Solenidade na manhã de ontem, 16, marcou o início da implantação do sistema de monitoramento do município. Com 24 câmeras a serem instaladas na área urbana, o cercamento eletrônico promete reduzir os índices de criminalidade na cidade. Vencedora da licitação, a empresa Digitaltec tem até 90 para colocar o serviço em funcionamento.
O ato reuniu cerca de 40 pessoas na prefeitura, incluindo políticos, representantes de entidades e órgãos do Judiciário, líderes empresariais e autoridades da área de segurança. Os participantes conheceram detalhes do projeto, que funcionará a partir da locação da tecnologia, ao preço anual de R$ 300 mil. Após quatro anos, os equipamentos serão incorporados ao patrimônio municipal.
O contrato prevê manutenção permanente, suporte técnico e reparos em até 24 horas. Os equipamentos têm alta resolução de imagem e possibilitam que novas tecnologias sejam agregadas no futuro. Anunciado como um dos mais avançados sistemas disponíveis no mercado, o sistema permitirá a identificação de placas de veículos e reconhecimento de rostos, por meio da denominada “análise comportamental”.
O projeto original iniciou no âmbito do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Rio Taquari (Consisa) e foi atualizado por técnicos da administração municipal, com auxílio do 40º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
“O videomonitoramento vai nos possibilitar um novo momento na área da segurança”, afirmou o prefeito Rafael Mallmann. O chefe do Executivo destacou a interface do sistema de Estrela com o comando da segurança pública estadual, em Porto Alegre, o que deverá facilitar as ações de combate ao crime. Ressaltou também que as câmeras auxiliarão os órgãos do Judiciário e a Polícia Civil na obtenção de provas e elementos para as investigações.
O cercamento terá quatro câmeras fixas e 20 controláveis de forma remota.
Áreas monitoradas
Avenida Rio Branco e Augusto Frederico Markus e ruas Coronel Müssnich, 1º de Maio, Júlio de Castilhos,Bruno Schwertner, Tiradentes, Fernando Abott, Ernesto Alves, Marechal Hermes, Gerado Pereira, São Roque, João Lino Braun, Mathias Ruschel Sobrinho, Frederico Alberto Sulzbach e Coronel Brito. Também a Rota do Sol (acesso ao Loteamento Popular) e a BR-386 (acesso à rua Alfredo Arenhart).
Redução de índices
Com dez anos no ramo, a Digitaltec Comércio e Prestação de Serviços tem sede em Novo Hamburgo e atua em diversas cidades em todo país. Conforme o executivo de vendas, Erasmo Antonio Henz, são mais de 40 municípios que contam o serviço prestado pela empresa, onde os índices de criminalidade reduziram de 50% a 70% após a instalação do sistema.
Para o comandante do 40º BPM, Marcelo de Abreu Fernandes, a tecnologia “ajudará muito” o trabalho da Brigada Militar, tanto nas ações preventivas como repressivas. No entendimento do major, o sistema de monitoramento consiste em uma “tendência global” e a redução dos índices de violência a ser obtida com as câmeras é “real”.
Conforme Fernandes, o sistema permitirá que a polícia surpreenda os criminosos. O major ressaltou também o auxílio que as câmeras darão em casos de crimes ao meio ambiente, identificação de pessoas desaparecidas e situações relativas ao trabalho da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, trânsito, entre outras áreas.
Combate articulado
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Estrela, Paulo Fink, disse que o sistema é planejado desde 2015. A criação do Gabinete de Gestão Integrada e a adesão ao Sistema de Segurança Integrada com Municípios (SIM/RS), do governo do Estado, foram etapas necessárias para a efetivação do plano.
Conforme Fink, a iniciativa demonstra a concepção do Executivo de que “segurança é responsabilidade de todos”. Segundo ele, a administração formula um convênio junto ao governo do Estado para a criação de uma central de controle no prédio da Brigada Militar. A parceria prevê ainda o treinamento contínuo dos agentes e qualificação de novos policiais.
Representando a Assembleia Legislativa na cerimônia, o deputado estadual Edson Brum (PMDB) salientou o empenho do Piratini em estimular a adesão ao SIM para melhorar a articulação entre as forças de segurança e os municípios no combate ao crime. “Nós estamos vivendo um momento muito difícil na área de segurança, com consequências bem desagradáveis, muito por falta de conversa, falta de diálogo e falta de unidade”, afirmou.
