“Ser professor é trabalhar com a vida”

Caravana PENSE

“Ser professor é trabalhar com a vida”

A esperança permanece viva dentro das escola. A missão do professor é manter a humanidade. Facilitar o desenvolvimento das aptidões individuais, nas diversas etapas da vida. Estar presente na escola, apoiar os professores e dialogar com os alunos. Nesse tripé se sustam as caravanas do PENSE. A Hora, Sicoob, Amvat, Cron, Univates, 3ª CRE e Instituto Dale Carnegie, vão aos colégios, para uma série de atividades. Nesta edição, os eventos ocorreram em Encantado e Arroio do Meio

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“Ser professor é trabalhar com a vida”
Vale do Taquari

As mãos de Rosemeri Radaelli, 55, carregam mais do que giz, a chamada e os cadernos de História e Geografia. Há 15 anos trabalha como professora no Instituto Monsenhor Scalabrini, em Encantado. Tornou-se diretora e neste ano anunciou a saída. O movimento para demovê-la da ideia foi incisivo. Alunos resistem a troca e mantêm a esperança de que ela permaneça.

Durante a 8ª Caravana do PENSE, o presidente do Grêmio Estudantil do colégio e aluno do 2º ano do Ensino Médio, João Gabriel Brandão, 17, homenageou, em nome das turmas, a professora, com a leitura de uma cartinha e a entrega de flores.

“A professora Rosemeri é uma pessoa muito especial, ela marca cada aluno, porque se preocupa e sempre quer o nosso melhor, não queremos que ela saia”, resume.

João Gabriel Brandão

Nos anos de estudante, Rosemeri cursou o Ensino Médio também na Monsenhor Scalabrini e, já formada em magistério, voltou alguns anos mais tarde para lecionar. “É um desafio diário, principalmente para administrar o choque de gerações”, lembra. Com as novas tecnologias, ela decidiu entrar nos grupos de twitter para acompanhar os alunos e poder entendê-los um pouco melhor.

Além disso, circula pelo pátio no recreio para se aproximar dos estudantes, para que se sintam confortáveis de procurá-la se tiverem problemas, ou mesmo se quiserem apenas conversar. “Às vezes nós temos ideias diferentes, mas no fim sempre conseguimos nos entender”, conta Rosemeri.

Esse contato diário traz muitas recompensas. A gratidão por ser professora e ajudar os jovens, perceber a evolução dos alunos tanto no conhecimento quanto na formação do caráter e dos valores. “Algumas pessoas dizem que esta juventude está perdida. Eu não acho, eles sabem o que querem”, afirma.

Quando decidiu o que estudar, ser professora era o caminho mais indicado às mulheres. Depois de entrar nas salas de aula, no entanto, se apaixonou ainda mais pelo ofício. Hoje, não imagina a possibilidade de ter escolhido outro caminho.

Carinho e Reconhecimento

Se preparando para o último ano da escola, João Gabriel Brandão compara o papel do professor a uma escada. “Eles nos levam, degrau por degrau, até chegarmos no topo e estarmos preparados à vida lá fora. A nossa base são eles”, acredita.

Desde que começou a estudar, nas séries iniciais, lembra de duas professoras que o marcaram. “Uma no fundamental, e uma no ano passado, que me deu um voto de confiança, disse que eu ia conseguir ir para o 2º ano e ser um bom aluno”.

Com histórias parecidas, Eduarda Gonçalves, 16, do 2º ano do Ensino Médio também teve professores que a marcaram. “Eu tive um relacionamento muito bom com uma professora que me dava muita atenção. Logo que eu comecei a ler e escrever, eu tinha algumas dificuldades e ela teve paciência, não desistiu de me ensinar, isso é algo que eu levo para a vida”, lembra.

Depois de ter participado das atividades do PENSE, conta que o incentivo dado por meio do projeto é importante, principalmente na comunicação. “Nós precisamos disso, porque vamos entrar no mercado de trabalho, geralmente sem experiência. Com certeza abriu nossos olhos para esse preparo e dedicação”.

Ela vê o professor como um personagem que ensina muito mais do que Matemática ou Português, mas prepara cada aluno para enfrentar as barreiras. “Como na própria profissão deles, percebemos que nada é fácil e simples de conquistar”, lembra.

A colega Michele Nohatto, 17, considera o professor um guerreiro. “Eles passam por diversas dificuldades e estão sempre disponíveis para ajudar os alunos a serem melhores.”

No 1º ano do Ensino Médio, conta, os estudantes tiveram dificuldade em uma disciplina. No ano subsequente, com a troca de docente, conseguiram recuperar o conteúdo. “Revisamos as lições que tínhamos dificuldade e isso facilitou bastante. Foi muito importante para a gente.”

