O primeiro Campeonato Piá iniciou em um sábado, dia 5 de agosto de 1989. As partidas da rodada de estreia começaram às 13h daquela tarde ensolarada, no Salão Centenário. Foram 23 jogos na abertura do torneio. Nem todos os clubes estrearam naquele fim de semana. Mas todas as 42 equipes inscritas de Lajeado, Teutônia, Arroio do Meio, Estrela e Bom Retiro do Sul participaram da cerimônia.
Entre os principais times da primeira edição, destacavam-se Nacional, Coroas Mirim, Bom de Bola, CSA, A.A.P.P., Spuminha, Ouro Verde, Atlanta, Hidráulica, Roma, Penharol, Atlético São Cristóvão, Pocabola e Mankos/Sete de Setembro.
A nova atração para crianças e jovens de 6 a 16 anos havia sido orquestrada meses antes em uma sala da então Equipe de Desportos do município de Lajeado. Lá, Rogério José Worm, o “Farelo”, e Andreia Haetinger pensavam em uma forma de retomar um antigo torneio do Sesi, que perdurou entre os anos de 1984 e 1987 em uma já extinta cancha de concreto próxima ao Supermercado STR.
O nome surgiu por acaso, conta Farelo. “Lembro do antigo prédio do Sesi, ali na rua Bento Gonçalves. Estava em obras e eles encerraram o campeonato. Resolvemos assumir. O nome eu criei. Veio na cabeça. Nada de especial. Como era uma piazada jogando bola, ficou Campeonato Piá. Também criamos o boneco-símbolo naquele ano.”
Ninguém projetava um torneio com tamanha dimensão. “Não tínhamos ideia de que chegaria até a 30ª edição. Foi crescendo ao natural. O maior, eu lembro, teve 223 equipes. Só do Centro Esportivo Municipal (CEM) eram 27. Utilizávamos as quatro quadras do Parque do Imigrante e as duas do Ginásio Mário Lampert.”
Segundo Farelo, desde o início, houve interesse de equipes de fora. Como uma das condições para os atletas participarem era a matrícula na escola, o trabalho de averiguação era lento. “Pedíamos comprovantes de todas. Por vezes, pegávamos o carro e íamos até as cidades verificar com as diretoras. Para não dar problema, também, de alterar idade. E era um incentivo para as crianças seguirem estudando.”
O principal idealizador não disfarça o orgulho. “É marcante ter toda essa dimensão. Tenho muito orgulho. Continuou, mesmo com a troca de governos, porque as pessoas pediam”, reforça. É essa, também, a opinião da ex-colega de prefeitura, Andreia, que participou da montagem da primeira edição.
A ideia inicial, conta, surgiu em equipe. O formato foi construído de forma coletiva. “ Não imaginámos que a adesão seria tão grande”, relembra. Ver a competição viva até hoje e considerada como algo importante à cidade e para a região é motivo de orgulho. “Não para de crescer o número de equipes. Diferentes governos passaram, e a ideia permanece. Foi uma ideia feliz”, resume.
“Tudo era feito com a mão”
Andreia relembra outras curiosidades acerca da organização do evento em 1989. A falta de tecnologia quase inviabilizava as ações. “Hoje tudo é digitalizado. Na época, as súmulas eram feitas à mão. Assim como as fichas de inscrição. Ainda utilizávamos o mimeógrafo, pois não havia máquinas de cópia.”
A divulgação dos eventos era outra dificuldade. Era só via rádio ou jornal local. “Íamos em alguns programas. Hoje basta publicar no Facebook ou WhatsApp. Na época, nem celular existia. Tínhamos que ligar para telefones funcionais para avisar as pessoas. Ligávamos até para o trabalho de alguns”, conta.
“Fui xingado como técnico e árbitro”
Outro personagem histórico é Adilvo Battisti. Já treinou milhares de crianças. Começou a trabalhar como professor nas escolinhas do CEM em 1988. Um ano depois, auxiliou no desenvolvimento do pioneiro torneio de futsal infantil. “No primeiro ano, eu e o Farelo apitávamos. O pessoal de outras cidades chiava. Diziam que a gente facilitava para times de Lajeado”, diverte-se.
Sobre as glórias, faz questão de relembrar 1991, centenário da cidade de Lajeado, e primeiro ano do CEM na competição. “Foi a mais emocionante. Chegamos em várias finais. E depois fazíamos carreatas pela cidade.”
Desse ano, lembra com mais ênfase da final da categoria B, entre o CEM e o maior rival e principal equipe da época, o Nacional. O adversário largou na frente. Abriu 3×0. Tudo indicava para o título da equipe azul e amarela. Mas o CEM reagiu. Aos 7 minutos da segunda etapa, o jogo estava empatado. Dois minutos depois, Moisés marcou o quarto gol do time de Adilvo. “As famílias invadiram a quadra para festejar”, conta.
O professor lembra também da primeira vaia, um ano depois. Em um jogo já definido, resolveu trocar atletas. “Nessa equipe jogava o Rafael Spengler. A bola era quase maior do que ele. A torcida adorava vê-lo jogando. Corria, driblava e fazia gols. Resolvi tirar, pois tinha muitos jogadores no banco.” A reação da torcida foi imediata. “Começaram a me chamar de burro. Eu sou o único que já fui xingado como técnico e como árbitro”, brinca.
