A massoterapeuta Leni Konrath, 55, saiu de casa ontem, por volta das 10h30min, atravessou a rua e em poucos metros chegou à agência do Correios para pagar uma parcela do carro.
Ao entrar, dois homens armados estavam no estabelecimento. De pronto, ordenaram que fizesse silêncio e se acalmasse. Em seguida, Leni foi conduzida até os fundos do Correios, onde mais de 20 pessoas também eram feitas reféns.
“Eles diziam ‘não vamos fazer mal a ninguém. Nós não queremos o dinheiro de vocês, queremos apenas o dinheiro do governo’”, conta Leni.
Segundo ela, os bandidos, embora estivessem armados, em momento algum, machucaram as pessoas. “Eles estavam de cara limpa. Não usavam toucas ninja ou nada que escondesse o rosto”, lembra.
Pânico
Proprietária de um salão de beleza ao lado, a empresária Lourdes Schuster, 54, conta que só percebeu a ação dos criminosos com a chegada de uma viatura da Brigada Militar (BM).
“Aí eu disse para minha funcionária: deve ser assalto”. Segundo ela, esta foi a quarta vez em que presenciou assalto a essa agência dos Correios.
Assim que percebeu a ação criminosa no estabelecimento vizinho, Lourdes correu para a cozinha do salão de beleza e ouviu os gritos dos criminosos, que, sob ameaças, mandavam o gerente abrir o cofre da agência.“Aí eu ouvi ele (gerente) dizendo que o cofre só tinha liberação do sistema para abrir após as 11h.”
Fuga
De acordo com a BM, a dupla de assaltantes fugiu em um Fiat Palio e levou o gerente como refém.
“Vi um brigadiano correndo atrás do ladrão com a arma apontada para cima”, conta Leni.
A quantia de dinheiro roubada não foi informada.
No decorrer da fuga, outros veículos davam apoio, parados e controlando a movimentação em pontos estratégicos.
O gerente sequestrado só foi liberado às 11h30min, na ponte de Mariante, no interior de Bom Retiro do Sul, no sentido a Venâncio Aires. Os policiais perseguiram os bandidos, mas eles não foram encontrados.
Por tratar-se de um órgão do governo federal, a Polícia Federal investigará o caso.
Ainda segundo a BM, os criminosos levaram o sistema de imagens das câmeras de monitoramento da agência.
Vizinhança em choque
A chefe de cozinha Janete de Vargas, 46, conta que enquanto os bandidos assaltavam a agência, de dentro de sua casa, ouvia gritos de “Para, Diego. Fica aqui”. Porém, não deu bolas. Achou que era alguma desavença entre vizinhos. No entanto, era o assalto em frente à sua casa. “Teutônia é uma cidade tão calma que a gente nem pensa que pode acontecer uma coisa dessas”, conta.
O idoso Gilberto Konrath também relata que no decorrer da ação criminosa chegou a passar na frente da agência do Correios, mas não percebeu nada diferente. “Vi pessoas entrando na agência. Mas jamais imaginei o que tava ocorrendo lá dentro”, relata.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br
Disputa entre traficantes mata dois em 30 horas
Na tarde de ontem, Santo Ribeiro foi morto no condomínio Novo Tempo
No muro em frente ao condomínio Novo Tempo, no bairro Santo Antonio, as pichações indicam a presença de um dos grupos do crime organizado que atuam no RS. Duas ruas abaixo, próximo ao outro loteamento, as marcas são de outra facção.
Na tarde de ontem, um homem foi executado com diversos disparos de arma de fogo. O crime aconteceu por volta das 14h30min. A vítima foi identificada como Santo Ribeiro, 42.
De acordo com relatos de moradores, homens chegaram em um carro, um deles desceu, foi até o bloco 3 e disparou diversas vezes. A arma usada no crime foi uma pistola 9mm com equipamento para fazer disparos em rajada. A arma é restrita e o acessório proibido em território nacional.
A Polícia Civil aguarda o laudo para precisar a quantidade de perfurações no corpo da vítima.
O delegado Márcio Moreno, titular da delegacia de Lajeado, confirma a atuação das facções no Vale do Taquari. Entretanto afirma que no condomínio há uma minoria ligada ao tráfico. “Não há um domínio efetivo dos criminosos no loteamento”, afirma.
Moreno admite a dificuldade em conseguir depoimentos, pois os moradores do condomínio temem represálias. A polícia trabalha com informações anônimas passadas por telefone.

Santo Ribeiro foi morto na tarde de ontem, no bairro Santo Antônio
Assassinato no centro
Cerca de 30 horas antes desse homicídio, Adriano de Moraes, 38, foi assassinado em um bar, na rua Barão de Santo Ângelo, no centro. O crime aconteceu às 10h de terça-feira.
Uma motocicleta preta, pilotada por um homem usando uma capa de chuva, passou na frente do estabelecimento e disparou pelo menos oito vezes. Moares chegou a ser levado para o Hospital Bruno Born (HBB), mas não resistiu aos ferimentos. A polícia acredita que os crimes tenham relação com o tráfico de drogas.
Série de homicídios
Em 2014, as disputas pelos pontos de venda de drogas geraram uma série de assassinatos. Somente nos três primeiros meses daquele ano foram registrados 14 homicídios na cidade. No Vale do Taquari, foram 23 casos.
No dia 19 de março, um casal foi assassinado em uma lancheria da região central da cidade. No dia 23, um homem foi morto a tiros dentro do carro, no bairro Santo André. Foi o décimo quarto caso. De acordo com a polícia, 80% dos casos estavam relacionados ao tráfico de drogas.
Em abril, a Polícia Civil deflagrou uma operação para prender suspeitos dos crimes. Denominada Primeira parte, a ação cumpriu sete mandados de prisão e 18 de busca e apreensão em seis bairros de Lajeado além de Cruzeiro do Sul e São Sebastião do Caí. Conforme a polícia, suspeitos teriam escapado para essas cidades depois de cometer os crimes.
Problemas se repetem
Em janeiro deste ano, reportagem especial do A Hora estampou o drama de famílias que moravam ou ainda moram no condomínio. O sonho da casa própria se transformou em frustração. Na época, alertava-se para a atuação de facções criminosas no entorno do local. Ontem, aconteceu a primeira morte trágica no condomínio que era para ser um novo tempo às famílias carentes