Para cada gaita, uma história

Jardim do Cedro

Para cada gaita, uma história

A oficina de gaitas da família da Luz já é um dos únicos estabelecimentos do ramo na região. Iniciada por Benjamim, hoje o trabalho é continuado pelo filho, Luciano

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Para cada gaita, uma história
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Em uma casinha do bairro Jardim do Cedro, uma pequena oficina foi criada no início dos anos 2000. É lá que Luciano da Luz, 49, dá continuidade ao trabalho de restauração de gaitas, um dos únicos do município e região, começado pelo pai, Benjamin da Luz. O gosto pela música que acompanha Luciano veio do exemplo dele que, aos 12 anos, já tocava gaita.
 
A família vivia na cidade de Três de Maio. Benjamin trabalhava em uma empresa de Santa Rosa, que fabricava gaitas. Curioso, interessou-se por muitos processos nessa fabricação e quando a empresa fechou, ele e mais dois colegas foram os últimos a sair.
 
A partir de então, carregava consigo inúmeros conhecimentos e decidiu abrir a oficina assim que chegou a Lajeado.
 
Na conversa com vizinhos e amigos, fez seu nome e atendeu clientes que ainda hoje frequentam o lugar. Luciano começou a ajudar o pai em 2005, aos 28 anos, depois de ter passado alguns anos operando o som de bandas pela região.
 
Assim que se juntou à oficina, Benjamin fazia os reparos e Luciano afinava os instrumentos. “Eu tenho essa questão musical, entendo da parte teórica do som também”. Coisa que o pai nunca aprendeu. Mesmo em contato com a gaita desde cedo, a aptidão de Luciano nunca foi tocá-la. Por outro lado, costuma se sair bem na guitarra e violão.
 
Faz cerca de dois anos que Benjamin morreu. Depois disso, muitos clientes e vizinhos acreditavam que a oficina de gaitas fecharia. Mas Luciano e a mãe, Maria de Lourdes de Luz, 59, não deixaram as portas do lugar fechadas e ainda hoje trabalham juntos no restauro dos instrumentos.
 
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Maria de Lourdes lembra que desde que o marido abriu a oficina, ela ficou responsável por colar o tecido dos foles. “No início era bem difícil, mas agora já estou acostumada, levo menos tempo”, explica. Quando Benjamin tocava o instrumento, ela acompanhava dançando.
 
Em uma noite, a cantora e acordeonista Mery Terezinha estava em Lajeado para se apresentar em uma festa. Mas a gaita que tocava havia estragado, e ela correu até a oficina do casal da Luz para pedir a reforma, urgente. “Fizemos tudo em três horas, entregamos perto da uma da manhã”, lembra Maria de Lourdes.
 

As histórias

Trazido ao Brasil da Europa, o instrumento tradicional possui diferentes nomes pelo país. Os gaúchos o conhecem por gaita, mas ele também se identifica como acordeon e pode ser dividido em alguns tipos.
 
Por ser um instrumento caro e de grande vida útil, muitas gaitas passam de geração para a geração nas famílias. Por isso, mais do que produzir sons e compor melodias, elas carregam histórias que são contadas a cada vez que um cliente chega na oficina da família da Luz.
 
“No início eram homens mais velhos que vinham. Contavam que ganharam dos pais ou que a gaita era do avô. Às vezes fico mais tempo ouvindo as histórias do que trabalhando”, ressalta Luciano. No últimos tempos, as crianças também começaram a procurar a oficina, e é cada vez mais comum encontrá-las em meio à música. “Quem perpetua esse instrumento aqui é a música gauchesca”, define.
 
 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

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