Idosos já são 18% da população regional

Ativos e saudáveis

Idosos já são 18% da população regional

Aumento da expectativa de vida muda o perfil da população com mais de 60 anos. Ninguém mais quer se aposentar e ficar em casa. Os “baby boomers”, como são chamados, viajam, praticam esporte, se comunicam pela internet, buscam mais qualidade de vida e movimentam a economia. Segmento de consumo que mais cresce no país desafia as marcas a se adaptarem. Em 2030, o RS terá mais idosos do que crianças. Cidade do RS com maior percentual de idosos fica no Vale do Taquari

Idosos já são 18% da população regional
Vale do Taquari

As pessoas vivem cada vez mais e envelhecem com mais saúde. O perfil da população idosa muda. A imagem do aposentado que fica em casa sem ocupação é cada vez mais ultrapassada. Os “baby boomers”, como é chamada essa geração, buscam mais qualidade de vida, praticam esportes, voltam ao mercado de trabalho, viajam e se incluem no mundo digital.

Segundo o IBGE, o RS será o primeiro estado brasileiro em que o número de idosos superará o de crianças. A inversão está prevista para meados de 2030.

Em 2060, a projeção é que a população gaúcha tenha dois idosos para cada criança. No estado, 1,9 milhão tem mais de 60 anos. O número representa 17,1% da população total.

No Vale do Taquari, este índice é maior. Desde 2010, a população idosa da região saltou de 51 mil para 69 mil pessoas e já representa 18,3% do total de habitantes em 38 cidades.

total de idosos vale do taquari

Nas aulas de muay thai, uma aluna chama a atenção por seus alongamentos e proatividade nos exercícios. Quando Rosane Bronstrup Zang, 66, se aposentou, não quis ficar parada.

Acostumada a ocupar suas tardes com a ginástica localizada, Rosane aceitou o desafio de aprender a arte marcial originária da Tailândia. Incentivada pela filha mais nova, ela participou da aula experimental e se apaixonou. Hoje ela tem no esporte seu maior incentivo.

“Modéstia à parte, todo mundo se impressiona com os meus alongamentos, mas isso exigiu muito treino”, revela. Ela acredita que depois de se aposentar, as pessoas não devem ficar paradas em casa porque isso dá espaço para pensamentos ruins. “Hoje as coisas mudaram muito, não precisamos ficar só esperando o tempo passar”, afirma.

Quando criança, ela era acostumada a brincar nas ruas. Hoje, vê uma diferença muito grande nos seus netos em relação à isso, pelas questões de segurança e pela chegada das novas tecnologias. Mesmo sendo muito ativa na sociedade, ela ainda é resistente ao uso destas tecnologias. “Eu sempre digo: se quiserem me ver triste, me deem um celular ou uma panela de presente”, brinca.

Público importante à economia

As pessoas com mais de 60 anos representam o segmento de consumo que mais cresce, ganhando mais importância na economia. No Brasil, 10,8 milhões de pessoas dependem da renda de aposentados para viver, segunda levantamento realizado pela LCA Consultores e publicado pelo jornal O Estado de São Paulo.

Há cerca de 15 anos, o profissional de marketing Martin Henkel começou a perceber a dificuldade que as marcas têm em se relacionar com este público. “O marketing aprendeu a se comunicar com a geração Y, com os millennials, mas não aprendeu a se comunicar com a população sênior”, analisa.

Para Henkel, muitas marcas sequer sabem o quanto esta população representa em sua grade de consumo. “Não percebem que esta população consome bastante e o que ela consome. Os 60+ são 14% da população brasileira e respondem por 20% do consumo, ou seja, consomem acima da média”, conclui.

De acordo com o consultor, a grande tendência deste mercado é o foco na experiência do consumidor, o que já é bastante difundido em relação à geração dos millennials. Segundo Henkel, os “baby boomers” estão em busca de novas experiências.

As áreas destacadas pelo consultor são o turismo e o cuidado com a saúde, através de atividades físicas. “O idoso começa a perceber que ele precisa ter um corpo saudável para conseguir cumprir com qualidade de vida esta longevidade que ele está ganhando. Isso está ligado à qualidade de vida e autonomia. Essa geração não quer depender dos filhos”, conclui.

Em 2014, ele criou a Seniorlab, empresa de consultoria voltada a ajudar empresas a se comunicar com este público. A empresa também realiza palestras e produz conteúdo para redes sociais de marcas.


MUITO PARA COMEMORAR

Em comum, são exemplos de como chegar à terceira idade com qualidade de vida e celebrarão nesta segunda-feira, 1º, o Dia do Idoso.


