Marcha fúnebre da política

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

Marcha fúnebre da política

É desanimador perceber a constante regressão da nossa classe política. Quando se espera por mudanças, as velhas e saturadas práticas se repetem. Ano após ano. Nesta semana, o uso de dinheiro público para custear a participação de nossos agentes públicos em cursos promovidos pela própria classe dos legisladores é mais uma vez posto à prova. Afinal, é oportuno gastar recursos do contribuinte com a Marcha dos Vereadores em Brasília?
Não se trata de desqualificar por completo a tal marcha organizada pela União dos Vereadores do Brasil, a famosa UVB. Mas se trata de recurso do contribuinte. Sendo assim, a conversa precisa se aprofundar. E não existe conversa mais tediosa do que aquela em que todos concordam, certo?
Esta prosa tampouco busca vulnerar quem porventura resolveu gastar dinheiro do contribuinte com passagens aéreas, hotel, alimentação, transporte terrestre e ainda as taxas de inscrição do evento – que variavam entre R$ 500 e R$ 600 – para assistir a uma série de palestras, entre essas, as dos ex-governadores gaúchos, Pedro Simon e Germano Rigotto. A lei está ao lado deles, afinal. Esta prosa busca apenas refletir um pouco mais sobre tais gastos.
Como não foram poucas as reportagens investigativas por este Brasilzão afora mostrando a farra de alguns vereadores nesses mesmos eventos – ou muitíssimos semelhantes –, precisamos estar atentos. Já foram flagrados parlamentares na beira da praia durante horário de palestras. Já foram flagrados, também, fazendo pose para fotos em frente às deslumbrantes Cataratas de Iguaçu. Quem não lembra?
E se os gastos são meramente irrisórios localmente, a soma da desgraça é gigantesca se compilarmos o montante anual em todas as nossas nobres câmaras municipais deste país. Só por isso, temos o total e absoluto direito de questionar cada centavo gasto pelos nossos vereadores. Se o exemplo não está vindo de cima, terá que vir de baixo.
Hoje, o maior dos exemplos seria gastar do próprio bolso para tais viagens e cursos em Brasília, em Foz do Iguaçu ou Porto Alegre. Seja lá onde for.
Com salários próximos de R$ 7 mil mensais, cada vereador lajeadense, por exemplo, tem plenas condições de custear os gastos com tais cursos orquestrados pela própria classe política. Não? Se agissem dessa forma, garanto, comprariam as passagens com antecedência, para evitar tarifas mais caras. Ou perceberiam, claramente, que não precisamos restituí-los com os atuais valores pré-estabelecidos – e bastantes salgados – para cada prato de comida fora de Lajeado.
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É claro. A maioria prefere lutar contra a moralidade e vai insistir na retórica de que lá estão para “buscar recursos e visitar gabinetes”. É sempre a mesma narrativa. Convence a muitos, claro. Afinal, o dinheiro volte e meia vem mesmo. Mas vem da maneira mais promíscua possível: por meio das emendas parlamentares. Aquele mecanismo utilizado por deputados e apêndices do partido para assegurar um bom reduto eleitoral à base de recursos públicos.
As emendas são, também, a parte mais importante daquele mesmo mecanismo utilizado por Michel Temer para barrar investigações contra ele, lembram? Dilma Rousseff fez a mesma chantagem para ver projetos aprovados em dezembro de 2014. E uma das formas mais degeneradas de distribuir recursos angariados do contribuinte. E ainda servem de escusa para torrarmos com diárias.
Por fim, e inevitavelmente, os bons pagam pelos ruins perante a opinião pública. Fazer política de forma honrosa em busca de projetos ou apresentando proposições é necessário aqui, em Porto Alegre ou em Brasília. Mas, para isso, já estamos pagando bons salários aos nossos vereadores. Eles que se aprumem para fazer bom uso do mesmo. Os bons já estão agindo assim.


Schefer e Brasília

Ainda sobre a Marcha dos Vereadores a Brasília, o ex-vereador Antônio Schefer (MDB) ateou fogo na questão, em Lajeado. Na quinta-feira, em entrevista à rádio local, ele criticou a viagem de parlamentares lajeadenses a Brasília. Questionou a relação custo-benefício da presença na capital federal e usou o termo “vereadorzinhos”. No plenário, Paulo Tóri (PPL), cujo assessor está em Brasília, Adi Cerutti (PSD) e Waldir Gisch (PP) rebateram as críticas do emedebista.


Uber e os taxistas

A inevitável chegada do Uber à região precisa de olhares atentos. Não há dúvidas sobre a qualidade e necessidade do serviço. Se o público e os clientes o querem, não há como e tampouco existem razões para lutar contra a expansão do serviço. Assim como há razões para ouvir as reclamações de alguns taxistas. Se hoje sobram desonerações para quem trabalha via aplicativo, será injusto manter certas onerações para quem trabalha via concessão pública, e de forma legal.


Tiro curto

– Fernando Arenhardt, advogado e presidente do Observatório Social de Lajeado (OSL), foi convidado para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedetag), mas não aceitou em função de compromissos profissionais;
– Também em Lajeado, o Ministério Público (MP) deve averiguar os valores referentes ao FGTS e demais encargos trabalhistas pagos aos servidores da área da saúde terceirizados pelo Icos;
– Em Estrela, restam ainda 22 postes quebrados ou com defeitos na BR-386. As peças serão encomendadas de São Paulo;
– O advogado lajeadense, Marco Mejia, entrou com pedido liminar no 4º TRF solicitando habeas corpus para o ex-presidente Lula;
– Em Teutônia, a base do governo conseguiu maioria na CPI referente à operação Mãos Sujas, do Ministério Público. Quem participou dessa definição foi Hélio Brandão, vereador licenciado e atual secretário da Saúde;
– Durante reunião do Seavat e Sinduscon, ontem, representantes argumentavam que o estudo do novo Plano Diretor de Lajeado estaria sendo conduzido “unilateralmente” pelo governo. O grande impasse é a redução dos índices construtivos. O prazo para as entidades apresentarem alternativas vai até quarta-feira. “A toque de caixa”, dizem alguns construtores.

Boa quinta-feira a todos!

“É o vencedor moral que mais facilmente morre para vencer.”
Hugo Hofmannsthal

 

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