Atividade questiona os comportamentos

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Atividade questiona os comportamentos

Profissionais de diferentes áreas e setores vão até escolas conversar com alunos e professores. Oferecem novos formatos de relacionamento e instigam reflexões sobre o ensino e a educação

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Atividade questiona os comportamentos
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Do mundo infantil rodeado de brincadeiras, desenhos coloridos e sorrisos inocentes à preparação para o mercado de trabalho e a escolha da profissão. O papel do professor não é só passar os conhecimentos práticos e teóricos de História, Português ou Matemática. Essa fase é o momento de descobrir sobre a vida e fortalecer os princípios que são diferentes para cada um de nós.

Para que a criança sinta-se parte do ambiente escolar, a forma de lidar com as personalidades singulares de cada uma requer conhecimentos empíricos que a sensibilidade ensina dia após dia. Essa sensibilidade que muitas vezes é adquirida no ambiente escolar permite que os professores ajudem no crescimento individual dos alunos.

Antes de saber o que querem ser, e de se reconhecer como indivíduos, os professores já estão segurando as mãos e guiando passos para o futuro, junto das famílias. Valorizar esse carinho e amor identificando as pessoas por trás de cada cargo na escola tem poder de fortalecer as relações desses professores com a instituição, com os alunos e com a comunidade.

Tendo isso em vista, as caravanas do Projeto PENSE estimulam o relacionamento entre alunos e professores, trazendo o cuidado, a valorização e o valor à educação nas escolas. As caravanas são formadas por equipes do A Hora e dos apoiadores, Sicoob, Amvat, Cron, Univates, 3ª CRE e Instituto Dale Carnegie, que vão aos colégios realizar atividades com alunos e professores. Nas últimas semanas, as caravanas ocorreram em Santa Clara do Sul e Cruzeiro do Sul.

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Educação na vitrine

Segundo o secretário da Educação de Santa Clara do Sul, Mauro Heinen, o PENSE veio para dar visibilidade aos trabalhos realizados nas escolas, porque, segundo ele, o conhecimento acaba ficando só nas salas de aula. “Falta colocar a educação na vitrine, porque é por meio dela que podemos melhorar a nossa cidade e o nosso país”, afirma.

Para o prefeito, Paulo Cezar Kohlrausch, a iniciativa tem o objetivo de refletir sobre a educação e discutir as fórmulas de ensino. “Nós precisamos visualizar o país que nós queremos e atentar à formação dos cidadãos, incentivando a capacidade de sonhar e construir uma sociedade unida e modificada”, defende.

Depois de contar experiências vividas na educação, o diretor-geral do A Hora, Adair Weiss, questionou os alunos e mestres que o assistiam sobre como seria o mundo sem professores. “Eu tenho me perguntado isso, como eu seria? Como vocês seriam? Teríamos profissionais de outras áreas?”, indagou.

Para ele, a educação é a base de tudo, e o começo está em cada um de nós. “Tem muita gente com os mesmos objetivos, mas precisamos nos unir, nos organizar, e usar o que podemos para difundir conhecimentos. Eu acredito nos professores”, afirmou.

Santa Clara do Sul

Nas salas de aula enfeitadas com desenhos e símbolos infantis, uma lista de regras assinada pelos alunos da professora Grasiela Arenhaldt Bruch chamou a atenção. Entre elas, o compromisso com o respeito e a amizade entre alunos e professores que frequentam a Escola Estadual de Ensino Médio Santa Clara.

O dia 14 de junho amanheceu gelado, com 4ºC. Perto das 8h, estudantes das escolas municipais e estadual já sentavam nos tatames colocados pela equipe do A Hora no ginásio da escola, enroladas em cobertores azuis, rosas, verdes e amarelos, com as garrafas térmicas de chás para esquentar as mãos.

De braços dados com os colegas, Samanta Ohbweuler, 15, lembra com carinho do incentivo que sempre ganhou dos professores: “Eles nunca nos deixam desistir, nos fazem acreditar na gente e sonhar. Eles passaram pelo que passaram e estão aí”, afirmou.

A aluna Maria Eduarda Schmitt, 13, conta que os professores a incentivam dizendo que, se ela se esforçar, sempre vai conseguir. A menina, que mora no bairro Floresta, em Lajeado, pretende cursar Direito.