A terceira idade nas redes sociais

As redes sociais e aplicativos de comunicação por celular assumem cada vez maior importância nas relações e na vida prática das pessoas. A geração “baby boomer” entende a importância de vencer a barreira da inclusão digital. Hoje no Brasil 7,4 mi com mais de 60 perfil do facebook. No RS 526 mil. Os números são de um levantamento realizado pela Seniorlab, junto ao Facebook.

Foi em função de um hobby antigo que Cristiano Ignacio Horn, 69, precisou se adaptar às novas tecnologias. Colecionador de cédulas, ele descobriu em sites de compra e venda, como Mercado Livre, uma vasta possibilidade de adquirir notas raras. Diariamente ele fica algumas horas em frente ao computador em busca de cédulas inéditas em sua coleção.

Outra atividade que ocupa as horas do dia de Cristiano é o estudo de línguas. Em 2014, quando visitava o Museu Alemão em Munique, se interessou pelas bombas aéreas, vestígios da Segunda Guerra Mundial. As plaquinhas em frente às V-1 e V-2, eram um pouco maior do que um folha de desenho, em formato retangular. Nelas havia uma explicação escrita em alemão e inglês. Eram imcompreensíveis para ele.

De volta da viagem, decidiu começar um curso de línguas, e acabou optando pela inglesa. Em 2015, entrou pras aulas do Projeto Idiomas da Univates, que hoje são realizadas nas quartas-feiras à noite. Ele acredita que além de manter o cérebro ocupado, a atividade é importante por ser uma mecanismo de comunicação universal.

“Como esse curso é mais curto e simples, eu me viro, apesar das dificuldades”, conta. Ele lembra que as crianças e adolescentes de hoje já tem muito acesso às línguas nas escolas e nos cursinhos, e que por isso têm mais facilidade. Ele foi colegas de jovens de 15 a 18 anos,e conta que, apesar de não ser comum um homem de quase 70 anosna turma, ele é muito valorizado e se sente bem nas aulas. Para a comunicação com a turma, criaram um grupo de WhatsApp, do qual Cristiano também faz parte. No início deste ano, participaram de um intercâmbio à África do Sul juntos.

“Quando acabar esse, quero aprender melhor a língua alemã também”, projeta Cristiano.

projeção de idosos vale do taquari

Envelhecimento é maior em cidades pequenas

Nos municípios menores, é mais comum um alto percentual de idosos. Uma das razões é a migração de jovens para os grandes centros urbanos. O município com maior concentração de pessoas idosas é Coqueiro Baixo, no Vale. A população idosa é de 571, o que representa 40% do total do município. Em 2010, eram 448, ou 29,3%. Enquanto a população total diminuiu, o número de idosos aumento Entre as dez primeiras cidades do ranking, quatro são do Vale.

Além de Coqueiro Baixo, Relvado ocupa a quarta posição com 33%, Vespasiano Correa é o oitavo com 31,2% e Forquetinha vem logo atrás com 31,1%. Os números, relativos a 2017, são da estimativa populacional atualizada publicada em agosto deste pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria Estadual de Planejamento Governabilidade e Gestão.

Algumas características, como a localização e a grande concentração de município pequenos contribuem para este processo. “O Vale do Taquari está perto de muitos polos, o que gera uma facilidade de migração. Tem centros grandes como Lajeado, Caxias do Sul e Porto Alegre que o jovem consegue migrar e manter o vínculo com os pais que ficam na cidade.”

Alguns dos reflexos econômicos desta tendência podem ser percebidos no cotidiano, como a mudança no comportamento de consumo das famílias. As pessoas com mais de 60 anos gastam menos em transporte público e vestuário, por exemplo. Por outro lado, gastam mais em medicamentos e produtos e serviços voltados à saúde. “Em cada esquina tem uma farmácia nova. Essa percepção não é por nada, a demanda está aumentando e o segmento, se modificando”, explica Zuanazzi.

Em termos de efeitos macroeconômicos, Zuanazzi destaca a pressão nas contas previdenciárias. “A necessidade de uma reforma previdenciária tem a ver com este envelhecimento, que está ligado a taxa de fecundidade, que é de cerca de 1,6 filho por mulher. Ou seja, os casais não estão repondo a população.”

O aumento no gasto em saúde pública é um reflexo desta tendência. Por outro lado, há o aumento da poupança privada. Outro efeito destacado por Zuanazzi é que o envelhecimento não contribui para a inovação.

Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br | Bibiana Faleiro: bibiana@jornalahora.inf.br
Colaboração: Ezequiel Neitzke

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