João Pedro Gonzatti, 18, está no 3º ano do Ensino Médio. Há um ano no Instituto Monsenhor Scalabrini, avalia o professor como peça fundamental no ensino. Para ele, os mestres precisam ser mais valorizados, pois todas as atividades profissionais precisam do professor. “Eles nos incentivam muito também por meio de projetos, como Mostra de Trabalhos ou a Feira do Livro”, acrescenta.

Além disso, os professores são exemplos para os alunos, de comportamento, valores e ações, e isso é um dos ensinamentos que Gabriele Felekircher, 17, da 1ª série do Ensino Médio vai levar com ela para a vida.

Amor pela profissão

Nas paredes do colégio, cartazes levam mensagens de carinho, amor e incentivo. Muitas dessas frases surgiram nas aulas. Professora de Matemática para o Ensino Médio da Monsenhor Scalabrini, Liziane Cristine Sonda Zenere, 39, conta que desde pequena viu a profissão com um desafio do qual gostava muito, e que ia além de ensinar.

“Ser professor é trabalhar com a vida que está a todo instante em mudança. São desafios diários que no exigem mais do que o diploma e conhecimento”, realça.

Liziane Zenere

Para ela, é um aprendizado constante acordar todos os dias e ter a responsabilidade de guiar a vida de tantos alunos diferentes. Por isso, a valorização não vem só por meio econômico, e também pelo reconhecimento de uma luta diária para transformar muitas pessoas pelo conhecimento.

“Eu leciono Matemática faz 11 anos aqui, e por mais que o professor venha com a aula preparada, a cada dia é um aprendizado novo, porque são muitas vidas diferentes, tempos de aprendizado diferentes e crenças diferentes. Essa troca é muito gratificante”, conta

Avalia que algumas famílias não adotam a educação como prioridade. Também há um impacto tecnológico nas relações humanas. “Tudo passou a ser momentâneo. Isso é diferente da construção do conhecimento. Esse exige tempo e esforço para ser transformador.”

“Eu vejo que nesse contato há muitas histórias de superação. Têm alunos que precisam sair de casa às 5h30min para chegar à escola. Pais e filhos que multiplicam esse ambiente trabalhado aqui. Entendem que a escola é um espaço para ações de carinho e de acolhimento”, diz.

Aprendizes da vida

Em abril deste ano, a professora Marina Invernizzi, 26, começou a lecionar História e Geografia no Instituto Monsenhor Scalabrini. Conta que vê uma dificuldade em fazer os alunos se conectarem com os assuntos propostos e ensinados.

“As escolas recebem eles muito jovens, geralmente essa é a primeira interação social deles. É importante que percebam que o que ensinamos aqui, eles devem levar para a vida”, comenta.

Segundo ela, os professores não têm um dom, mas afinidades com o que ensinam, e é isso que faz a diferença. “O pedreiro coloca um tijolinho, o professor ensina o beabá, e os dois são importantes”, compara.

Lembra que muitos alunos e famílias fazem um grande esforço para estarem na escola, porque muitas vezes não tem nem café da manhã. “Eu vejo que a maior dificuldade na educação hoje é que as pessoas têm uma descrença que o conhecimento modifica a sociedade. Enquanto não acreditarem nessa mudança, as coisas vão continuar iguais”, comenta.

O  PENSE procurou levar ao Guararapes, a valorização do professor por meio de  palestras

O PENSE procurou levar ao Guararapes, a valorização do professor por meio de palestras

PENSE em Arroio do Meio

Alunos e professores da Escola Guararapes e Bela Vista se reuniram na quadra de esportes à 7ª Caravana do PENSE. O momento foi para troca de experiências, de histórias de transformação por meio do conhecimento e da importância da Educação para uma sociedade mais justa, fraterna e crítica.

Assim como para os alunos, a escola é também lugar de crescimento para o professor. Natural de Forquetinha, Daiane Cristina Appel, 22, leciona Língua Portuguesa e Literatura para o 1º e 2º ano da Escola Guararapes há um ano.

“Como eu venho de uma cidade pequena, não tinha muitas oportunidades, eu vi no Inglês e no Português o que eu queria fazer, e sou realizada com isso”, obstina-se.

Encontro também foi para a saúde do professor durante a Caravana do PENSE em Arroio do Meio. Palestra foi com o CRON e Dale Carnegie

Encontro também foi para a saúde do professor durante a Caravana do PENSE em Arroio do Meio. Palestra foi com o CRON e Dale Carnegie

Avalia que a superlotação das salas de aula e a diferença de perfis dos alunos os maiores desafios. “Muitas vezes, são 20 ou 30 crianças ou adolescentes com suas próprias questões. O professor precisa saber lidar com as necessidades de cada um.”

“Como precisamos trabalhar muitas horas por dia, às vezes o tempo é curto para prepararmos algo diferente, mas sempre damos o nosso melhor, e por isso, a profissão sempre vai ser um desafio”, afirma.

