Percorrer as principais ruas de Lajeado em cadeira de rodas pode se transformar em uma “pequena odisseia”. Cadeirantes como Douglas Luís Cetolin, 22, enfrentam esse desafio semanalmente e percebem a falta de acessibilidade até nas principais ruas.
Na sexta-feria, 19, o Mapa da Cidade acompanhou Cetolin no trajeto de aproximadamente três quilômetros do Montanha até a prefeitura. Os obstáculos surgiram já nos primeiros metros com calçadas danificadas na avenida Benjamin Constant, proximidades da ponte sobre a ERS-130.
Cetolin já criticou os desníveis e a falta de manutenção desse passeio em postagens no Facebook em 2017. Passado um ano, nenhuma melhoria foi feita, constata o cadeirante. “Não tem como utilizar essa calçada”, lamenta.
Poucos metros depois, a inclinação de uma rampa que liga a Benjamin Constant à rua Armin Schneider inquieta Cetolin. Totalmente inclinada, é impossível passar pelo local mesmo com a cadeira de rodas motorizada.
No decorrer da avenida Benjamin Constant, a principal crítica de Cetolin é a falta de padronização nas calçadas. Há passeios em bom estado, entretanto, outros deixam a desejar. “O Executivo poderia investir nessa padronização. Tem cidades menores que Lajeado que fizeram esse trabalho e a acessibilidade é muito boa”, comenta.
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Em vários trechos, Cetolin utiliza o asfalto pela impossibilidade de passar no local destinado aos pedestres. Em meio ao trânsito, ele percebe o perigo. “Tem motoristas que vêm rápido e podem até causar um acidente. Alguns ficam bravos, mas não tem o que fazer”, relata.
Ao chegar na rua Júlio de Castilhos, a situação das calçadas melhora com a padronização. Mas o problema são algumas rampas muito íngremes que dificultam o acesso dos cadeirantes. “Algumas rampas devem ter sido feitas sem consulta aos cadeirantes, pois é muito difícil usar”, acredita.
Um dos casos percebidos foi em frente à Loja Pattussi. A cadeira de rodas chegou a travar na rampa. “Já aconteceu outras vezes, daí é necessário pedir ajuda dos pedestres”, conta. Conforme Cetolin, os cadeirantes acabam “mapeando” os pontos ruins da cidade para evitar passar por esses locais.
O trajeto até a prefeitura foi feito em cerca de 30 minutos. Cetolin estima que, se as condições das calçadas fossem boas, o tempo poderia diminuir em até 10 minutos.
“Temos que evoluir”
A instalação e conservação de calçadas é responsabilidade dos proprietários dos terrenos. Cabe ao Executivo fiscalizar a condição do espaço destinado aos pedestres. O secretária de Planejamento e Urbanismo, Rafael Zanatta, reconhece que há falhas na questão da acessibilidade. “É um ponto que temos que evoluir”, ressalta.
Segundo o secretário, não há um mapeamento dos pontos críticos no município. A administração municipal acaba dando prioridade às ruas com mais fluxo na hora de avaliar a condição das calçadas. “Esbarramos muitas vezes na capacidade de fiscalização. Temos dois fiscais apenas para todas as obras”, complementa.
Zanatta cita uma série de trechos onde proprietários foram notificados a fazer calçadas e acataram a comunicação formal. Entretanto há casos em que o morador se omite e o Executivo precisa recorrer à multa. “Têm pessoas que não percebem a importância das calçadas. Tentamos conscientizar e não multar, pois percebemos que a multa não resolve o problema”, comenta.
Zanatta informa que ao governo estuda realizar uma campanha mais ampla para advertir os proprietários de terreno da importância das calçadas, além de trabalhar soluções em conjunto com cadeirantes e pessoas com deficiências físicas.
Críticas maiores nos bairros
“De um a dez, eu daria zero para as condições das calçadas no Montanha. Têm locais onde a calçada praticamente não existe ou os proprietários acabam utilizando como extensão do seu terreno. Daí tem calçadas com entrada, mas sem saída para o cadeirante. É quase impossível trafegar. Na semana passada, fui num mercado perto da creche e quase fui atropelado. Não tem calçada e com o fluxo da Benjamin Constant é perigoso uma pessoa andar de cadeira de rodas pela rua. Essa questão é séria e cultural. Acredito que teria de ter uma pressão do próprio Executivo para que houvesse conscientização do povo quanto à questão da acessibilidade nas calçadas e ruas.”
“Acessibilidade não existe. Tenho um quadriciclo elétrico e preciso de ajuda para sair de casa, na rua Maceió. Recentemente tive quase que brigar com o Executivo para colocarem uma carga de brita na estrada de chão. Ficou pior do que antes. Nas ruas do Universitário, quase não tem calçada, então, preciso usar o asfalto. É perigoso, mas fazer o que, né?”
Fábio Kuhn: fabiokuhn@jornalahora.inf.br