Nova audiência, mesmos problemas e poucas soluções

Vale do Taquari - Crise do leite

Nova audiência, mesmos problemas e poucas soluções

Convocada por deputados, encontro resulta em novo pedido de socorro

Nova audiência, mesmos problemas e poucas soluções
Vale do Taquari

Os problemas enfrentados pelos produtores de leite foram tema de nova audiência pública, dessa vez na câmara de Lajeado. Por mais de três horas, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, líderes regionais e representantes de sindicatos rurais evidenciaram o pouco avanço na solução dos problemas enfrentados desde o início da crise, no fim de 2016.

Promovido pela Comissão de Agricultura da Câmara Federal e pelo Grupo do Leite da Assembleia Legislativa, o encontro reforçou as dificuldades enfrentadas diante da ausência de políticas públicas em defesa dos produtores.

Presidente do Codevat, Cíntia Agostini lembrou que o Vale do Taquari é uma das regiões precursoras do debate acerca da cadeia leiteira. Segundo ela, a preocupação regional se explica pela importância da cadeia para a economia local e pela quantidade de famílias que deixaram a atividade diante da crise.

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Para Cíntia, a crise do setor não ocorre por acaso, e foi provocada pelas opções políticas dos governos federal e estadual, e é preciso agir para evitar prejuízos ainda maiores. “Perdemos mais de 1,2 mil produtores na região e não podemos perder mais.”

Presidente da Languiru, Dirceu Bayer lembra que a crise do setor começou a partir da ampliação das importações de leite em pó do Uruguai. Para ele, se fala muito sobre os reflexos das importações na cadeia, mas pouco sobre as empresas que importam e causam esse desequilíbrio.

“As cooperativas não importam um grama ou um litro de leite. Quem provoca essa crise são as grandes multinacionais”, ressalta. Conforme Bayer, a Cosuel e a Languiru são testemunhas do assédio que essas grandes empresas fazem aos produtores formados pelas cooperativas.

“Oferecem alguns centavos a mais por litro para tirar esses agricultores das cooperativas”, alega. Bayer também ressalta a preocupação com os insumos, cujos preços estão sendo reajustados e se tornando um impeditivo para os produtores.

Carta para Brasília

Presidente da CIC-VT, Pedro Barth afirma que as dificuldades enfrentadas na cadeia produtiva são o reflexo da distância entre Brasília e a realidade local. “Se estivéssemos em outro país, já teríamos subsídios para garantir a viabilidade econômica do setor nesse momento difícil.”

Conforme Barth, a qualidade da produção leiteira da região não deve em nada para a europeia e deveria ser valorizada. “Essa região tem a vocação do trabalho e de gerar impostos para o país, mas não é reconhecida.”

Para o deputado Federal Elvino Bohn Gass (PT), se os governo federal estadual tiverem vontade política, podem pôr fim à crise do leite.“Mais uma vez, o diagnóstico aponta as importações desenfreadas e a falta de compras públicas como causadoras da crise. Quem pode mudar isso? Os governos.”

Ao fim da reunião, foi elaborada uma carta com os principais pontos de reivindicação do setor apontadas no encontro. Com ela, o deputado Bohn Gass pretende buscar o apoio de toda a bancada federal gaúcha para pressionar o governo Temer a tomar medidas.

O deputado Zé Nunes também reforçará o pedido de audiência com o governador Sartori para tratar o tema. A intenção é buscar de novas ações concretas em nível estadual.

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Entrevista

“Nada substitui a mobilização dos produtores”

A Hora – Depois de inúmeras audiências públicas, houve avanço capaz de frear a crise do leite. ?

Zé Nunes – Se os produtores estivessem na rua e pressionando mais, os resultados seriam mais fortes. Após a última audiência em Lajeado, o Estado suspendeu os decretos que reduziam o impostos para a importação de leite. Mas estamos falando de uma crise nacional cujo impacto maior é no RS, e que ocorre porque o governo federal não atua como regulador. O governo estadual e omisso porque não coloca a cadeia do leite como prioridade. Se o governo não se preocupa com as famílias que estão saindo da atividade, deveria ao menos ter preocupação com o impacto disso para a economia. Depois da última audiência pública, fomos com diversas entidades solicitar uma reunião com o governador para tratar do tema. Até hoje, não fomos recebidos para esse diálogo.

Como está o ritmo de importações de leite em pó proveniente do Uruguai?

Nunes – Se olharmos de 2013 para cá, percebemos um grande aumento da importação. Neste ano vamos para 30 milhões de quilos importados. No ano passado foram 160 milhões. Parece que pode haver uma pequena redução. Tivemos uma pequena melhora do preço pago ao produtor devido ao período de entressafra, mas daqui a três meses já volta a baixar. Então os produtores, que investiram em plantel e em melhorias, estão trabalhando no vermelho. Já perdemos 24 mil famílias que não retornam mais. Se a cadeia continuar enfraquecendo, vamos quebrar as pequenas indústrias e ter uma grande concentração no setor. Possivelmente nos tornaremos importadores desse produto. Eramos a segunda bacia leiteira do país e já fomos ultrapassados pelo Paraná. O RS está deixando esvair uma cadeia fundamental.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

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