O consumo de vinho no Brasil é de cerca de dois litros per capita/ano. Ainda está bem longe dos números atingidos por países europeus ou pelos latinos Argentina e Chile, mas, se depender da divulgação da cultura envolvendo o ‘néctar dos deuses’ por aqui, os indicadores tendem a crescer.
Apesar de sites, programas de TV e redes sociais ampliarem a vitrina de peritos no assunto, o consumidor que está iniciando na degustação do principal derivado da uva não deve se intimidar.
Segundo a sommelier Mariane Schwingel, se criou a ideia de que ter conhecimento sobre o vinho é uma obrigação. “Nem todas as pessoas têm essa coisa de querer descobrir o mais do vinho, e tomam pelo prazer que o vinho oferece, assim como sentem prazer em tomar um suco gostoso.”
Porém, na hora de comprar uma garrafa, é interessante atentar para algumas informações, que podem ser esclarecidas com o vendedor e que podem favorecer o paladar. A primeira é identificar a uva.
Os vinhos de mesa, ou coloniais, levam esse nome porque são produzidos como as frutas que são levadas à mesa para consumo in natura, como ocorre com as variedades isabel e niagara. E preferir esse tipo, comenta Mariane, não tem problema. “Às vezes, tu se sente culpado de gostar de uma coisa que não é chique. A gente deve tomar aquilo que quiser.”
Já os chamados vinhos finos são elaborados com uvas que não são encontradas na feira. Entre as tintas, a cabernet sauvignon é a mais famosa. No entanto, segundo Mariane, pode não ser a melhor escolha para iniciantes. Por ter uma casca grossa, produz, em geral, um vinho com mais tânico – tanino é substância que dá a sensação de ‘língua enrugada’, como ocorre após se mastigar uma banana verde.
Para quem ainda não é acostumado com a bebida, ela sugere começar com uvas como merlot e malbec, que são mais frutadas e remetem a aromas mais conhecidos, como o de mel e o de especiarias, respectivamente.
Outro modo de preservar o dulçor é encurtar o processo de fermentação.“Os chilenos descobriram que o paladar brasileiro gosta de coisas mais doces e passaram a vender vinhos como o Gato Negro e o Santa Helena, que têm a vinificação interrompida.”
No outro extremo, quanto mais o vinho for guardado em barrica de carvalho, mais intenso o sabor.
Quando a bebida passa por esse envelhecimento, a palavra “reserva” aparece no rótulo. É importante não confundir com vinho “reservado”, palavra que também pode aparecer no rótulo e indica se tratar de bebida muito simples, geralmente rótulos de entrada.
Além dos vinhos monovarietais, feitos apenas com um tipo de uva, existem os de corte, elaborados a partir da combinação entre diferentes variedades de uva.
Como o que dita a escolha é o paladar, o jeito é ir provando. “Essa ideia de que tem que ser expert em vinho, tem que ser sofisticado, é um equívoco. Vinho bom é aquele que a gente gosta.”
Explore os sentidos: Apesar de o conhecimento técnico não ser uma regra para os apreciadores de vinho, quem tiver interesse pode explorar uma experiência com a bebida. Mariane explica alguns passos.
Cor: O vinho sempre é translúcido e brilhante e não pode estar opaco ou com alguma alteração sólida. Olhando para o líquido, é possível identificar defeitos, como pedaços de rolha. Nos brancos, o amarelo intenso pode indicar que o vinho está muito velho. “Um Merlot ou Cabernet indo para o marrom ou atijolado não é o que se espera no vinho. Em geral, cada uva tem uma tonalidade mais violácea ou vermelho rubi, mas cores vivas, em geral.”
Sabor: Nem sempre o que se sentiu no olfato é confirmado no paladar, pois as papilas gustativas podem ter interpretações diversas. No que se refere a sabor, o que não se espera de um vinho é o amargor – essa é uma característica da cerveja.
Aroma: Enfiar o nariz na taça não é “frescura”. E a identificação de cheiros de outros alimentos não é loucura. “A uva que gerou o vinho tem moléculas que dão cheiro e que estão presentes em outros elementos também. Não é que um Chardonnay tem o cheiro de banana, mas a banana e a uva têm a mesma molécula”. Essa associação depende da memória olfativa de cada pessoa. Por isso, quem se aventura a comer coisas diferentes tem um repertório mais rico. Após a “cheirada” com o líquido parado, é indicado fazer movimentos giratórios com a taça, para causar reações gasosas que evidenciam o aroma.
Socialização: Assim como o chimarrão, o vinho pede uma boa companhia. “Beber vinho, em geral, é muito gostoso de se fazer com pessoas que gostamos, pois vai nos realçar as memórias afetivas. Esse exercício de sentir o odor e o paladar é legal quando tu pode trocar ideias com alguém”, incentiva Mariane.
Harmonização: Na dúvida, siga as cores. Vinhos escuros pedem comidas escuras e assim por diante. Carne vermelha e tinto; massa ao molho de queijo e vinho branco; camarão com rosé – lembrando que o rosado tem várias tonalidades, por isso, é versátil. Se a refeição tiver pratos e gostos diversos, sirva espumante – esse cai bem da entrada à sobremesa, e ainda é uma alternativa nos dias de calor.
9º Encontro do Vinho
Nesta sexta-feira, 27, a Casa Nostra promove o 9º Encontro do Vinho, no qual especialistas irão interagir com o público.
Segundo o proprietário, Dornei Delazeri, serão servidos rótulos das importadoras Grand Crú e Cantu e das vinícola Pizzato e Cave Geisse, totalizando mais de 30 opções. Os comes serão servidos em parceria com a Tchê Carnes.
Haverá preparo de hambúrgueres com pães de fermentação natural, além de queijos, salames e patês. Também haverá degustação de azeites Verde Louro, marca gaúcha premiada. O evento deve ocorrer mensalmente durante o inverno. O ingresso custa R$ 100.