproveitava o avanço econômico nacional de 1,42% para se organizar e mostrar ao Ministério de Minas e Energia e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a necessidade de ser construída uma segunda ligação na região.
A crise energética no país atrasou esse processo. Até que a partir de 2010 o projeto regional avançou. A previsão inicial era que a segunda ligação estivesse pronta em 2016.
Entre as organizações mais participativas para o processo de melhoria da infraestrutura regional estava a própria cooperativa Certel, com participação de entidades como a CIC-VT, Codevat, Associação dos Municípios (Amvat) e da Secretaria Estadual de Minas e Energia.
Para agilizar o processo e garantir a subestação, o presidente da Certel, Erineo Hennemann cita o apoio e mobilização política do então secretário Lucas Redecker. Para o início da operação, também destaca o atual secretário de Meio Ambiente, Artur Lemos, e da diretora-presidente da Fepam, Marjorie Kauffmann.