Ventos acima de 140 km/h deixam rastro de destruição

Vale do Taquari - temporal atinge o vale

Ventos acima de 140 km/h deixam rastro de destruição

Especialista suspeita que algumas localidades da região possam ter sido atingidas por um tornado. Casas destelhadas, árvores arrancadas, postes caídos e danos diversos nas propriedades rurais. Esse foi o cenário encontrado pelo Vale do Taquari após a tormenta que caiu sobre a região na noite dessa terça-feira. Conforme a Metsul Meteorologia, na estação de monitoramento em Teutônia, a força das rajadas de vento alcançaram 142 km/h. Conforme estimativa da Defesa Civil, mais de 100 imóveis tiveram avarias. Previsão para hoje volta a ser de chuva, com chance de temporais localizados

Ventos acima de 140 km/h deixam rastro de destruição
Vale do Taquari

Reunida com a família dentro de casa, Ilda Maria Fachini não tinha ideia do impacto do vendaval. Ouviu alguns estalos e pensou que fossem as telhas quebrando. O marido, Ângelo, foi à rua e voltou com a notícia: “o aviário está no chão.”

A estrutura de 112 metros quadrados foi toda destruída pelo vento. O meio do telhado caiu até o solo, dividindo o local em duas partes. “Não deu cinco minutos. A gente lamenta porque é uma vida toda de trabalho e foi tudo”, afirma.

No aviário, a família tinha 25 mil frangos, eles calculam que cinco mil tenham morrido. O prejuízo está estimado em R$ 250 mil. O seguro cobre apenas parte do prejuízo. “Vamos ter que fazer financiamento para reconstruir, mas já estamos cheios de financiamentos”, lamenta Tiago Fachini, filho do casal.

Diversos municípios do Vale do Taquari registraram prejuízos com o temporal da noite da terça-feira, 30. Postes e árvores caídos, casas destelhadas, falta de luz e estabelecimentos comerciais danificados foram as ocorrências mais comuns. De acordo com a Defesa Civil, Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Teutônia e Westfália foram os mais afetados.

Ângelo Fachini, produtor rural de Linha Geraldo, interior de Estrela, observa o aviário destruído. Segundo a família, o prejuízo estimado alcança R$ 250 mil. Mais de cinco mil aves também morreram

Ângelo Fachini, produtor rural de Linha Geraldo, interior de Estrela, observa o aviário destruído. Segundo a família, o prejuízo estimado alcança R$ 250 mil. Mais de cinco mil aves também morreram

Um temporal raro

Na tarde de ontem, o feriado não foi de descanso para os Fachini. O mutirão reuniu 20 pessoas na propriedade, na Linha Geraldo, em Estrela.

A família recebeu ajuda de vizinhos e parentes, que vieram de Encantado assim que souberam dos estragos. Eles tentavam abrir caminho para que se pudesse pegar os frangos e levar para outro aviário. Dois caminhões aguardavam desde o fim da manhã para fazer o transporte.

“Nunca vi um temporal vir deste lado. Normalmente o vento vem do sudoeste ou norte, desta vez, vinha do sudeste”, relata o vizinho Eloi Valdir Fiegenbaum, morador de Linha Geraldo faz 51 anos.

Foram vários temporais vivenciados ali ao longo dos anos, mas nunca Ilda tinha visto um estrago deste tamanho. Com o olhar incrédulo fixo nos escombros, ela conta qual a primeira providência a ser tomada. “Primeiro esfriar a cabeça, porque pensar de cabeça quente não funciona. O susto foi grande, mas a gente recupera os materiais. Se acontecesse alguma coisa com uma pessoa, seria bem pior.”

Pode ter sido um tornado

A força do vento e a destruição em pontos localizados podem indicar a ocorrência de um tornado, segundo o diretor de comunicação da Metsul Meteorologia, Alexandre Aguiar.

De acordo com ele, imagens de radar e mesmo fotos de árvores danificadas, como se tivessem sido “decepadas”, confirmam esse tipo de fenômeno. “O tornado se manifesta em poucos segundos”, afirma.

O mais provável, diz Aguiar, é que a região tenha sido atingida por ventos destrutivos. Esse tipo de fenômeno é mais duradouro. “Um vendaval com rajadas acima dos 100 quilômetros por hora pode ter mais de dez minutos de duração.”

Segundo ele, o calor acima dos 34ºC na tarde de terça-feira favoreceu a formação de nuvens de tempestade carregadas. Na estação meteorológica em Teutônia, na localidade de Linha Welp, os ventos chegaram a 142 km/h.

