Encontros divinos

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Encontros divinos

Por

Recebi de uma amiga no whatsApp um link que sugeria ouvir uma adolescente cantando em um destes reality shows americanos. Sentada no balcão de uma padaria esperando minha taça de café, resolvi colocar meus fones e acessar o link sugerido por ela. Eu não tinha ideia do que aconteceria.
No início do vídeo, aparecia uma menina com seus pais, dando um breve depoimento. Praxe. Na sequência, ela surpreende jurados e plateia com aquele vozeirão que vem do âmago. Praxe também. Ainda assim, depois de ouvi-la cantar, paguei o maior mico, derramada em lágrimas e soluços. Por quê? Porque todo aquele vozeirão trouxe uma música que tinha em seu refrão a palavra aleluia”. Não resisto nunca. Cantou “aleluia”, pronto, choro, me emociono mesmo.
Não sou religiosa e estou caminhando para me tornar mais espiritualizada, mas tenho certeza que sou sensível aos preceitos de amor, compaixão, altruísmo, responsabilidade e livre arbítrio. Talvez você esteja se perguntando como que alguém que não se diz religiosa ou espiritualizada pode se emocionar com “aleluia”.
Quer saber? Pensei nisso também e em minha reflexão compreendi que “louvar Deus” (significado de aleluia) tem tudo a ver com a minha percepção e meus valores. Em outras palavras, penso que louvo Deus toda a vez que tenho encontros divinos e fico emocionada, tocada e mais próxima do céu (céu no sentido de bem-estar).
Tive um encontro inesquecível com ele (Deus) quando aos 19 anos voei pela primeira vez e vi sobre as nuvens a lua cheia refletindo em um imenso mar de algodão branco. Fui arrebatada pelo esplendor daquele visual.
Esse mesmo efeito de êxtase eu tive em outro encontro há alguns anos quando entrei no museu Louvre e fui surpreendida por uma escultura talhada em mármore que juro, à noite, quando ninguém está olhando, deve assim como naquele filme, ter vida. Só pode ser pelas mãos de um Deus que um homem conseguiria transferir transparência às vestes de uma madona gelada e pálida.
Fala serio! Você já viu o que é “A escultura velada” do artista italiano do século XIX Giovanni Strazza? Se não viu, veja. De que outra forma senão por uma força divina artistas fariam esses véus em mármore?
Que nome dar então para o amor incondicional que nos toma quando olhamos para o nosso filho pela primeira vez? Deus. Esse é o nome. E os poemas de Fernando Pessoa e Mário Quintana? Aleluia! E as obras de Picasso, Modigliani e Da Vinci? E as vozes do Andrea Bocelli e da Sarah Brightman. Divinas.
Seriam infinitos os exemplos que poderíamos explorar. Todo momento amoroso, todo abraço carinhoso, beijar quando se está apaixonado. Todos os artistas que nos tocam a alma e todos os momentos e gestos que nos entregam um pouco mais de humanidade só podem ser Deus nos encontrando e oportunizando que o louvemos.
Pensando neste contexto compreendo melhor as palavras do Vinícius de Moraes quando nos disse que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Faz sentido.

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