Para lecionar no programa da Escola da Inteligência, primeiro, a professora Cristiane Kramer, 37, aplica a metodologia na rotina pessoal. “As pessoas estão mais preocupadas em ‘ter’ do que ‘ser’. Estamos tentando resgatar valores humanos que foram se perdendo com o tempo”, conta. Para isso, educadores da cidade se empenham em absorver o programa no dia a dia para depois repassar os ensinamentos.
Conforme constatado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), problemas de depressão e ansiedade são frequentes na sociedade contemporânea. Excesso de informação, exposição em redes sociais e falta de contato pessoal são fatores que preponderam nesta chaga social. Para combater isso, o município investiu R$ 104,5 mil no programa Escola da Inteligência. Desde então, a educação emocional se transformou em matéria curricular da pré-escola ao 9º ano.
“Hoje temos que nos preocupar cada vez mais com as relações com as pessoas. Como pais, no nosso entender, é muito difícil lidar com essas questões emocionais com nossos filhos”, conta Juliano Schimaia, 34, pai de Caique Schimaia.
Segundo ele, com a dinâmica imposta pela velocidade das novas tecnologias, torna-se fundamental a participação dos pais na escola com o objetivo integrado de propor o bem-estar para o futuro das crianças.
Passado um mês da aplicação do programa, Janete Spohr, 44, já sente os primeiros resultados sendo desenvolvidos no filho Braian Kramer, 7. “Notamos no dia a dia o amadurecimento dele. Desde o comportamento com os amigos e em casa, está mais educado, solícito e querendo compartilhar mais”, relata.
Preparação
A metodologia educacional desenvolvida pelo escritor e psiquiatra Augusto Cury inclui livros, áudios e vídeos utilizando personagens infantis para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, visando o estímulo de inteligência, gerenciamento de pensamentos e educação emocional.
No dia 15 de fevereiro, professores da rede se reuniram para a formação inicial. Na ocasião, a equipe da Escola da Inteligência ministrou palestras e passou as primeiras orientações sobre a aplicação do método durante o ano letivo. “No início, foi abordado o nosso emocional”, conta a professora Carina de Siqueira, 30.
De acordo com a coordenadora pedagógica do município, Letícia Scherner, 29, em um primeiro momento, os professores se mostraram inseguros com a aplicação do novo método, por acharem que teria de ser seguido uma cartilha à risca. “Nas reuniões, fomos percebendo que o programa é uma ferramenta para nos auxiliar. Agora já conseguem aplicar a metodologia dando a ênfase necessária ao contexto de cada turma”, conta.
Além do acompanhamento da equipe da Escola da Inteligência, de Augusto Cury, os professores vão cumprir 120 horas de curso de ensino a distância do programa. “É um trabalho importante não só para o aluno, mas para toda comunidade. Todas questões socioemocionais que envolvem escola, família e professores se mesclam muito”, completa Letícia.
Investindo no futuro
Diminuir a velocidade do crescimento e fortalecer o desenvolvimento. Isso, segundo o prefeito Paulo Cezar Kohlrausch é a meta de seu mandato. Para o chefe do Executivo, o programa é uma ferramenta que busca, de maneira criativa e inovadora, adaptações para este mundo que muda tão rápido. “Às vezes temos a impressão de que tudo que aprendemos no passado está errado. Vivemos momentos de inversão de valores”, sugere.
Kohlrausch vê na Escola da Inteligência um modo de garantir uma melhor formação e um legado para os novos cidadãos que darão seguimento ao desenvolvimento de Santa Clara do Sul. “Valores como respeito, humildade e honestidade não são construídos em uma universidade depois que somos adultos. É muito mais fácil desenvolvermos isso enquanto são pequenos, para que construam seu espaço devido na sociedade”, afirma.
Relações interpessoais
Para o secretário de Educação, Cultura, Desporto e Juventude, Mauro Heinen, a Escola da Inteligência tem como principal objetivo o desenvolvimento do amadurecimento emocional das crianças. “Estamos trabalhando isso para termos pessoas mais comprometidas na sociedade. Para construir uma educação por inteiro, todos temos que nos dar as mãos: professores, gestores públicos e familiares”, diz.
Ainda que recente, professores já relatam as mudanças na rotina letiva. Segundo eles, os alunos já contextualizam o material da Escola da Inteligência com o que vivenciam em sala de aula. Crianças se mostram interessadas com a novidade, principalmente pela riqueza do material, que, apesar de conciso, não se mostra engessado nas práticas semanais. Pelo menos uma vez por semana, durante um turno inteiro, professores desenvolvem o método de Augusto Cury com os alunos.
“Nas rodas de conversa, percebemos que eles trocam ideias e mencionam personagens dos livros, como o sapo e a coruja em questões interpessoais. Eles estão transformando os ensinamentos em ações diárias de empatia, respeito e compartilhamento”, conta a coordenadora pedagógica.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br