Integração regional
O debate sobre estratégias conjuntas para o enfrentamento à criminalidade no Vale do Taquari é recorrente em reuniões de entidades como a Amvat. O tema foi pautado na assembleia dos prefeitos em Paverama, na quinta-feira passada, 12.
Conforme o presidente da Amvat, Marcelo Caumo – prefeito de Lajeado –, a busca por soluções tecnológicas é uma das “bandeiras” do mandato dele à frente da associação. Para isso, frisa a importância da adesão ao SIM por parte das cidades como primeiro passo para o acesso ao banco de dados da Secretaria de Segurança Pública e a implementação de sistemas de monitoramento.
A entidade realiza um levantamento de quais municípios da região ainda não fazem parte do programa do governo do Estado. Segundo Caumo, está em debate também a implantação de um sistema conjunto de cercamento eletrônico por meio do Consisa. O assunto pautará a próxima assembleia da Amvat, n o dia 26, em Anta Gorda.
Encantado busca recursos
Integrantes das entidades parceiras do projeto Encantado Alerta iniciaram na semana passada visitas a empresários e líderes da comunidade para a arrecadação de recursos. O objetivo é complementar o custeio da primeira fase do projeto de monitoramento do município.
Segundo o presidente do Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro), Victório Alba, percebeu-se a necessidade de ampliação do projeto, após definições técnicas em conjunto com a polícia. Serão instalados 29 pontos e 62 câmeras em diversas localidades. Com as alterações, o valor subiu para quase R$ 700 mil. Com R$ 505 mil já investidos, o grupo precisa de mais R$ 190 mil.
Encantado aderiu ao SIM
As câmeras ainda estão em fase de testes. Para o sistema entrar em funcionamento, falta a publicação no Diário Oficial do Estado. Com isso, também serão contratados servidores para serviço exclusivo interno de gerenciamento e monitoramento na central de imagens.
O projeto Encantado Alerta é uma iniciativa da Associação Comercial e Industrial de Encantado (Aci-e) e Consepro, com apoio do Executivo, Legislativo, Judiciário, Brigada Militar, Polícia Civil e Polícia Rodoviária.
Entrevista
“Efetivo na rua não tem como estar em todos os lugares”
O representante da empresa Digital Tech, Erasmo Antonio Henz, explica como o sistema de Estrela pode se disseminar e colaborar no enfrentamento ao crime em âmbito regional.
A Hora – Como funcionaria um projeto de cercamento eletrônico intermunicipal?
Erasmo Henz – Isso é possível sim. O sistema que está sendo instalado em Estrela é compatível com os locais onde já existe o monitoramento. Os softwares que estão inclusos na licitação fazem essa integração com esses outros pontos e, principalmente, com a Secretaria de Segurança Pública, que hoje tem o mesmo sistema a ser implementado em Estrela.
Isso já funcionou em âmbito regional em outras áreas do RS ou do país?
Henz – É pioneira ainda essa interligação dos sistemas entre os municípios e a SSP no RS. Isso está vindo com o convênio do SIM, que Estrela já assinou. Já existe sim em outros estados, mas hoje eu posso dizer que Estrela está sendo pioneira nessa situação de convênios onde literalmente se integram municípios. Na parte de cercamento eletrônico, Estrela licitou o que é hoje um dos melhores softwares do país para análises comportamentais e inteligência em segurança, senão o melhor.
Pela experiência da empresa, como o monitoramento impacta na violência?
Henz – Cidades de fora do país buscam essa tecnologia sabendo da redução de índices de criminalidades que chegam, em alguns lugares, a mais de 70%. Primeiramente, o fato de se colocar um sistema de monitoramento, ter uma cidade vigiada, de certa forma reprime o delinquente. O software que será aqui instalado tem tecnologia para controlar todos os carros que entram e saem da cidade, ou seja, ele pode informar data e horário, rotas de fuga, quanto tempo ficou na cidade, a presença veículos suspeitos, em uma estratégia principalmente de prevenção ao crime.
O uso de tecnologias substitui o efetivo policial?
Henz – Não. Os softwares e as câmeras estão para ajudar. Efetivo na rua não tem como estar em todos os lugares. Podemos dizer que uma câmera substitui a ronda de cerca de três homens naquele local. Se multiplicar pelo número de pontos vigiados, teremos um efetivo muito maior. Onde existe a câmera, dificilmente há criminalidade. Porém atuam de forma complementar, obviamente, pois é necessário o efetivo sim, para depois de identificar uma situação, os policiais irem lá e entrarem em ação.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br | Colaboração: Gisele Feraboli