O Hemovale pode deixar de fornecer sangue a pacientes do SUS. O governo do Estado trabalha na reorganização da rede estadual e pode assumir os serviços de coleta e distribuição por meio do Hemocentro do Rio Grande do Sul (Hemorgs), situado em Porto Alegre. A informação foi confirmada ontem pela direção da unidade regional.
Em 4 de setembro, a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde convocou reunião pela manhã com representantes do Hemovale e do Hospital Bruno Born (HBB) para comunicar a estratégia governamental. A intenção inicial do Piratini era encerrar o convênio com a empresa terceirizada em até 60 dias. No mesmo dia, à tarde, a coordenadoria informou as diretorias dos 22 hospitais atendidos pela estrutura.
Na ocasião, integrantes do Hemorgs alegaram que teriam condições de assumir os serviços em função da disponibilidade de servidores decorrente da extinção da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), nã havendo mais necessidade de manter a terceirização. Com a mudança, Lajeado passaria a contar apenas com uma agência transfusional, sem capacidade de coletar sangue e distribuir a outros municípios.
Devido à preocupação em relação à continuidade dos serviços e às dúvidas quanto às condições do Estado para manter a qualidade do atendimento, uma comitiva de Lajeado liderada pelo prefeito Marcelo Caumo foi a Porto Alegre, em 19 de setembro, pedir ao secretário estadual de Saúde, Francisco Paz, mais tempo para avaliar os impactos na região.
Segundo Roberta Lazzaretti, foram realizadas 11 mil coletas em 2017
Entre os principais temores, está a questão logística. Toda vez que os hospitais do Vale do Taquari precisarem de sangue, terão de ir à capital buscar a quantidade necessária, num tempo de, no mínimo, quatro horas de deslocamento. Outra preocupação está na capacidade da matriz regional em atender a demanda regional, visto que em diversas ocasiões o Hemocentro solicita empréstimos de bolsas sanguíneas ao próprio Hemovale.
Alta demanda
De acordo com a diretora-administrativa do Banco de Sangue de Lajeado, Roberta Lazzaretti, no ano passado, a empresa realizou mais de 11,1 mil coletas e mais 14,3 mil transfusões. Dessas, cerca de 12,1 mil foram feitas pelo SUS, o que representa em média 85 % do atendimento da unidade.
Do início deste ano até julho, foram 6,2 mil coletas e 6,6 mil transfusões, sendo 5,3 mil por meio do SUS. A diretora menciona o exemplo do mês de agosto, em que seis pacientes com leucemia aguda do HBB precisaram de 488 plaquetas, um componente sanguíneo que dura apenas cinco dias armazenado.
Roberta afirma que os hospitais mais afetados seriam o HBB – que é referência em hematologia –, o Estrela e o São José, de Arroio do Meio, devido à grande quantidade de atendimentos pelo sistema público.
Conforme a diretora-técnica do Hemovale e responsável pela hematologia do Setor de Oncologia do HBB, Gabrielle Lazzaretti, o fim da unidade regional ameaça a realização de cirurgias cardíacas, atendimentos a pessoas leucêmicas, serviços na UTI neonatal e procedimentos gerais que prescindem grandes volumes de sangue disponíveis.
Referência regional
Em nota, o HBB se posicionou em relação à possibilidade de descredenciamento ou redução de atividades do Hemovale. “A instituição acompanha com atenção o caso e já enviou, ao Hemocentro do Rio Grande do Sul, ofício onde reitera a importância do funcionamento do centro hemoterápico em Lajeado”, afirma a direção da entidade.
O eventual descredenciamento impactaria no prejuízo ao atendimento de pacientes graves, acrescenta o texto. “Em 30 anos de funcionamento, o banco de sangue tornou-se referência para hospitais da região e que, por isso e pelas demais razões acima, reforça o pedido para que não seja tomada quaisquer decisões que venham a reduzir, ou suspender, a atuação do centro”, finaliza.
Ontem pela manhã, o secretário de Saúde de Lajeado, Tovar Musskopf, participou de encontro com representantes do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial (Daha), da Secretaria Estadual de Saúde, e secretários municipais de Saúde, em Porto Alegre. Musskopf falou sobre o assunto e solicitou uma nova reunião com o titular da pasta.“A gente não quer que o Estado termine o contrato. Queremos que o banco de sangue continue. Os técnicos do Estado acham que o hemocentro tem condições de suprir a necessidade. Não concordamos com isso”, contesta Musskopf.
De acordo com o secretário, o HBB faz transplantes de rins, cirurgias de cardiologia, oncologia e neurologia, tem UTI adulto e neonatal, é referência em hematologia oncológica, atendendo cidades fora da região, como Santa Cruz do Sul e Cachoeira do Sul.
Em agosto, pacientes com leucemia aguda precisaram de 448 plaquetas
“Sem definição”
Contatada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde enviou nota sobre o caso. “Estamos iniciando as tratativas para reorganizar a hemorrede em todo o estado. Ainda não há nenhuma medida definida para Lajeado”, consta no texto.
Segundo o coordenador regional de Saúde, Ramon Zuchetti, a rede de sangue do Estado passa por um redesenho, que ainda está em fase inicial. “Não estamos fechando as portas para o Hemovale. Vamos sentar para negociar com eles. Se não evoluir, o estado tem condições de assumir os serviços”, pondera.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br | Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br