Giovana da Silva, 16, conta que tinha dificuldades em Matemática. “Para auxiliar nas nossas dificuldades, os professores fazem grupos, conversam e sentam com a gente para explicar”, afirmou. Para ela, é importante estar na escola aprendendo e não estar nas ruas fazendo coisas que não são boas para o crescimento como cidadão.

Entre as dinâmicas trabalhadas com os alunos de Cruzeiro do Sul, estudantes são estimulados a escrever mensagens aos professores, por meio de atividade desenvolvida pelo Sicoob

Entre as dinâmicas trabalhadas com os alunos de Cruzeiro do Sul, estudantes são estimulados a escrever mensagens aos professores, por meio de atividade desenvolvida pelo Sicoob

Cruzeiro do Sul

Nas arquibancadas do ginásio da escola João de Deus, turmas do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3° do Ensino Médio das escolas da cidade dividiam lanches, brincadeiras e sorrisos em uma tarde fria de julho. O PENSE também bateu à porta de Cruzeiro de Sul para espalhar seus ideais.

Entre uma atividade e outra, uma das principais ideias de carinho na infância remete à atenção dos professores dentro e fora de sala de aula. Eles são exemplos e auxiliam nas escolhas para o futuro.

O que você quer ser quando crescer?

Essa atenção muitas vezes é recíproca entre professores e alunos. Carolina Heller, 10, conta que a turma dela organizou uma festa surpresa para uma das professoras no ano anterior. “A profe Roseli dava aulas diferentes, ajudava a gente, então, fizemos uma festa para ela”, contou. A menina quer ser professora e acredita que Roseli tenha ajudado na decisão.

Lucas Ramos, 11, tem o sonho de ser jogador de futebol. Ele conta que os professores faziam jogos na forma de aprendizado e que eram tranquilos para ensinar.

Atividades que exigem cooperação e trabalho em equipe são desenvolvidas pela cooperativa Sicoob, uma das parceiras do projeto Pense

Atividades que exigem cooperação e trabalho em equipe são desenvolvidas pela cooperativa Sicoob, uma das parceiras do projeto Pense

Entre uma história e outra, a aluna do 7º ano, Helen Pappis, 12, conta que a professora de Português está com a turma faz 4 anos e sempre se preocupou em cuidar dos alunos. “Quando ela via que eu não estava bem, indicava um livro que fazia eu me identificar com a história e me ajudava a passar pelo que eu estava enfrentando”, conta. Na opinião de Helen, os professores querem dar o seu melhor aos alunos, e isso deve ser valorizado sempre.

Thielly Nunes Muller, 11, quer ser pediatra. A aluna do 5º ano da escola Jacob Sehn conta: “A profe Aline era muito legal. Ela era animada, explicava bem, interagia. Até piada ela contava”.

No 6° ano, Raica Martins de Azevedo, 11, admira os professores pela paciência para explicar, ensinar e ajudar no que os alunos precisam.

Prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch, aposta na educação como ferramenta de evolução

Prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch, aposta na educação como ferramenta de evolução

Cativar é criar laços

O professor de Educação Física da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Clara, Sérgio Rocha, 57, conta que a maior valorização está no retorno de agradecimento dos alunos que já passaram por ele. “Vários alunos vêm nos agradecer pela forma de ensino na escola, na vida e pelas nossas palavras de incentivo”, conta. Para ele, o segredo é dar aula com prazer e alegria, porque esses sentimentos contagiam.

Na porta de entrada da sala de aula da professora Grasiela, a frase “Cativar é criar laços” compõe o quadro do Pequeno Príncipe. Ao redor dele, imagens das crianças e palavras como amor e respeito são as escolhidas para simbolizar esses laços em uma analogia ao livro O Pequeno Príncipe.

A professora Grasi, como mostram as letras em seu caderno colorido, conta que trabalha com a alfabetização e que a maior satisfação está em ver a transformação deles ao longo do ano. “Isso é o que me faz querer levantar todos os dias”, afirmou.

