Sobre presenças e ausências

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

Sobre presenças e ausências

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Na semana do Natal a gente recebe tantas mensagens, pelas mais variadas mídias, que chega a dar nos nervos. Ok, quem envia está imbuído das melhores intenções. Me perdoem, então, aqueles que aproveitam as tais “festas” pra lembrar daqueles que ficaram esquecidos durante o ano todo. Mas, convenhamos, usar “listas de transmissões” pra falar da magia do Natal, do Deus Menino e do Ano Novo que virá é chato demais. Coisas da modernidade líquida. A vontade de se fazer presente, mesmo que seja por alguns instantes, na tela do celular do outro, supera tudo nessa época. Usando uma gíria dos anos 70, não tem “siflagrol” que chega. Por isso, tenho saudades dos cartões de Natal, que ficavam pendurados na árvore e que eram retribuídos com aquele sentimento de ter de revisar melhor a lista pro próximo ano. Dava trabalho, mas a Apae e outras entidades faziam uma graninha, botavam a turma a trabalhar e a gente se sentia ajudando.
Então, eu não quero falar aqui de espírito natalino, nem de renovar as esperanças e lero lero. Quero falar de vida, de encontro, de nascimento, pois é isso que vou comemorar nesses dias. É só nesta época que encontramos pessoas que seguiram seus caminhos por estradas diferentes das nossas. Irmãxs, sobrinhxs, parentes e amigxs, cuja presença antes constante, hoje é rara (e será mais rara a cada ano). Acontece que a gente cria uma expectativa monstruosa, uma vontade de fazer desses momentos uma redenção, uma espécie de “passa borracha” dos desencontros do passado. Daí, potencializa a frustração, que é inevitável. Difícil mesmo é lutar contra a natureza humana. A maturidade vai nos endurecendo e as diferenças vão se calcificando. Não tem como apagar as diferenças, menos ainda os conflitos que surgiram pelo caminho. O que a gente pode fazer é tentar criar uma peneira pra separar as coisas boas das coisas ruins. Tentar fazer valer um pouco do sentido daquelas mensagens, aquelas da “lista de transmissão”. Dar sentido mesmo, na prática, tirar da retórica e aplicar na ferida ou na cicatriz, aproveitando os encontros, cada vez mais raros, pois os desencontros serão inevitáveis.
Ter as ausências pra lembrar, ou pra esquecer ou mesmo pra sentir saudades. Ter as presenças pra desfrutar, aproveitando cada momento dessa incrível aventura de fechar um ciclo e, de cara, começar um outro.

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