Outra figura carimbada é Serginho Vetorello. Ele lamenta – em tom de brincadeira – a situação atual do CEM. “Hoje não ganhamos mais. Naquela época era mais amador. Depois entraram clubes maiores e o torneio tomou outros propósitos. Daí criaram série Ouro e Prata. Hoje tem até a Série Bronze. E o CEM está lá”, resigna-se. Sobre os embates, também lembra da rispidez dos jogos contra o Nacional e da rivalidade com a AABB, então treinada por Kiko Sulzbach.
O “maior” campeão da Copa
Não há dados oficiais. Mas ex-atletas e idealizadores são unânimes: o maior campeão da história do torneio é José Carlos Fernandes, o “Mineiro”. Era presidente, técnico, motivador e “garimpeiro” da Escolinha de Futebol Nacional, cujo campo de treino ficava na hoje sede da SER São Cristóvão.
Todos queriam jogar lá. “Só jogavam atletas selecionados”, lembra Adilvo, “ex-rival”. “Lembro dele chegando com a Kombi ao ginásio do CEM para buscar meus melhores jogadores. Dizia: ‘vim buscar fulano.’ Daí eu tinha que me virar para montar os times”, conta. “Por isso todos queriam ganhar do Nacional. Era o melhor time. Jogava outros torneios também”, completa.
José Carlos Fernandes Júnior é filho de Mineiro e foi campeão com o Nacional na primeira edição do Piá. Naquele time, também jogava o filho de Farelo, Luís Felipe Worm, o “Farelinho”. “A final foi contra a AAPP. Ganhamos de 2×1. Aliás, fomos campeões em 90, 91, 92 e 93.”
Mineiro morreu em 2001. E os clássicos contra o CEM nunca mais foram os mesmos. “Sempre dava uma encrenca, mas era uma rivalidade saudável. Brigas, mesmo, só nas arquibancadas entre os parentes dos atletas”, brinca Vetorello. “O pai fazia tudo isso por prazer”, orgulha-se Júnior.
Atletas profissionais jogaram no Campeonato Piá
Fred Xavier
O atual zagueiro do Juventude, Fred Xavier, começou a jogar futsal em Novo Hamburgo. Mas o primeiro torneio oficial foi no Campeonato Piá, com oito anos. O técnico era Adilvo. “Comecei a jogar direto no CEM, e ele foi meu primeiro professor. Lembro que eu não dormia na sexta-feira, de tanta ansiedade. E o mais legal era os pais abrindo mão de tudo para ver a gente.” Fred jogou oito anos seguidos. E a principal lembrança é uma “épica” vitória contra o Nacional, com gol dele na morte súbita. Já em 1994, ele foi o artilheiro da categoria A. “Aprendi a respeitar os adversários e a ter disciplina. Todo jovem atletas que sonha alto precisa disso.”
Bolívar
Bi-campeão da América com o Internacional, Bolívar faz parte da história do Piá. Em 1995, jogou e foi campeão pelo Nacional. Mineiro era o treinador. “Fui um dos destaques. Tinha uma turma bacana. O ‘Júnior’, o ‘Bige’. Fiz muitas amizades que perduram até hoje. O torneio é muito importante pois há um nível de competição forte. E o Mineiro ficou marcado para sempre. Um dos meus primeiros treinadores, me ensinou muito. Eu ficava na casa dele. Tinha ele como um pai.” Já para os novos atletas, dá um recado. “Tem que levar muito a sério. É grande a oportunidade de alguém ver esses meninos jogando e surgir uma oportunidade, como eu tive.”
“O objetivo é a integração”
Além de Fred e Bolívar, outros profissionais jogaram o Piá. Entre esses, Rafinha Rizzi (hoje em equipe de futsal na Itália), Eduardo Brock (capitão do Goiás), Rodrigo Ely (com passagem pelo Milan), Andrigo (ex-Internacional), Adri, Vandeco, Felipe Spellmeier e Cássio Scheid (jogando em Portugal). “Teve jogador que atuou ano passado no Piá e hoje já está treinando na Alaf”, comenta o atual secretário da Cultura, Esporte e Lazer (Secel), Carlos Reckziegel.
Para ele, o grande diferencial desta 30ª edição é a nova categoria. “Além de Ouro e Prata, abrimos a categoria Bronze. Para equipes oriundas de projetos sociais. Para também dar oportunidade a essas crianças.” Segundo ele, não há tanta competitividade entre essas. “A gente fez isso para que todos possam participar. Além de promover e fortalecer o esporte, o objetivo é a integração entre as pessoas de diferentes classes sociais.”
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O maior campeonato de futsal infantil do Brasil inicia neste sábado. A cerimônia de abertura oficial está marcada para às 13h, no Parque do Imigrante. Logo após, iniciam os 24 jogos do fim de semana. Além disso, durante o dia, haverá brinquedos infláveis para entretenimento e serão distribuídos doces para a comunidade presente ao evento.
Neste ano, serão 1,6 mil jogadores de 6 a 15 anos distribuídos em 189 equipes de todo o estado. O número de participantes é o mesmo de anos anteriores, mesmo com a redução de três categorias.
O torneio é dividido nas categorias 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009 no masculino, com categorias de participação dos anos 2010, 2011 e 2012. Já os times femininos contam com as categorias 2003/2004, 2005/2006, 2007/2008, e os anos 2009/2010 serão da categoria de participação.
Podem participar escolinhas de futsal, projetos sociais e ONGs de todo o estado. Os jogos serão realizados aos sábados, às 13h, nas quadras esportivas do Parque do Imigrante, em Lajeado.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br