Conta que se sente muito feliz quando vê o empenho dos alunos para escrever um texto que mostra quem eles realmente são, e acredita que a maior conquista é poder sair de uma sala de aula sorrindo.

“Assim também quando eu indico um livro e consigo mostrar que a leitura é importante, vejo que eles têm aquele brilho no olho e querem comentar sobre o que leram, isso é muito gratificante”, lembra.

Magda Fonseca

Exemplos que transformam

Para a professora Magda Cristiane Fonseca, 34, da Escola Bela Vista, de Arroio do Meio, a história se repete. Na época em que começou a faculdade, as condições de pagar uma graduação eram difíceis, e ela teve que esperar depois de terminar o Ensino Médio para voltar a estudar. Usou esse período para pensar no que gostaria de fazer, e sempre considerou a profissão de professor muito bonita.

“Eu sempre valorizei os meus professores, então acabei optando pela licenciatura em ciências exatas na Univates, onde me especializei em Matemática, Química e Física”, lembra. Com isso, ela abriu portas pela educação. Magda sente a falta de respeito em relação ao professor, mas acredita que a maior valorização é o aprendizado dos alunos e da relação com eles.

“É tão bom reencontrar os alunos que já dei aula e ver que estão bem encaminhados, estudando e quando dizem que se lembram das nossas aulas fico muito feliz. Mesmo que eles já tenham saído da escola, ainda nos preocupamos”, conta. Ela também acredita que quando se consegue ser um exemplo para tantas pessoas é uma das melhores coisas da profissão.

Mais do que aprender

Nos primeiros anos de escola, Natália Gräaff, 16, lembra que uma das professoras contava histórias nas aula, e que isso fazia com que eles criassem uma ligação com ela. Hoje, no 1º ano do Ensino Médio da Escola Guararapes, ressalta a importância do professor para além da sala de aula. “Eles nos ensinam sobre a vida por meio de suas experiências, e só somos boas pessoas por meio deles. Quantas crianças estariam nas ruas se não fosse pela escola”, comenta.

Lembra de atividades anteriores. Como quando estava no 9º ano na Escola Arlindo Bach. A professora de Artes dava as aulas de forma criativa. “Ela tinha outros modos de ensinar, era muito querida, nós tínhamos uma conexão muito boa com ela”.

Taís Bruismann

A colega Taís Bruismann, 16, da 1º série do Ensino Médio do Guararapes, também vê o professor como peça fundamental do ensino, e acredita que a profissão deveria ser mais valorizada e respeitada.

“Nós somos o futuro, e tudo o que eles nos ensinam, levamos para a vida. Mas se não os tratamos com respeito, eles perdem a motivação”, lembra.

Na escola Bela Vista, o professor também exerce seu papel da melhor forma possível, e isso é reconhecido por alguns alunos. Victória Marcondes, 15, do 9º ano, acredita que a função do professor vai além dos ensinos didáticos, e passa pelo comportamento, pela vivência em sociedade e pelo carinho.

“Falta respeito e comprometimento da sociedade e alunos com eles. Eu tive uma professora que mesmo fora da escola, me ajudava sempre que eu precisava. Eles são a nossa base”, lembra.

Engajamento e união

Para a 7ª e a 8ª Caravana do Projeto PENSE, o grupo A Hora fez a abertura na manhã, com a fala dos diretores em nome da equipe, sendo acompanhado do Sicoob, Cron, Dale Carnegie e Univates, com o apoio da 3ª Coordenadoria Regional de Educação. Seu objetivo principal é estabelecer uma relação permanente com professores e alunos das escolas do Vale do Taquari, estimulando a evolução profissional e a melhoria do bem-estar nas escolas.

Entre os temas abordados, questões ligada à saúde do professor, ao desenvolvimento de lideranças, à comunicação, determinação e busca de sonhos, à solidariedade e ao incentivo ao cuidado do corpo por meio de exercícios físicos.

Equipe de ginástica olímpica da Univates participou da caravana na Guararapes, em Arroio do Meio

Equipe de ginástica olímpica da Univates participou da caravana na Guararapes, em Arroio do Meio

Para isso, nas Caravanas estiveram presentes os profissionais Luciani Beatriz Klamt Valentin, do Sicoob, Dr. Renato Cramer e Dr. Hélio Fernandes, do Cron, Henrique Kuhn e Luciano Brum Rohr, do Dale Carnegie, a equipe de ginástica da Univates, coordenada por Marcos Minoro e a equipe de exercício funcional da Univates.

As inscrições para o Pense se encerraram no dia 20 de outubro, com 24 projetos de escolas, 24 de professores e 48 de alunos, que serão avaliados pelo Comitê responsável, formado por profissionais da Univates.

A entrega da premiação da primeira edição será em março de 2019, aproveitando o início do ano letivo. O evento ocorrerá no Centro Cultural da Univates.

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