Mortes reduzem em 50%

Vale do Taquari - efeito duplicação

Mortes reduzem em 50%

Com a nova pista da BR, mortes caem pela metade. A colisão frontal é a protagonista em tragédias na estrada. De 2010 a 2014, a média de mortos no trecho entre Estrela e Tabaí era de 11. Com a liberação dos primeiros trechos duplicados, o número de acidentes fatais foi reduzido para cinco ao ano

Mortes reduzem em 50%
Vale do Taquari

Passados oito anos do início da duplicação da BR-386, nos 33,4 quilômetros entre Estrela (km 352) e Tabaí (km 385), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) considera que a obra esteja 99% pronta.

Entre os capítulos da novela da obra asfáltica mais aguardada no Vale do Taquari, os trechos de duplicação foram sendo liberados, principalmente, nos últimos quatro anos – reduzindo gradativamente o número de acidentes com mortes, sobretudo, envolvendo colisões frontais.

Resultados

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre setembro de 2013 e agosto de 2014, período da primeira liberação de trecho duplicado, e agosto deste ano, o número de acidentes com mortes caiu 58%.

Nos quatro primeiros anos da obra, ainda sem a duplicação, a média de acidentes fatais era de 11 por ano. A partir da liberação dos 22 quilômetros, de março de 2014 até agora, o número foi reduzido para cinco mortes.

Falhas no asfalto

Desde a primeira liberação dos 22 quilômetros de trecho duplicado, entre Tabaí (km 384) e a rótula de acesso a Bom Retiro do Sul (km 360), há problemas na manutenção.

Buracos, rachaduras e deformações se espalham pelo trecho, sobretudo no sentido interior-capital.

Os problemas no asfalto pioram conforme o motorista se aproxima do posto da PRF de Tabaí, no km 358.

Em algumas partes, do km 375 ao km 385, tanto a pista rápida (direita) quanto a de veículo lentos (esquerda) apresentam sequências de “panelões” no asfalto, exigindo que motoristas façam desvios entre uma pista e outra – o que requer atenção redobrada para evitar acidentes.

Prazo e gasto excedidos

A duplicação dos 33,4 quilômetros começou em novembro de 2010 e deveria ter sido concluída no fim de 2013.

Contratada originalmente por R$ 147,4 milhões, a obra ficou 41,7% mais cara nesse período, o equivalente a um custo adicional de R$ 61,5 milhões.

O cronograma de entrega atrasou, principalmente, por causa das dificuldades do reassentamento da comunidade indígena caingangue, que ocupa terras nas imediações do km 359, em Estrela.

Além disso, houve demora também na obtenção de licenças ambientes e, claro, falta de dinheiro.

Após liberar os primeiros 23,4 quilômetros de duplicação em 2014, em 20 de dezembro do ano passado, o Dnit entregou outros sete quilômetros de pista nova aos motoristas.

E a última liberação, de três quilômetros, foi em junho de 2018.

Radiografia br 386 1

Radiografia br 386 2

Últimos detalhes

O consórcio de empresas responsável pela obra de duplicação – Conpasul, Cotrel, Iccila e Momento – conclui nesta semana o alargamento de pista no quilômetro 361, no limite entre os municípios de Bom Retiro do Sul e Estrela.

No local, foi construída uma grande rotatória para permitir um melhor acesso a Bom Retiro do Sul.

Nessa quinta-feira, 27, as duas faixas do sentido capital-interior foram liberadas. No decorrer da semana, motoristas utilizavam o trecho com estreitamento de pista em apenas uma faixa.

Neste fim de semana, ocorre a finalização da construção de uma alça de acesso a Vila Glória, em Bom Retiro do Sul.

Faltam ainda alguns acabamentos, como plantio de grama e conclusão de ruas laterais para a obra ser considerada finalizada. A expectativa é que toda a duplicação esteja pronta até outubro.

Eliseu Mello Martins

10 anos da pior tragédia da BR-386

22 de julho de 2008. BR-386 sem duplicação. O estudante de Agronomia Eliseu Mello Martins, 28, tinha 18 anos. Naquela noite, saiu da rodoviária de Palmeira das Missões com destino a Novo Hamburgo para visitar um amigo.

No entanto, chegou atrasado na rodoviária e foi colocado em outro ônibus que passaria por Novo Hamburgo.

Um dos últimos a comprar a passagem, Martins não recebeu na nota fiscal um assento em específico para se acomodar no ônibus.

