A viagem organizada pelo A Hora para traduzir nas páginas do anuário TUDO diversas soluções nas áreas do empreendedorismo, saúde, preservação do patrimônio histórico, turismo, saneamento básico, serviços públicos, educação, agricultura e outros pilares da nossa sociedade local alcança a segunda semana.
Nestes 14 dias de imersão pelas cidades portuguesas e alemãs, a reportagem visitou modernos parques tecnológicos, fábricas de startups, incubadoras e portos fluviais. Também testou diferentes sistemas de transporte público, cobranças de pedágios, e ainda verificou novos modelos de recolhimento de lixo e destinação dos resíduos, e geração de energia sustentável.
O roteiro iniciou na capital portuguesa, Lisboa, cidade que nos últimos anos vem recuperando prédios históricos como forma de monetizar a cidade. Deixada de lado pelos turistas por décadas, Portugal vê no turismo, hoje, uma das principais fontes de riqueza. E a maior parte dessa monetização se resume à preservação dos próprios patrimônios. Para tal, leis municipais exigem a manutenção de fachadas e outras edificações.
Uma das principais facilidades em Lisboa é o serviço de transporte público, realizado em sinergia por trens, ônibus, metrôs, navios e bicicletas, sempre prezando o conforto e pontualidade. Em cada estação ou parada de ônibus, por exemplo, há painéis com as linhas e destinos expostos de forma clara, além do tempo preciso de chegada dos veículos, com os minutos e até segundos que faltam.
Outra facilidade é o uso de um cartão único – e recarregável em máquinas, sem auxílio de terceiros – para os diferentes meios de transporte. É possível andar de trem, metrô e ônibus com o mesmo cartão, mesmo que tais serviços sejam ofertados por diferentes empresas públicas e privadas. Já os preços variam de acordo com o tempo ou mesmo a distância percorrida.

Lisboa: recuperação de prédios históricos monetiza o turismo. Com isso, aumenta a renda per capita e os investimentos em infraestrutura
Ambiente para o empresário
Muito próximo a Lisboa, a reportagem visitou a cidade de Oeiras. Para chegar até lá, é preciso gastar pouco menos de dois euros com um “comboio”, nome dado aos trens em Portugal. A viagem dura em média 30 minutos. Lá o A Hora visitou parques empresariais e de inovação e tecnologia, alguns bastante semelhantes com o Tecnovates, da Univates.
Oeiras tem quatro parques: o Arquiparque (em Miraflores), o Lagoas Park (em Porto Salvo), a Quinta da Fonte (no Paço dos Arcos) e o Taguspark (em Porto Salvo). Todos são responsáveis por tornar a cidade com pouco mais de 140 mil habitantes em um polo de tecnologias de informação e comunicação, principalmente. Neste momento, a gigante Google prepara a instalação de uma filial no Lagoas Park, que é um espaço privado.
A cidade tem um dos maiores índices de renda per capita no país. O prestígio dos parques atrai cada vez mais empresas de grande renome e também empresários e empreendedores em busca de incubadoras e “aceleradoras” para o desenvolvimento de novos produtos, com níveis de intensidade tecnológica elevada, principalmente na área da biotecnologia e farmacêutica, produtos de alto valor agregado.
O A Hora foi recebido pelo chefe da incubadora do Taguspark, Miguel Mattos. Ele destaca a cumplicidade entre todos os “rivais” para atrair cada vez mais empresas de maior dimensão nacional e internacional para a cidade. “Nosso objetivo em comum é trazer expertise para cá, pois isso resulta em mais empregos, mais renda e, consequentemente, mais riqueza para o município investir na qualidade de vida dos moradores e visitantes”, resume.
A competição é sadia, reforça, mas também é intensa, com diferentes etapas e agentes públicos e privados. “Estamos sempre investigando possíveis empreendimentos. Em um primeiro momento, ‘vendemos’ Portugal. Após garantir o investimento no país, ‘vendemos’ Lisboa e a região metropolitana da capital. A partir dessa confirmação, iniciamos a competição interna entre os parques de Oeiras”, diz. “Antes disso, ninguém se atravessa no caminho.”

Frankfurt: Preocupação com a correta destinação do lixo é um dos trunfos da Alemanha para recuperação do meio ambiente
Consolidação da marca
Na Alemanha, além de investigar a cidade irmã de Arroio do Meio, Boppard – cujo modelo de gestão pública difere do brasileiro –, a reportagem verificou modelos de energia sustentável e saneamento básico em Frankfurt, e conheceu a promissora Erlangen, cidade com cem mil habitantes e que de acordo com publicações alemãs tem a maior renda per capita do país. Mas nem sempre foi assim, explica um dos CEOs do chamado Medical Valley, Tobias Zobel.
“Há dez anos tínhamos o maior déficit per capita do país. A cidade estava parada e, diante disso, o prefeito resolveu apostar naquilo que poderíamos ser referência e criar um cluster de empresas. No caso, na área da biotecnologia. Algo que vocês podem fazer com o que têm como marca. Os alimentos, por exemplo. O importante é saber utilizar a expertise de empreendedores, centros universitários e fundos de investimento dentro de um mesmo propósito”, resume.
Zobel conhece o RS e o Vale do Taquari. Inclusive já iniciaram um modelo semelhante ao Medical Valley no estado, formando uma rede de voluntários dispostos a criar e encontrar soluções empreendedoras para o desenvolvimento de novos produtos e startups. “São mais de 700 apoiadores”, orgulha-se. O segredo, explica, é uma boa rede de contatos disposta a trabalhar em prol de uma região. “Com o mínimo de interferência política”, alerta.

Um dos parques empresariais em Oeiras, o Taguspark tem como acionista a câmara municipal
Próximos passos
Além de buscar mais detalhes e bons exemplos em Portugal, a reportagem viaja para a Itália na próxima semana. Em solo italiano, visita a cidade-irmã de Ilópolis (Auronzo di Cadore), para comparar modelos de gestão publica e também do Legislativo, e ainda planeja visitas a outras regiões do país para conhecer cooperativas inovadoras; consórcio de cidades para saneamento básico; monetização do turismo; entre outros aspectos.
Enviado Especial | Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br