As crianças da minha rua

Opinião

Bibiana Faleiro

Bibiana Faleiro

Jornalista

Colunista do Caderno Você

As crianças da minha rua

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Quase todo dia, quando volto do trabalho, faço o mesmo caminho até minha casa. Cumprimento alguns vizinhos na rua, mas nada de tão diferente acontece. Entro e o mundo lá fora fica para trás.

Mas, faz alguns meses que novos vizinhos vivem na casa em frente a minha. Da janela, vi inúmeras vezes as crianças brincando na rua. De bola, bicicleta, na chuva. Elas sabem os nomes dos meus cachorros, Simba e Balu. Às vezes até sentam na frente do portão para brincarem com eles.

Em uma dessas minhas voltas, era um dia quente de novembro. Já estava na metade da rua para atravessar, quando vi um menino de seis anos abanando pra mim. Era meu vizinho. Os pés descalços me lembraram a minha infância nessa mesma rua.

Aproximei-me e disse oi. Ele logo me deu algumas amostras de perfume que se perdiam em uma enorme sacola presa ao portão da casa dele. Disse que estava distribuindo, que era para eu levar. Agradeci, e perguntei seu nome – que eu ainda não sabia. Ele me respondeu e pediu o meu.

Pedi se ele estava há tempo ali, e ele disse que sim. A conversa acabou. Resolvi não insistir. Mas, quando fui seguir caminho, ele me deu mais uma amostra de perfume que eu levei comigo.

No dia seguinte, voltei no horário de sempre. Meu vizinho estava no mesmo lugar. Quando me viu, pegou depressa mais uma amostra dentro de sua sacola para me entregar. Não falou nada, mas ficou feliz. Eu agradeci, sorrindo.

Lembro que quando eu era criança, minha rua era a mesma, mas as pessoas que vivem nela não. Todo fim de ano as famílias organizavam uma festa de Natal. Um ano, na Copa do Mundo, fechamos a rua para assistir juntos ao jogo do Brasil, com pipoca e pinhão. As crianças também comemoravam o São João.

Para mim e meus irmão, aquilo era mágico. Esperávamos ansiosos para ajudar na decoração de cada evento. Toda aquela movimentação no fim da tarde, as pessoas reunidas, felizes. Hoje sinto saudade de quando fui criança. Uma saudade boa, feliz.

Sinto por termos acabados com essas tradições, e pelas crianças que não viveram elas. Mas, ao mesmo tempo, me dou conta de que essa rua está virando as páginas e criando novas histórias. Contadas pelas crianças que brincam na calçada. Talvez novas tradições irão surgir, que serão marcantes na vida delas. E tudo bem que essas mudanças aconteçam. Tenho certeza de que as lembranças dessa rua serão eternas e bonitas para quem passar por ela.

Agora, todo fim de tarde, ando de vagar olhando a redondeza. Só esperando o sinal de novas crianças para continuarem a história.

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