Ouvir aproxima o professor do estudante

Entrevista

Ouvir aproxima o professor do estudante

Diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Gomes Freire de Andrade, Alessandra Hollmann Sulzbach, 46, avalia os desafios de ser professor. Quais são as dificuldades de ser professor em uma sociedade com muita informação? Alessandra Hollmann • Eu acredito que esse…

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Vale do Taquari
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Diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Gomes Freire de Andrade, Alessandra Hollmann Sulzbach, 46, avalia os desafios de ser professor.

Quais são as dificuldades de ser professor em uma sociedade com muita informação?

Alessandra Hollmann • Eu acredito que esse seja o nosso maior desafio, passou-se uma época em que nós íamos até a escola em busca do conhecimento. Se tínhamos uma pesquisa, algo a fazer, nós tínhamos que ir até a biblioteca. Hoje o conhecimento está disponível, mas o nosso jovem muitas vezes não sabe o que fazer com ele. E esse é o nosso maior desafio como escola, como professor, saber primeiro que não somos detentores do saber, também estamos recebendo muita informação, mas precisamos ser mediadores.

Como o professor pode ser um agente transformador?

Alessandra Hollmann • Com pequenas ações que vão fazer toda a diferença na vida deles. Primeiro, estamos em uma sala de aula com cada vez mais alunos em um mesmo local, com um histórico cultural totalmente diferente. O fato de nós aceitarmos todas essas diversidades já é muito especial, de saber que nem todos que estão ali querem seguir a profissão que tu escolheu. Eu digo isso a eles sempre. Precisam se preocupar não em ter todo o conhecimento possível e tirar os melhores conceitos, mas aprender a viver em uma comunidade que exige cada vez mais iniciativa, atitude, mudança, ser crítico. Nós como professores precisamos saber que cada um tem o seu tempo e sua forma diferente, se não tivermos esse olhar, acredito que não vamos influenciar muito na vida deles. Mas não podemos esquecer das relações de respeito entre alunos e professores.

Às vezes a escola acaba tendo que adotar funções educadoras que seriam das famílias, em decorrência da falta de tempo delas com as crianças. Como você vê isso?

Alessandra Hollmann • Eu acho que não adianta nós virarmos as costas e dizer que, se a família não fez a sua parte, nós como escola não vamos fazer. Hoje as crianças e os adolescentes passam realmente muitas vezes mais tempo conosco do que com as suas famílias, então, eu acredito que o fato de eles estarem nos transferindo essas funções é porque eles também não estão preparados para essa mudança tecnológica e de informação que vem ocorrendo. E eu acredito que, quanto menor a criança for, e tu tentar trabalhar isso, mais ela vai conseguir levar para a vida dela. Nós não podemos virar as costas e dizer não, essa não é a nossa função, mas trabalhar com as famílias, tentar trazê-las para a escola e tentar colocar a função que elas têm.

Você concorda que às vezes o professor acaba tendo também um papel de psicólogo? Como você vê isso?

Alessandra Hollmann • Acredito que precisamos desses profissionais dentro das escolas. Isso é uma das nossas dificuldades nas escolas públicas e estaduais, em decorrência das legislações. Eu penso que o fato de tu ouvir o teu aluno faz com que tu te aproxime mais dele. O conselho que de repente vem da gente como professor naquele momento vai ser muito melhor do que aquele que de repente em casa ele recebe aos gritos. Ou então da forma que muitas vezes ele é excluído na própria sala, se tu não der esse olhar, a gente tem que fazer essa função, pelo menos do ouvir e de repente tentar uma intervenção, nós não vamos fazer o papel do psicólogo, mas tentar dizer, olha, quem sabe vamos tentar procurar esse profissional. Ou então nós temos hoje tantos órgãos e outros grupos que trabalham com isso, o Cras, a CRE, o Conselho Tutelar, tentar trazer essas pessoas e elas acabam influenciando também, mas acho que a gente tem que ter esse olhar sim.

Qual a sua visão com relação às reprovações dos alunos e como isso impacta na vida deles?

Alessandra Hollmann • A gente luta muito para diminuir os índices de reprovação. Nós temos que olhar esses alunos de forma integral. A nossa realidade é muitas vezes de filhos de agricultores que vêm do interior, precisamos perceber o que uma reprovação vai significar na vida deles. Sou muito a favor de uma reprovação quando houver descaso, quando ele não souber fazer a sua parte. O professor proporciona diversos tipos de atividades. Se o aluno não entrega, não faz, podem ser duas situações muito diferentes: aquele que tenta, que tem a iniciativa, que busca, mas que tem a sua dificuldade em função, muitas vezes, de problemas cognitivos, emocionais, mas também tem aquele que dá um descaso total para a educação, não dá importância. Isso muitas vezes acaba aumentando os índices de evasão, em função de uma sequência de reprovações.

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