“O motorista pediu que eu escolhesse um assento no ônibus. Procurei por algum que estivesse com duas poltronas livres. Não achei”. relembra.

Sentou ao lado de uma mulher, no meio do ônibus, no lado esquerdo. Atrás do motorista. No decorrer da madrugada, Martins dormiu. Despertou às 4h. Olhou para as poltronas do lado direito, os assentos estavam vazios. Trocou de lugar. Dez minutos depois, o acidente.

Na edição do A Hora de julho de 2008, reportagem especial retratou a tragédia que matou 13 pessoas em acidente

Na edição do A Hora de julho de 2008, reportagem especial retratou a tragédia que matou 13 pessoas em acidente

A tragédia

Uma carreta da Transportadora Giovanella e o ônibus Ouro e Prata que fazia a linha Porto Xavier-Porto Alegre colidiram de frente, por volta das 4h.

O acidente aconteceu sobre a ponte do Arroio Concórdia, no km 371 da BR-386, em Fazenda Vila Nova.

Com o choque, o ônibus teve parte da lateral do lado do motorista arrancada e tombou sobre a guarda da ponte.

13 mortos, 23 feridos

Depois do forte barulho da colisão frontal contra o caminhão que trafegava no lado oposto, Martins conseguiu segurar-se na poltrona enquanto o ônibus tombava e se arrastava pela pista.

“Com a força do acidente, o lado esquerdo do ônibus ficou em boa parte aberto. Olhei pelo rasgo da lata e vi o céu cheio de estrelas”, conta.

Ele foi o primeiro sobrevivente a sair do ônibus. O veículo estava tombado. Ele precisou escalar a janela. Na saída, viu diversos corpos. Inclusive a mulher que dividira a poltrona com ele na viagem.

No asfalto, viu o corpo do motorista do caminhão em cima do motor do veículo. Saiu correndo pela rodovia em busca de ajuda. O acidente deixou 13 mortos e 23 feridos. Martins foi o único passageiro a sair ileso da tragédia. “Fui o primeiro a sair do ônibus. O último a ser atendido no Hospital de Estrela e o primeiro a receber alta”, rememora.

Paulo Remi da Silva

Entrevista

“A colisão frontal é a grande vilã”

Chefe da Polícia Rodoviária Federal de Lajeado, Paulo Remi da Silva aponta os motivos que levaram à redução do número de óbitos no trecho duplicado da BR-386.

Nos primeiros quatro anos da obra de duplicação, com o trecho ainda funcionando em pista simples, a média de acidentes com morte era de 10 ao ano. De 2014 para cá, com a liberação da rodovia duplicada, o número foi reduzido a uma média de 5 óbitos anuais. A que se deve esse resultado?

Numa primeira análise, a colisão frontal é a grande vilã da gravidade das lesões em acidentes. Quando temos uma rodovia duplicada, com divisor entre um sentido da pista e outro, essa colisão fica praticamente impossibilitada. Por ventura, se um veículo cruzar o canteiro central e bater em alguém que transita no sentido oposto, seria um caso muito isolado. Difícil de acontecer. Outra questão que trouxe mais segurança neste trecho da BR386 é a boa sinalização – seja pela construção de rótulas ou pela iluminação, que faz com que o motorista consiga enxergar de longe o trânsito. Com isso, o condutor consegue antever o que acontece na pista e pode reduzir a velocidade ou fazer desvios.

No ano passado, foram registradas 9 mortes no trecho entre Estrela e Tabaí. Pista duplicada gera mais imprudência no excesso de velocidade?

Quando você adota uma ação de prevenção de acidentes, tanto por parte da Polícia Rodoviária Federal quanto pelo Dnit, ele tem um prazo de velocidade. No momento que o usuário da rodovia percebe que o período de ação preventiva acabou, ele começa a dirigir com mais velocidade de forma gradativa. A maioria dos acidentes graves nesse trecho decore do excesso de velocidade. É uma constante em mortes. Normalmente, com a pista duplicada, os condutores saem da pista e colidem contra um barranco ou algum objeto fora da rodovia.

Nesse sentido, com motoristas que excedem o limite de velocidade, a PRF está aplicando mais multas no trecho?

Aumentou muito o número de multas em função da duplicação. A gente recebeu um equipamento de fiscalização que faz a leitura da placa de veículos a mais de um quilômetro de distância. Isso faz com que nosso trabalho dê um resultado alto em quantidade de imagens. O usuário da rodovia começa a se dar conta que o trecho é bastante fiscalizado e passa a reduzir a velocidade.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br

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