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“É muito bom poder conhecer o aluno e fazer alguma coisa por ele naquele dia”, conta. Entre um abraço e outro, para ela, encontrar alunos já formados e receber o reconhecimento e a lembrança deles é umas das coisas mais gratificantes na profissão.

 

Com dez anos de profissão, a professora Soraia Steinhoefel, 41, conta que, apesar dos desafios, ela procura valorizar os pontos positivos de ensinar, como os diálogos e poder ajudar os alunos no dia a dia. “Também tem que ter sede de conhecimento. Eu passo para eles que a educação é o que vai levá-los para frente”. Para ela, o PENSE é inovador porque pensa na educação como um todo, ligando alunos e professores.

“Eu busco passar o conhecimento que eu tive para eles. Com isso, a gente busca uma sociedade melhor, mais justa”, conta a professora de Biologia, Liliane Comerlato, 39. Faz seis anos, a rotina dela nas salas de aula alerta sobre os cuidados com o meio ambiente, perpassando os valores que aprendeu e estimulando os alunos a enxergar o lado bom da vida. No PENSE, ela inscreveu a escola com um projeto sobre sustentabilidade.

Para a diretora da escola João de Deus, de Cruzeiro do Sul, Silvane Sehn Delavald, a Caravana foi de valorização e união entre professores, escolas, alunos e famílias. “É um momento de aprender e ensinar”, afirmou.

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Vocação para educar

A diretora Iara Rambo sempre trabalhou com os alunos em salas de aulas, mas há alguns anos foi convidada a compor a diretoria da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Clara. Ela conta que a experiência tem sido diferente, e que levou um tempo até se acostumar a não ministrar apenas uma turma, e sim várias. “Eu sinto falta de poder ficar frente a frente com os alunos no dia a dia. Gosto desse contato, é a minha realização”, conta.

Para ela, é gratificante poder ajudar as crianças e as famílias. “A melhor parte é quando conseguimos ajudá-las e melhorar algumas coisas no seu dia. Eu conseguiu me formar e seguir o sonho de educar graças aos meus professores”, reconhece.

Da vocação surgiu o sonho de ser educadora. “Desde criança, sempre brinquei de aulinha, nunca pensei em fazer outra coisa ou ter outra profissão. A escola é o lugar onde gosto de estar”, conta a diretora.

Do Ensino Médio para a vida

Um ao lado do outro, os alunos sorriam nervosos. Em frente à equipe do A Hora, o momento era de contar as experiências que seus professores vêm deixando desde a infância.

Sempre sorridente e bondosa, assim a professora Glaci Brunch Martens é lembrada com carinho pelos alunos. Micael Magetanz,17, conta que ela deixava todo mundo para cima. “O professor é a base de tudo, ele precisa de respeito e a gente precisa valorizá-lo”, afirmou o estudante do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Clara.

Professores de Cruzeiro do Sul com a equipe do instituto Dale Carnegie. Relações humanas, controle do stress e das preocupações, valorização do indivíduo e o poder dos mestres estão entre as abordagens das caravanas

Professores de Cruzeiro do Sul com a equipe do instituto Dale Carnegie. Relações humanas, controle do stress e das preocupações, valorização do indivíduo e o poder dos mestres estão entre as abordagens das caravanas

A escola é também lugar de aprendizado e troca cultural. A colombiana Wendy Jaramillo, 18, cursa o 3º ano do Ensino Médio. Ela conta que está no Brasil faz um ano e cinco meses e foi bem acolhida pelos professores. “Fui muito incentivada a aprender português quando vim pra cá, foi muito legal”, conta. “Precisamos lembrar dos professores sempre, e não perder o contato com eles depois de sair da escola”.

Evelin Dullius, 16, está no 2º ano do Ensino Médio e acredita que um professor é um membro da família e um melhor amigo. “A professora Glaci já nos levou para a casa dela, para ela, todos nós éramos iguais”, conta.

Na opinião de Mônica Klein, 16, do 2º ano, sem professores não haveria evolução. “Eles logo percebem quando a gente não está bem. Às vezes percebem mais do que o nosso melhor amigo, e sempre sabem o que fazer”, conta.

