Júlia Schneider tem 27 anos e trabalha como modelo faz oito anos. Acostumada com o uso da própria imagem em anúncios e outdoors, ela foi vítima de uma exposição criminosa nesta semana. Um internauta natural de Estrela postou a foto dela como parte de um anúncio de garota de programa, com valores e formas de atendimento.
A confusão iniciou na semana passada. No dia 19 de setembro, outro rapaz postou um conteúdo político na rede social Facebook. Júlia, que mora em Lajeado, fez um comentário nessa postagem e, a partir disso, passou a ser ofendida pelo estrelense com palavras de baixo calão.
Quatro dias depois, em um domingo, o homem passou a compartilhar fotos da modelo, insinuando que ela seria uma garota de programa. Nos textos das postagens, mensagens eróticas. “Passando para lembrar que ela atende em lugar discreto, climatizado, a partir de R$ 200.” Houve ao menos outras duas publicações dele com fotos de Júlia em locais como a Praia da Ferrugem (SC) e a capital da França, Paris.
Júlia, bloqueada pelo usuário da rede social, não tinha acesso às postagens. “Mas as meninas de um grupo do qual eu participo começaram a me enviar e me alertar e eu logo fiquei sabendo.” Em outra mensagem, ele detalha a falsa propaganda erótica. “Se for famoso, é R$ 50 e mais a entrada no camarim. Se tiver 50 mil seguidores no Instagram, é R$ 25 e mais uma foto.”
Inicialmente, ela repostou as publicações para alertar amigos e conhecidos acerca das difamações, e pediu que todos denunciassem o autor para a direção do Facebook, para extinguir as postagens e denunciar o perfil do estrelense.
Os problemas persistiram e, no dia 24, a modelo – que também é professora de Educação Infantil em Lajeado – registrou um Boletim de Ocorrência (BO) e abriu processo criminal contra o rapaz, que hoje mora em Portugal. “Já me avisaram que é muito difícil aplicar uma punição, porque ele está morando fora. Mas eu não poderia deixar de registrar o fato”, confirma.
A queixa-crime foi registrada na Delegacia Especializada da Mulher. Junto com ela, uma amiga, ofendida pelo mesmo rapaz nas redes sociais, também registrou ocorrência por difamação. Mesmo assim, as postagens contra Júlia persistiram. “Ontem mesmo (quinta-feira), ele ainda estava postando coisas contra mim. Mesmo depois do BO. Umas três postagens por dia”, reclama. “Estou denunciando porque eles sempre saem impunes dessas ofensas.”

Em uma das postagens na página do estrelense, Júlia é apresentada como uma garota de programa
“Todos deveriam denunciar”
Amiga de Júlia, a estudante Jeana Micaela Correa também foi ofendida pelo mesmo rapaz. Ela também assina o BO. “Eu estava mais para apoiar a Júlia”, diz. “Mas depois ele disse que torce para sermos estupradas. Quando li isso, eu percebi que as pessoas precisam entender que não podem ofender as pessoas na internet. Não podem se esconder atrás da internet e achar que a lei não chega até elas. Todos deveriam denunciar.”
Agravante na internet
De acordo com o delegado da Polícia Civil, Juliano Stobbe, as denúncias de crimes de difamação são corriqueiras e, com o advento da internet e das redes sociais, vêm aumentando a cada ano. “É altíssima a incidência, principalmente com a facilidade de comunicação e, sobretudo, nesta época de debates políticos. Onde cada divergência já vira uma discussão”, observa.
A pena é de seis meses a um ano por difamação. “Mas há o agravante quando a publicação é na internet, pois existe a facilidade de muitas pessoas terem acesso ao conteúdo. Com isso, a pena é aumentada em 1/3u. Mas é um crime leve, não gera inquérito, apenas um Termo Circunstanciado. E sempre depende de ação privada da vítima, com a queixa-crime.”
Sobre o fato do autor das postagens estar vivendo em outro país, o delegado alerta para a real possibilidade de condenação. “Ele, enquanto acusado, será citado por edital. E, mesmo se ele não comparecer, pode ser condenado da mesma forma. E quando pisar no Brasil, ele vai cumprir a pena”, garante.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br