Média de suicídios é de 56 por ano

Vale do taquari - SETEMBRO AMARELO

Média de suicídios é de 56 por ano

De 2010 até setembro deste ano, 469 pessoas atentaram contra a própria vida na região. Neste ano, foram 28 notificações na Secretaria Estadual de Saúde. Equipes de saúde estruturam formas de evitar novos casos

Média de suicídios é de 56 por ano
Vale do Taquari

A divulgação do primeiro boletim do Ministério da Saúde com números sobre o suicídio, no ano passado, trouxe um dado alarmante para região. Das três cidades com maiores índices de suicídio no país, duas são do Vale do Taquari: Forquetinha, que liderou o ranking com 78,7 casos a cada cem mil habitantes, e Travesseiro, em terceiro lugar, com 57.

A partir da divulgação dos índices, o município de Forquetinha começou a trabalhar na prevenção. Desde janeiro, a Secretaria de Saúde conta com uma equipe especializada em saúde mental. O psicólogo Fabrício Saibro foi chamado para estruturar a equipe que, além dele, dispõe de psiquiatra, enfermeira e técnica em Enfermagem. Em 2018, não foi registrada nenhuma ocorrência.

Foram tomadas ainda outras medidas, como a contratação de agentes comunitárias, que visitam os usuários do serviço de saúde mensalmente. Os pacientes com dificuldade de acesso às unidades ou que se recusam a ir até elas recebem as consultas em casa. A ideia é aproximar o serviço da comunidade.

“A gente fechou o cerco nesses casos de saúde mental. Então hoje a gente consegue acompanhar, saber o que está acontecendo nas famílias. Os casos mais recorrentes nós temos todos monitorados”, explica Saibro.

Segundo a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, os altos indicativos se explicam pela população reduzida desses municípios. Como o índice é feito em relação a cem mil habitantes, em cidades pequenas, um único caso altera bastante o índice.

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Intoxicação preocupa Ministério da Saúde

Um dado que despertou preocupação do Ministério da Saúde no levantamento deste ano é referente a tentativas de suicídio por meio de intoxicação exógena, quando a pessoa tenta suicídio por meio de envenenamento ou ingestão excessiva de medicamentos e outras substâncias. O levantamento aponta que a intoxicação é o meio utilizado por mais da metade das tentativas de suicídio notificadas no país. Com relação aos óbitos, a intoxicação é a segunda causa, com 18%, ficando atrás das mortes por enforcamento, que atingem 60% do total.

Desde 2017, o Ministerio da Saúde divulga o Boletim Epidemiologico de Tentativas e Óbitos por Suicídio. Para atingir a meta da Organização Mundial da Saúde de reduzir em 10% os casos até 2020, o governo anunciou investimentos. Segundo o ministério, serão investidos R$ 4,5 milhões no desenvolvimento de pesquisas, R$ 1,4 milhão para as Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) das capitais com maiores índices e R$ 500 mil para a ampliação da estrutura dos Centros de Valorização da Vida ( CVVs).

 

Entrevista

“Me tornei mais humana e acolhedora”

Liziane Heberle é coordenadora do Centro de Valorização da Vida (CVV). Cinco anos atrás, ela estava em busca de algum trabalho voluntário e descobriu o centro. Ela se encantou com o serviço e percebeu que, além de ajudar outros, estava se tornando também uma pessoa melhor. Hoje, Liziane coordena a equipe do CVV Porto Alegre que conta com 60 voluntários e está recrutando mais 30. A sede funciona em um imóvel doado pelo governo do Estado.

A Hora – Por que decidiu se tornar voluntária do CVV?

Liziane Heberle – Desde que eu era menina de colégio, eu gostava de ouvir o que as pessoas tinham para contar, os problemas que elas traziam. Claro que nesta época eu não tinha experiência e dava conselhos, porque a gente sempre acha que pode resolver os problemas dos outros. Vi a divulgação, fiz o curso e me encantei. O treinamento ensina uma escuta diferenciada, porque a gente está acostumado a ouvir e dar conselho. Percebi que esse trabalho me mudou muito como pessoa, me tornei mais humana e acolhedora.

Como funciona o atendimento?

Liziane – A pessoa liga para o número 188 e é atendida por um voluntário que está de plantão. Não é preciso se identificar ou dizer de onde está falando. Ela começa a desabafar e a gente vai conversando de uma forma que ela se sinta segura e confiante para falar o que tem vontade. Mas a gente não diz para ela o que fazer, apesar de algumas vezes perceber o que seria melhor. A ideia é fazer com que ela perceba o que é melhor para ela.

Quais os casos mais comuns e de que forma vocês lidam com eles?

Liziane – Posso falar por mim, porque a gente não troca figurinhas sobre os atendimentos. De um ano para cá, temos percebido muitas ligações de adolescentes. Desde aquelas série 13 Reasons Why, eles descobriram o CVV. Com a situação do Brasil, temos recebido muitas ligações de adultos desempregados, eles estão pessimistas, desesperançosos. E aumentou também as ligações de idosos, se sentindo um peso para os outros, sem função no mundo. Isso mais recentemente. Antes de ser o número 188, costumavam ser sempre as mesmas pessoas que ligavam.

Qual a abrangência do CVV?

Liziane – Desde junho deste ano, todo o Brasil pode acessar o serviço por meio do 188. Ao todo, são cem centrais de atendimento no país, sendo sete no estado. Nós atendemos 2,5 milhões de pessoas por ano em todo o país.

Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br

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