Renato Cramer é médico do Cron, e em cada visita a escola, fala sobre a importância dos professores atentarem aos cuidados básicos do corpo e da mente para evitarem complicações futuras, especialmente num cotidiano de desafios e mudanças permanentes

Renato Cramer é médico do Cron, e em cada visita a escola, fala sobre a importância dos professores atentarem aos cuidados básicos do corpo e da mente para evitarem complicações futuras, especialmente num cotidiano de desafios e mudanças permanentes

Incentivo ao esporte

No chão do ginásio da escola, os alunos um ao lado do outro observavam o professor de ginástica artística Minoro Marcos e os seus atletas em um momento de incentivo ao esporte. Algumas crianças foram convidadas a pular no trampolim que a equipe da Univates levou à escola.

Entre um salto e outro, Cristian Bruch, 14, da escola Santa Clara, conta que quis esperar para subir ao trampolim para ver se tinha capacidade, mas, incentivado, acabou participando da atividade.

Enquanto calçava os tênis, diz que seus professores sempre ensinaram que em momentos de dificuldade o que importa é o esforço. “Depois de uma chuva sempre vem o Sol”, afirmou. O aluno do 9º ano, que gosta de jogar vôlei, futebol e praticar ciclismo, pretende cursar Gestão Administrativa na faculdade.

Depois de pular no trampolim, Cícero Dill de Oliveira, 10, conta que só havia visto aquilo na TV. A ideia era que as crianças que fossem pular ficassem bem ao centro, onde a marca de um “x” podia ser vista. “É difícil ficar naquele círculo. Não sei se um dia eu vou fazer isso de novo”, conta o aluno da escola Jacon Sehn.

Atletas da ginástica artística da Univates se apresentam durante as caravanas. Atividade integra alunos e serve de estímulo para quem sonha com o esporte

Atletas da ginástica artística da Univates se apresentam durante as caravanas. Atividade integra alunos e serve de estímulo para quem sonha com o esporte

Cooperação para prosperar

Com as cadeiras dispostas em roda, os alunos participaram de atividades como a dança da cadeira, promovidas pelo Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). Mas dessa vez a brincadeira foi diferente, as pessoas não saíam, apenas as cadeiras. No fim, mais de dez crianças se aglomeraram em uma cadeira apenas e, de forma coletiva, conseguiram cumprir o objetivo.

Em clima de Copa do Mundo, as federações foram exemplos de cooperativismo, e deram início às atividades. Grupos em círculos unidos pelas mãos passavam um bambolê pelo corpo de um colega a outro, sem cair. O objetivo foi promover a união e o respeito com o corpo de cada um.

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Seguindo com as brincadeiras, foram formadas quatro equipes de 12 pessoas, que receberam dois retângulos de tecidos coloridos onde cada equipe pudesse pisar. Passando os retângulos para frente, a ideia era conseguir atravessar o ginásio sem que nenhum aluno ficasse de fora dos tecidos.

Com papel e caneta em mãos, sentados no chão, os alunos deveriam escrever algo que os lembrasse dos professores e colocar o cartão em um balão. Entre uma mensagem e outra, uma delas dizia ”Queridos professores, vocês são uns anjos.”

Outras atividades com balão e bambolê também instigaram o espírito do cooperativismo nos alunos. Aprenderam que com a ajuda de todos os resultados são melhores para o grupo principal.

Pensar na saúde e na educação

A algumas ruas do ginásio, em Santa Clara do Sul, na sala de aula em frente à quadra coberta da escola, os professores se reuniram para ouvir as palestras promovidas pelo Centro Regional de Oncologia (Cron) e Dale Carnegie.

Na tarde em que a Caravana visitou Cruzeiro do Sul, o médico oncologista Renato Cramer proporcionou um momento para pensar na importância da saúde física e mental do professor. “A educação pode ser vista na saúde também. Os professores são formadores de opinião, educam nossos filhos, e um professor doente faz seus alunos ficarem doentes também”, afirmou.

O diretor da Dale Carnegie, Henrique Kuhn, expôs as diretrizes da liderança e motivação a serem desenvolvidas pelos mestres, e afirmou que as relações humanas são importantes no dia a dia das escolas.

No debate estimulado por ele, os professores contaram que acreditam que somos o reflexo do que pensamos e que, ao lidar com o próximo, temos que ter a humildade de proferir elogios sinceros e providos de conhecimento.

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