“Travesti enfrenta mais preconceito do que o gay”

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“Travesti enfrenta mais preconceito do que o gay”

Ela se chama Maria Luiza de Souza Algerich – mais conhecida como Malu. É natural de Passo Fundo, mas adotou o Vale como morada faz mais 20 anos. Recentemente recebeu nova certidão – com alteração de nome e gênero. Mais…

“Travesti enfrenta mais preconceito do que o gay”

Ela se chama Maria Luiza de Souza Algerich – mais conhecida como Malu. É natural de Passo Fundo, mas adotou o Vale como morada faz mais 20 anos. Recentemente recebeu nova certidão – com alteração de nome e gênero. Mais mulher do que nunca, agora pensa na cirurgia de troca de sexo.
• Você vem do norte do RS. Como foi a chegada ao Vale e o que te faz permanecer na região?
Faz mais de 20 anos. Quando cheguei em Lajeado, eu era de menor. Vim com uma amiga para trabalhar em uma boate próximo à BR. Mas como eu não tinha idade ainda, fiquei por pouco tempo. Na época, fiz meu alistamento militar e, logo depois, fui trabalhar nas imediações da avenida Sete de Setembro. Mais tarde, morei e trabalhei em Estrela por quatro anos. Fui ficando e gostando cada vez mais da região. Sinto que aqui criei minhas raízes. Hoje tenho residência em Lajeado.
• Faz pouco tempo você deixou o nome de Jorge Maurício para trás e conquistou o nome que escolheu – Maria Luiza. Como é ser oficialmente identificada com o gênero que você se define?
Não aguentava mais o constrangimento. Pela aparência que levo, tinha que chegar nos lugares e apresentar nome masculino. Isso tudo começou aos 15 anos, quando percebi que tinha atração por meninos. Quando criança, eu brincava com bonecas. Minha família não aceitava. Me rejeitaram. Tive que sair de casa e morar na casa de outros parentes. Até que cheguei na última possibilidade de morar perto da família, onde também fui rejeitada. Eu queria usar batom, vestido e salto alto. Roupa de mulher.
• Como é ser travesti?
Tenho o sexo masculino, mas me visto de mulher. O travesti enfrenta mais preconceito do que o gay, pois ao vestir-se como mulher acaba chamando ainda mais atenção do que alguém que goste de pessoas do mesmo sexo e se veste de forma tradicional. O travesti tem ousadia. Mas percebo que as pessoas estão se libertando mais. Ainda tem muita gente “enrustida”, que passa a vida fingindo ser algo que não é, mas precisa manter os padrões em meio à família e à sociedade.
• Durante sua vida, você sofreu constrangimentos de pessoas homofóbicas. Como é enfrentar essas situações?
Sinto que sou só mais uma pessoa que sofre preconceitos – assim como o negro, o magro ou o paralítico. Infelizmente, isso é algo presente na nossa sociedade. É triste. Tenho personalidade forte, não me abalo com a opinião dos outros. Sigo em frente com minha vontade de viver e ser quem eu sou. Atualmente penso em fazer cirurgia de troca de sexo. Quero me olhar no espelho e ver uma mulher com o sexo combinando. Porém ainda estou receosa. Tenho medo de perder o meu prazer. Não sei se quero abrir mão disso para agradar os outros.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br

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