Trem dos Vales – Adeus ou até breve?

Desafio de tornar o trem permanente

Trem dos Vales – Adeus ou até breve?

Em dois fins de semana, oito viagens e mais 5 mil visitantes. Cidades de Guaporé e Muçum comemoram o movimento e o impacto na economia. Agora, Amturvales traça estratégias para que os passeios de Maria Fumaça sejam constantes e um diferencial para o turismo da região

Por

Trem dos Vales – Adeus ou até breve?
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A temporada 2019 do trem turístico terminou nesse fim de semana. Dos oito passeios ficou a certeza do interesse dos turistas em conhecer as belezas do trajeto entre Guaporé e Muçum. Por túneis, viadutos, a visão dos morros e vales encantou os visitantes. “É um marco para a nossa região”, afirma o presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), Leandro Arenhart.
A estimativa da associação é tornar o passeio efetivo. O coordenador do projeto, Rafael Fontana, um diagnóstico sobre o trem turístico será apresentado até novembro à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e à Rumo Logística, concessionária da malha ferroviária. “É um material extenso e complexo. Vamos encaminhar no próximo ano e esperamos, se tudo der certo, a liberação para uso turístico para 2021”, afirma Fontana.
Os passeios deste ano foram um teste, diz. Pelo sucesso de público e também por não ter ocorrido nenhum incidente, há um indicativo de que será possível tornar a atração permanente.
Para tanto, está em elaboração um diagnóstico sobre as necessidades da região. Uma empresa foi contratada e trabalha neste material. No estudo, haverá detalhes sobre questões de segurança no trajeto, de melhorias na ferrovia, de potencial financeiro e de contratações, como maquinistas, mecânicos e atendentes.
Para tanto, outro movimento deve ocorrer em paralelo. A busca por parceiros e investidores. A ABPF contribui com uma seleção de locomotivas e vagões que podem ser restaurados e operem dentro da infraestrutura disponível na região.
O projeto é idealizado pela Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales). Tem apoio da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e da Rumo Logística. Também tem a parceria das prefeituras de Colinas, Dois Lajeados, Estrela, Guaporé, Muçum, Roca Sales e de Vespasiano Corrêa.
Para o futuro, intenção da Amturvales é captar investidores externos e ampliar o roteiro de Guaporé a Estrela, passando por outras cinco cidades.

2019_09_10_Juremir Versetti_Chinelagem Press_Trem Turístico_Principal (4)

Trecho entre Guaporé e Muçum tem 17 viadutos e 23 túneis. Passeio dura em média 2 horas e meia. Para as oito viagens deste ano, os ingressos se esgotaram em menos de dois dias

Sonho nascido faz 20 anos

De acordo com Arenhart, o Trem dos Vales é uma ideia trabalhada faz duas décadas. Os passeios deste ano, diz, foram uma conquista à região. “Recebemos pessoas de várias cidades e de outros estados. Como foram os primeiros, havia o risco de problemas, de erros. Mas não, foi tudo perfeito.”
De acordo com ele, o movimento no comércio, nos restaurantes, nos cafés coloniais e nos hotéis são evidências de como o turismo regional ganhará com a atração permanente do trem. “Temos uma população empreendedora, um povo acolhedor.
Todos ansiosos para que esse projeto seja efetivado.”

Expectativa nos negócios

A esperança de tornar as viagens permanentes fica evidente com os empreendedores. Proprietário de um hotel em Muçum, Tiago Marchetti, realça o potencial turístico da região. “Nossa expectativa é a melhor possível. Estaremos preparados para ate nder os visitantes da melhor maneira possível para desfrutarem de um dos passeios de trem mais belos.”
Com capacidade para atender 40 pessoas, o empreendimento teve mais de 90% de ocupação nos dois fins de semana do passeio. “Foi uma procura muito significativa. Muitos nos contataram inclusive para saber como comprar as passagens e também a frequência do passeio.”
De acordo com ele, as pessoas vieram de Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul entre outras cidades. “E todos elogiando muito. Estavam encantados com as belezas da região e com a hospitalidade do povo. Inclusive disseram estar entusiasmados para os próximos passeios para que possam trazer mais familiares e amigos.”
Já no quiosque de Loraine Marchetti, o movimento também foi maior. “Mas poderia ser melhor. Choveu muito no sábado. Isso afastou as pessoas que vem para ver o trem chegar ou partir.”
Ainda assim, houve crescimento nas vendas de almoço. “Não paramos para calcular ainda, pois segunda é nossa folga. Mas sem dúvida teve um retorno bem positivo”, diz.
Já em Guaporé, o proprietário de um hotel, Valdecir Rech, também registrou mais movimento, em especial no primeiro fim de semana. “O trem contribui muito para a região. Se virar permanente, toda a região vai ganhar”, acredita.

IMG_0368

“O que fica é saudade”
Pelas informações da Amturvales, 60% dos turistas são de outras regiões


Diretor da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, Marlon Ilg, foi um dos maquinistas da locomotiva. “Foi uma experiência maravilhosa. O Vale do Taquari merece ter passeios permanentes. Mas agora, até a aprovação do projeto, o que fica é saudade.”
Para ele, os testes desse ano foram surpreendentes. “Não imaginávamos que haveria tantas pessoas interessadas. Venderíamos o dobro de ingressos, sem dúvida.”
Foram 600 lugares por viagem. Foram 13 vagões o que impactou em um mais de 1,2 mil pessoas por dia nas cidades de Guaporé e Muçum.
Os ingressos começaram a ser vendidos no dia 15 de junho e custavam R$ 95. Menos de 36 horas depois, já estavam esgotados. A locomotiva Maria Fumaça está em deslocamento para a região das Missões. Chega amanhã em Santo Ângelo, para os passeios do município a Catuipe e Ijuí.

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais