Professor da Escolinha do Clube Sete de Setembro, Idalcir Carlos Dallag’nol, o Nico, 55, é conhecido no RS pelo trabalho na formação de atletas e cidadãos.
• Nesse trabalho com as crianças, como é contribuir para a formação do indivíduo?
É uma experiência gratificante. A gente passa por muitas situações, conhece diversos tipos de mentalidades. Eu que convivo e trabalho com crianças dos 6 aos 15 anos percebo isso. Então cada aluno tem uma personalidade e tenho que ter um jeito diferente de ligar com eles. É muito bom, tu vê os alunos chegando no final da escolinha com algum projeto de vida, alguns voltados para o futebol, outros não, mas sempre tendo uma diretriz boa. Durante o processo, conseguimos participar junto com a família, de ajudar a educar, de ter disciplina, de manter uma ordem, isso gratifica muito, mesmo porque muitos passaram por minhas mãos. Hoje tenho filhos de ex-alunos, e isso pra mim é muito gratificante.
• Pela sua experiência, qual o momento que sentiu mais orgulho?
Não me recordo o ano, mas entre 2005 e 2006, se não me engano, ganhamos um prêmio de Honra ao Mérito como uma das entidades mais importantes da região e do estado, e isso foi muito gratificante, pois comecei na escolinha praticamente do zero. Me deram uma responsabilidade muito grande e em pouco tempo chegamos em alto nível. Então, dentro da escolinha, foi algo que me marcou muito, mas tempos várias outras situações como atletas que passaram por mim se e tornaram jogadores profissionais, com carreira consolidada, enfim, vários momentos que me dão orgulho.
• Com quase duas décadas trabalhando esporte com as crianças, qual a diferença da juventude de hoje com a do passado?
Mudou muito, principalmente nestes últimos cinco anos. Não podemos afirmar que essa geração agora é decadente e desinteressada, sempre tem os que se sobressaem e são interessados, mas é diferente do pessoal que estava na escolinha de 2003 até 2010, quando os alunos eram altamente compenetrados, agora, entraram as tecnologias e toda hora e todo momento tem diversas distrações, tirando totalmente a atenção dos alunos. Eles não perderam todo o interesse, eles variaram demais a situação. Antigamente os alunos se concentravam da escola para os treinos. Agora não, eles têm colégio, escolinha, celular, televisão, videogame, então, mudou por completo. Se não mudar o sistema, a tendência é só piorar, falo em termos de concentração, de querer algo. O próprio nível dos atletas diminuiu um monte.
• Como o esporte pode ajudar para termos uma sociedade melhor?
É um dos pontos que o governo deveria olhar mais. Pois o esporte tem o poder de unir e integrar os pais e comunidades. Tu consegue aproximar cidades e estados diferentes por meio do esporte. E muitas vezes essa integração depende de benefícios próprios. Não se tem mais tanto apoio como se tinha antigamente. Hoje o pai não tem mais tanto incentivo, e para tu fazer o aluno entrar em uma escolinha, tu investir nele, tu tem que buscar recursos, e as dificuldades são bem maiores. Quando se tem jogo fora, por exemplo, tu tem gasto com ônibus, alimentação, entre outros e muitos pais não têm condições. Então se torna complicado para um pai colocar uma criança na escolinha. E pra tu fazer um bom cidadão tem que ter estrutura, um bom patrocínio e nisso o governo poderia ajudar mais.
Ezequiel Neitzke: ezequiel@jornalahora.inf.br