Terapia dos tecidos

Decoração

Terapia dos tecidos

Unidas por motivos diferentes, mulheres encontram na atividade de costurar uma terapia em comum

Terapia dos tecidos
Vale do Taquari

Unir pedaços de tecido e montar peças cheias de dedicação e amor transformou por completo a vida de pelo menos 80 mulheres que encontraram na atividade de criar algo novo uma oportunidade de aprender mais sobre si mesmas. A professora dessa turma toda, Magda Bolsi, é responsável pelas tardes regadas à costura, chimarrão e conversa. Já completa três décadas dedicadas ao artesanato.

Patchwork que, na tradução literal, significa “costura com retalhos”, deixou de ser apenas uma atividade e se tornou terapia. “Tenho alunas de 16 a 82 anos, divididas em diversas turmas. É um momento de todas pararem as rotinas agitadas e relaxarem. Tenho alunas comigo faz 13 anos”, conta a professora.

Dona de uma loja de tecidos e artesanato, que também abriga salas de aula, Valkiria Diel deixou a profissão de nutricionista para se dedicar aos panos e agulhas. “Há oito anos, quando abri a loja e atelier Boneca Moleca, atendia como nutricionista em alguns horários e junto tocava a loja. Mas com o tempo descobri que a minha paixão estava aqui, costurando bonecas”, relembra.

Ao visitar a turma da sexta-feira à tarde, era nítida a empolgação das alunas. Moradora de Progresso, a dentista Cláudia Brancher Baroni, 50, dirige a Lajeado todas as semanas e garante assiduidade nos encontros de costura. Tudo começou porque desejava costurar uma bolsa de tricô e decidiu fazer uma aula avulsa. Como não sabia costurar, precisou de mais duas. “Aquelas aulas me fizeram tão bem que já faz quatro anos que venho”, sorri.

Parceiras no artesanato, Valkiria fornece espaço e tecido, enquanto Magda dá aulas

Parceiras no artesanato, Valkiria fornece espaço e tecido, enquanto Magda dá aulas

De acordo com Cláudia, o patchwork é um ótimo passatempo para pessoas agitadas como ela. “Eu sempre chego feliz em casa e meu marido percebeu isso. Ele até montou um ateliê em casa pra mim”, comemora.

Leda Cecília Berté Jachetti

Aos 78 anos, Leda Cecília Berté Jachetti herdou da mãe o dom e gosto pela costura. Fascinada pela arte de unir retalhos de forma harmônica, costura bolsas, trilhos e tudo o que a família quiser. “Gosto de dar de presente para as pessoas mais próximas. É o meu jeito de demonstrar afeto”, diz.

E para quem pensa que dona Leda tira férias da costura, ela conta que indicou para outras amigas e, juntas, costuram até durante o veraneio na praia. “É a minha terapia. A professora orienta, o marido ajuda e apoia e eu saio sempre sorrindo”, relata.

Parceiras de costura

De Bom Retiro do Sul, Marta Schuh de Souza, 69, viaja todas as semanas com a amiga Zaneida para as aulas de patchwork. Convidada várias vezes pela agora parceira de viagem, ela conta que não larga mais a oficina. “Eu, como professora aposentada, sempre gostei de trabalhos manuais. Já estou no grupo faz um ano e meio e pretendo assim continuar”, diz.

Mãe de três filhos, Marta conta que ser dono das peças produzidas já virou uma disputa em casa. “Eu adoro presentear eles com meus trabalhos. Da mesma maneira que sinto um enorme carinho quando recebo alguma peça produzida manualmente por alguma amiga. É muito mais gostoso”, revela.

Satisfação pessoal

Um dos rostos mais presentes no espaço de costura é da aluna Lurdes Bersch, 65. “Vou quase todos os dias.” Seja pra buscar tecidos ou para encontrar inspiração, já considera o ateliê um segundo lar. “Faço patchwork faz 20 anos. É uma enorme satisfação pessoal ver o trabalho pronto e se sentir capaz de fazer verdadeiras obras de arte com tecido. Cada dia me encanto mais pelos trabalhos que eu e as meninas realizamos”, elogia. O apreço pela arte é tanto que Lurdes dedicou duas peças da casa só para a costura.

Outra veterana é Jerusa Jaeger, 79, que produz peças para presentear a família faz 20 anos. “Eu adoro isso. Tenho cinco filhos, oito netos e um bisneto e todo mundo já ganhou presentinhos”, brinca.

Camila Dassena

Profissão e renda

Caçula da turma de sexta-feira, Camila Dassena, 23, começou a se interessar por costura ao decidir fazer sozinha a decoração da festa de 1 ano da primeira filha. “Comprei uma máquina e tecidos e comecei”, relembra. Hoje com duas filhas, uma de 3 e outra de 4 anos, sustenta a família com suas produções. “Vendo com ajuda do Facebook e sob encomenda para pessoas conhecidas”, relata.

Mesmo sendo um trabalho, Camila garante que é o seu momento de relaxar. “Costurar é a minha melhor terapia e não conseguiria viver mais sem. Quando não tenho encomendas, invento alguma coisa e continuo a unir paninhos”, conta.


pacthwork

• Por que os trabalhos manuais podem ser benéficos?

Em consequência da mudança de rotina, algumas mulheres aposentadas podem desenvolver sofrimento psíquico. Muitas vezes, exerciam seu trabalho de forma ativa e quando se aposentam passam por uma mudança brusca de realidade. Nesse sentido, os trabalhos manuais surgem como uma oportunidade de continuar se envolvendo em alguma atividade. O artesanato, por exemplo, tem grande potencial terapêutico, pois através da arte e da criatividade conseguimos promover um momento de autoconhecimento, de liberação de nossos sentimentos e emoções, consequentemente, diminuímos nossa ansiedade e desânimo.

• Mulheres aposentadas tendem a ficar cada vez mais sozinhas se não se envolverem em atividades. A socialização com as outras alunas no curso traz algum benefício às idosas?

As atividades na terceira idade são fundamentais para a socialização. Muitos idosos se sentem fragilizados ao se depararem com o envelhecimento e, em razão disso, acabam se isolando e não conseguindo externalizar seu sofrimento. Se envolver com atividades de grupos pode trazer grandes benefícios nessa etapa de vida, pois favorece a relação com o outro e desenvolve o sentimento de pertencimento.

• De que maneira os trabalhos manuais ajudam na melhoria da qualidade de vida? Quais os fatores relevantes nesse processo?

Atividades manuais, de raciocínio e de interação em grupo são grandes remédios para evitar risco de doenças e síndromes mentais, isso porque são atividades estimulantes para nosso cérebro. Idosos que continuam ativos e desenvolvem atividades manuais também apresentam aumento nas respostas cognitivas, como, por exemplo, a memória.

• Algumas mulheres relataram que se sentem orgulhosas dos trabalhos que realizam em patchwork, chegando a contar que não acreditavam ser capazes de fazê-los. Enxergar resultados e a sensação de se sentir produtiva surtem efeitos na autoestima?

O segredo do bem-estar é o equilíbrio entre mente e corpo. Existem estudos que apontam os trabalhos manuais como um dos pilares de uma velhice saudável. Além de ser uma atividade de lazer e prazer, também pode ser transformada em uma fonte de renda, fazendo o idoso se sentir novamente produtivo. Nesse sentido, ver os resultados favorece a autoestima e o sentimento de competência pessoal. Com a chegada da terceira idade, temos, de forma geral, um declínio das aptidões físicas, porém, podemos alterar esse quadro se desenvolvermos outras possibilidades de viver que promovam o bem-estar e a autoestima.

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