Nas estradas de chão batido do interior de Cruzeiro do Sul, Clarinice Arenhart, 56, era conhecida como profe Kika. Ela cursou Magistério no Colégio Madre Bárbara, em Lajeado, em 1970, e em 79 já lecionava para a 1ª e a 2ª série de uma escola estadual de Cruzeiro do Sul.
Na época, as duas turmas ocupavam uma mesma sala e, além do quadro-verde, dividiam a mesma professora. Kika lembra que as professoras eram diretores, merendeiras e educadoras, simultaneamente nas escolas.
Durante esse tempo, a realidade das famílias que deixavam os filhos sob os cuidados dela era complicada, elas moravam em cabanas de palha, dormiam em camas de papelão e nem sempre podiam tomar banho. Ela conta que muitas vezes levou as crianças para tomar banho em sua casa, dormia com elas e ajudava na higiene.
“Naquele tempo esses pequenos escutavam o que a gente tinha a dizer, e as famílias confiavam em nosso trabalho. Eu sinto falta daquele tempo, era muito bom”, lembra.
Sendo funcionária do município, e depois tendo feito concurso pela prefeitura de Lajeado, Kika começou a lecionar para Educação Infantil e para Séries Iniciais no Colégio Cenecista João Batista de Mello, em 1986. Mesmo aposentada faz nove anos, ela é professora no Mellinho faz 32, e conta que ama o que faz, e agradece todos os dias pela disposição que tem para ensinar.
Kika vê uma diferença muito grande desde que começou a educar. Ela conta que hoje as crianças são muito mais agitadas, e que muitas vezes não conhecem mais as brincadeiras.
Nesta Semana da Crianças, levou brinquedos antigos como cinco marias, vareta e jogos de carta, e as crianças não conheciam. “Elas adoraram esses jogos, então, cada dia eu levei um diferente.”
“O meu maior prazer é poder fazer o bem para essas crianças e ver que elas lembram de quando foram meus alunos”, conta.
Amor à profissão
Nara Regina Scheibler, 35, era acostumada a frequentar a escola desde pequena. A mãe era merendeira e sempre levava a filha com ela. Quando começou a observar o trabalho dos professores nas salas de aula, decidiu ser professora.
Depois de lecionar em uma escola estadual em Sério, em 2002, ela chegou a Lajeado para alfabetizar na escola Érico Veríssimo. Depois de alguns anos, foi convidada a assumir o cargo de coordenadora pedagógica da escola, e hoje também faz parte da 3ª Coordenadoria Regional de Educação.
Na rotina na sala de aula, rodeada de crianças, viveu a sua maior satisfação por ter se tornado educadora. Ela conta que os desafios diários a faziam ter mais vontade de ensinar, e que ver o brilho nos olhos dos alunos era a maior recompensa.
“Hoje eu tenho saudade de estar em contato com eles em sala de aula. Uma das melhores sensações é ver as crianças aprendendo a ler ao longo do ano, e perceber que isso é fruto do teu trabalho”, conta.
Com a desestruturação de algumas famílias, ela vê ali a maior dificuldade em educar. “Muitos alunos vêm desmotivados para a escola, e o nosso papel também é acolhê-los e dar para eles um segundo lar”, comenta.
Mesmo assim, diz que, enquanto ainda existir o brilho nos olhos dos educadores e dos alunos, os professores têm motivos para comemorar a data.
“O nosso maior papel na sociedade e com as crianças é transformá-las em bons cidadãos e deixar algumas marcas que eles vão levar para a vida”, conta.
Dos pequenos para a vida
Em uma parceria entre famílias e educadores, a diretora da escola Mundo Mágico, Cláudia Caumo Leite, 42, acredita que o valor da educação esteja no equilíbrio desses dois ambientes. A trajetória como professora começou em 1997, quando lecionava para as série iniciais no município de Lajeado.
Em 2001, trabalhou na escola Fazendo Arte e no ano seguinte foi convidada a integrar a diretoria da Espaço Criança, onde ficou até o ano passado.
Desde lá, realiza um trabalho de aprendizagem com as crianças do bairro Das Nações e acredita que ver o crescimento delas é o maior motivo para comemorar.
“Eu quis ser professora por ver minha mãe se dedicando pela profissão dela que era ensinar. Eu aprendi pelo exemplo, e é isso o que devemos passar para os nossos alunos”, conta.
Hoje percebe uma dificuldade maior em conseguir os materiais necessários para dar aulas na escola, mas comenta que recebem muita ajuda do município.
Bibiana Faleiro: bibiana@jornalahora.inf.br