Na década de 1980, os alunos do Ceat quase moravam na escola. O empenho nos esportes, o surgimento da gincana e os preparativos para a famosa viagem das 8a séries eram o que ocupava a mente de meninos e meninas que aos 6 anos já caminhavam sozinhos até o colégio. Aos 16, com a mesma normalidade, eles dirigiam Monzas ou Voyages dos pais para ir até alguma festinha.
Passados 30 anos da formatura, a turma que deixou a escola em 1988 volta a se reunir. Amanhã, 20, cerca de 65 egressos, professores e funcionários da época fazem um churrasco no Clube Tiro e Caça. “O encontro de 20 anos teve umas 40 pessoas, pois fizemos tudo por e-mail. Mas com o WhatsApp, já temos umas 70 pessoas”, comenta o administrador Fernando Röhsig, 47.
As três décadas parecem muito mais tempo quando eles começam a lembrar cenas da época que são totalmente impensáveis hoje. Alunos sendo arremessados porta afora, por exemplo, era algo comum.
Sabiam que com o Schneidão – o professor de Matemática de corpo grande e paciência pequena – não podiam bobear. A postura do docente ainda é imitada pelo empresário Augusto Kieling, 48. “Quando ele colocava o óculos na ponta do nariz, a gente já sabia…Todo mundo se endireitava na cadeira.”
Varrer a escola e lixar as classes, na época de madeira, fazia parte das tarefas acadêmicas. Sábado de manhã também era dia de ir para a escola, quando também ocorria o momento cívico. O maior orgulho de quem estava terminando o Ensino Fundamental era ser aprovado e ir para o prédio “dos grandes”, no bloco onde ficava o Ensino Médio.
E o maior pânico era que os pais fossem contatados pela direção. “Tínhamos muita disciplina. Se os pais eram chamados, significava que o mundo estava prestes a acabar”, compara a dentista Sabine Bergesch Diedrich, 47.

Alunos em 1978, sob os cuidados da professora Susane Elise Giongo
Viagem da 8ª série
Os episódios mais lembrados pela turma ocorreram durante a viagem da 8a série, em 1985. Foram duas semanas percorrendo o Brasil – e parte do Paraguai. Como naquele ano ocorreu greve dos professores do Estado e muitos do Ceat também lecionavam na rede pública, os jovens viajaram com supervisão reduzida.
Sem outra forma de contato, o professor Orlando, que ensinava alemão e foi para o passeio, ligava para a Rádio Independente e informava a situação da caravana, composta de dois ônibus – dos primeiros modelos a ter banheiro. O boletim era veiculado todas as manhãs, para alívio dos pais.
O ápice da viagem ocorreu quando, entre SP e o RJ, o pneu de um ônibus furou. Na verdade, como sabiam todos, o incidente foi resultado de uma traquinagem. A autoria acabou atribuída ao engenheiro Luís Fernando Antoniazzi, 47.
Seu histórico de entrar no banheiro das meninas quando elas iam tomar banho e na sala onde a professora estava trocando de roupa – fatos que ele atribui a uma onda de azar – acabaram pesando no julgamento. “Os motoristas me pegaram na saída do ônibus e um disse ‘agora tu vai levar’. Tirou a cinta e me deu. E os professores acharam que eu merecia”, lembra.
O verdadeiro culpado, porém, foi o arquiteto Joner Ferreira da Silva, 48. Ele conta que, antes do veículo arrancar, estava do lado de fora tomando Coca Cola e teve a ideia de colocar a garrafa de vidro próximo ao pneu apenas para “ouvir o estouro” quando o ônibus passasse por cima. “Quando vi o que aconteceu, fiquei morrendo de medo. Fui contar para os meus pais só há uns dez anos.”
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br