Duas senhoras encaravam o sol escaldante da tarde dessa quinta-feira no cemitério católico do bairro Florestal para preparar as homenagens a quem já não está mais entre nós. Querida Krohn limpava o túmulo do falecido marido, Selmo, e trocava as flores. Era ajudada pela vizinha e amiga inseparável Ivone Ahlert.
“Sempre venho nos finados e durante o ano também para limpar o túmulo”, relata. Selmo morreu em 2014. Ele trabalhava em cemitério, abrindo túmulos, colocando lápides. “Um serviço pesado”, define a viúva. Foi durante o trabalho que ele sofreu um derrame e não resistiu. Ficaram para Querida as boas lembranças do marido.
Alguns metros ao lado, João Johann limpava um túmulo com água, sabão e esponja. Sempre na véspera de Finados, ele vai ao local homenagear os pais. Para ele, ir ao cemitério é uma forma de lembrar bons momentos em família. “Tu recorda toda uma vida. É uma forma de agradecer e fazer uma oração para eles. A gente como cristão tem essa fé de que eles possam estar em lugar melhor.”
João é o único de sete irmãos que permanece na região e tem a manutenção do túmulo como um compromisso de família. Criado em Lajeado, hoje ele vive em Arroio do Meio. Sempre que algum dos irmãos vem visitá-lo, o túmulo dos pais é parte do roteiro.

Três vezes por ano, João visita a sepultura dos pais
A reconstrução
Dois meses após encontrar a lápide do túmulo do pai Anilo derrubada, Deise Schulte voltou ao cemitério com flores para enfeitar a sepultura. No fim de agosto, ela foi umas das lápides vandalizadas no cemitério da comunidade luterana do bairro São Bento.
Na véspera do Dia de Finados, pelo menos 30 permaneciam danificados.
“Por sorte não quebraram o túmulo do meu pai, só derrubaram. A gente fica muito triste. Não sei o que passa na cabeça dessas pessoas”, lamenta Deise. Na mesma manhã, ela e a mãe foram ao local e providenciaram o conserto.
A lápide foi recolocada e recebeu um reforço com peças metálicas. Para a filha única de 34 anos, visitar o cemitério é como uma obrigação. “Ele é meu pai, se eu não fizer quem vai fazer por ele? Eu nunca deixaria de vir.”

Todos os anos, Querida Krohn enfeita o túmulo do marido
“Eu venho mesmo com a muleta”
Nelda Becher se criou no São Bento e hoje vive no bairro Igrejinha. O percurso de cerca de meia hora não a impede de ir ao cemitério no bairro São Bento para visitar os túmulos dos parentes. No local, estão enterrados os pais, avós, tios, amigos e um sobrinho.
Todos os anos ela prepara os túmulos para o Dia de Finados também no cemitério do bairro Olarias. “Eu venho mesmo com a muleta. Tem gente que está caminhando normal e não vem. Ou vem para quebrar as coisas”, critica.
Nelda acredita que muitas pessoas ainda não fizeram o conserto por medo de que o vandalismo volte a se repetir. Para ela, é uma tristeza ver os túmulos quebrados. “Nem morto a gente pode descansar. É uma vergonha”, lamenta.
Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br