Empresários buscam uma sede provisória à gráfica

Empresários buscam uma sede provisória à gráfica

Gráfica destruída em Estrela

Estrela registrou os maiores prejuízos no Vale do Taquari. A fábrica da Rola Moça teve parte do telhado arrancado, mas a produção não foi afetada. Na Languiru, também foram registrados danos. No bairro Pinheiros, uma gráfica foi destruída. Evandro Schuck, sócio da empresa, relata que os vizinhos ligaram assim que o temporal passou.

A princípio, a informação era de que o prédio havia sido destelhado. Quando chegou, Schuck viu que o estrago era bem maior. Três pilares, o telhado e o portão foram arrancados. A chuva molhou as máquinas e inutilizou toda a matéria-prima, chapas de alumínio, adesivos, banners. O carro da empresa, que estava no local, também ficou danificado.

“Não conseguimos calcular ainda porque não sabemos se foram afetadas as máquinas de impressão e acabamento. Se máquinas foram danificadas, o prejuízo passa longe de R$ 250 mil.”

A unidade foi inaugurada faz apenas seis meses. Os empresários conversam com o governo sobre a possibilidade de um espaço cedido para que a gráfica se instale provisoriamente. Uma possibilidade é o antigo prédio da Polar.

“Agora é botar a casa em ordem, levar as máquinas para outro lugar pra retomar o funcionamento da empresa”, afirma.

Em uma transportadora no km 351 da BR-386, o telhado só não foi inteiro ao chão porque ficou escorado em quatro caminhões e um motorhome que estavam estacionados. Darci Werner, proprietário, afirma que o prejuízo não foi maior porque havia pouca mercadoria no local. “Às vezes eu tenho 15 cargas ou mais aqui dentro. Poderia ter sido bem pior. Se fosse durante o dia, tinha gente trabalhando.”

Casa condenada em Lajeado

A partir da meia-noite, as equipes do Corpo de Bombeiros de Lajeado trabalharam quase sem folga. Na rua São Leopoldo, próximo ao estádio do Lajeadense, uma árvore de 15m caiu sobre uma casa antiga. A residência, onde moravam cinco pessoas, foi condenada.

A maior parte dos incidentes foi de árvores caídas sobre vias ou residências. Em razão do temporal, o telefone 193 chegou a ficar fora do ar durante a madrugada, mas voltou a funcionar.

O sargento Daniel Borges relata que foram mais de 15 chamados até o meio da tarde, mas perdeu a conta das ocorrências atendidas ao todo. “A gente se deslocava para atender a um chamado e se deparava com mais duas ou três situações no caminho.”

Prejuízos no São Cristóvão

Volmir Rosa, 29, foi testemunha ocular do que chama de “minitufão”. Ele viu a força do vento destruir a fachada da Farmácia São João. “Estava fechando a porta quando desabou tudo. Por sorte bateu no vidro”, relembra.

Ele afirma que o fenômeno durou menos de um minuto, tempo suficiente para arrancar também a placa publicitária do Maxxi Atacado e arremessá-la ao outro lado da avenida Senador Alberto Pasqualini.

Em meio ao caos, a moradora Odila Mallmann teve tempo apenas para rezar e pedir proteção divina. “Acabou a luz de repente e parecia que tinha pedras caindo. Pensei que iria arrebentar tudo”, relembra. No prédio onde mora, parte do telhado foi arrancada. A água invadiu um dos blocos e causou uma pequena inundação nos corredores.

previsão do tempo

Na Roses Fotos, o vento destruiu um dos vidros e arrancou o toldo publicitário. “Fui avisada só de manhã. A loja ficou aberta toda a noite, mas por sorte ninguém entrou”, comenta a proprietária Rose Rodrigues. O prejuízo é estimado em mais de R$ 5 mil.

Jogo ainda mais tenso

“Preteou tudo e só vi um furacão vindo”. Assim o proprietário do Engenheiro da Pizza, Nelson Gudiel, define a tempestade de terça-feira. Em poucos segundos, a força do vento levantou os toldos e arrancou mais de cem telhas do estabelecimento.

Cerca de 40 pessoas acompanhavam o jogo entre Grêmio e River Plate. O público teve de se abrigar no banheiro e na cozinha. “O vento era tanto que não tinha onde se agarrar”, relata.

Em Cruzeiro do Sul, uma vaca morta

Sampaio, Picada Müller, Picada Aurora e Picada Augusta foram as regiões mais prejudicadas em Cruzeiro do Sul. Ao todo, mais de 50 postes de luz caíram no município, de acordo com a Defesa Civil. Em Picada Müller, o teto de um galpão desabou, matando uma vaca. Até o fim da tarde dessa quarta-feira, parte da cidade ainda estava sem luz.

Fábio Kuhn: fabiokuhn@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br
Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br

 

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