Campo vira casa para dez famílias

Estrela

Campo vira casa para dez famílias

Antigo depósito de materiais do Estrela Futebol Clube abriga dez famílias em situação de vulnerabilidade

Campo vira casa para dez famílias
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Um antigo depósito de matérias esportivos utilizado no passado pelo extinto Estrela Futebol Clube é hoje o único teto para Marcelo Luís Silva e Roseli Andréa da Silva. Dentro do pequeno cômodo com pouco mais de 20 metros quadrados, também vivem cinco crianças. Uma tem apenas 9 meses. Três são filhos do casal, e dois só dela. O banheiro é compartilhado com outras dez famílias.

A situação do Estádio Aloysio Valentim Schwertner é de completo abandono. Logo no acesso lateral, o cheiro de fezes e urina toma conta do ambiente. Há dezenas de carcaças de eletrodomésticos, móveis e outros materiais possivelmente recicláveis. Também há muitos cachorros no local.

O gramado que já recebeu craques do Grêmio e do Internacional durante décadas virou mato e pasto para alguns cavalos. Onde ficava a bandeirinha de escanteio, no lado direito das antigas e agora moribundas cabines de imprensa, há um varal estendido. Panos e cobertores úmidos estão estendidos. “A gente se vira como dá”, resume Roseli.

O casal mora no pequeno cômodo ao lado da antiga arquibancada faz cinco anos. Chegaram no dia 8 de setembro de 2013. Foram colocados lá pela equipe da Defesa Civil, conta Marcelo. “Morávamos em uma área alagável. Daí nos trouxeram para cá, onde a água demora um pouco mais para bater.”

Marcelo tem 33 anos e diz que tentou uma casa no loteamento Nova Morada, mas não sabe precisar o motivo de não ter recebido o benefício. “Não lembro muito bem o motivo. Acho que na época minha renda não era suficiente”, resume, e troca de assunto.

Ele trabalha em um ferro-velho, mas realizou cirurgia faz pouco tempo. Roseli recebe auxílio do programa federal Bolsa-Família. São R$ 427 por mês. “Eu gasto R$ 200 só com a Topic, para mandar os dois pequenos para a escola.” Por mês, gastam em torno de R$ 700 em supermercado. “Fora o leite e as fraldas. E a renda vem quase só dele. E a turma é grande.”

“Queria uma casa”

Marcelo ainda aguarda por uma casa nova. A realocação em 2013 era para ser temporária, diz. “No início até cuidavam do campo, deixavam mais limpinho. Agora tá tudo assim ‘meio’ largado. Queria mesmo era uma nova casa”, confessa. O banheiro tem água quente. Mas é compartilhado com outras dez famílias.

Na tarde dessa quinta-feira, os netos de Roseli também brincavam no gramado alto junto com filhos dos demais moradores. Ao fundo, música alta saindo de outra edificação em ruínas e que provavelmente abrigou atletas no passado. “Minha filha trouxe eles para passar o dia aqui. Mora em Lajeado, mas não tem creche integral. Não tá fácil para ninguém”, resigna-se.

Governo projeta loteamento

O estádio pertence ao governo municipal. Segundo a coordenadora de Habitação da Secretaria de Desenvolvimento Social de Estrela, Daiana Ávila, só sete famílias vivem legalmente naquele imóvel. “Foram realocadas naquele local, em caráter provisório, pela Defesa Civil do município, em função de que as residências nas quais moravam estavam em situação vulnerável.”

Sem citar prazos, a coordenadora avisa que o governo busca recursos e já deu início ao projeto de engenharia e desmembramento de uma área no bairro das Indústrias para novo loteamento popular. Serão oito moradias. “Depois destes trâmites completamente concluídos, será feito o chamamento dessas famílias”, garante.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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