Empresários, profissionais e especialistas do setor de varejo se reuniram ontem em workshops e palestras que apontaram a importância da essência dos negócios para o sucesso das organizações.
Economista-chefe da Fecomércio, Patricia Palermo abriu o evento em uma palestra-almoço sobre o cenário econômico de 2018. Segundo ela, o momento é de recuperação lenta, após um período de cíclica, mas com incertezas devido às eleições.
Segundo ela, se no ano passado não havia certeza quanto à continuidade do governo de Michel Temer, assolado por denúncias de corrupção, agora é certo que o atual governo encerra o mandato. “Por outro lado, temos uma eleição com muitos candidatos, de todas as linhas ideológicas.”
De acordo com Patrícia, com a saída de Lula do cenário eleitoral, a tendência é de uma polarização entre candidatos com ideias liberais e postulantes com propósito estatizante. Para ela, os eleitores precisam ficar atentos às propostas e objetivos de cada um.
“Não teremos soluções fáceis para os nossos problemas complexos”, alerta. Patrícia acredita que os candidatos com mais possibilidade de assegurar a continuidade do processo de retomada da economia são aqueles que assumem o compromisso com as reformas estruturantes.
Segundo ela, as propostas de reverter a reforma trabalhista e de barrar a previdenciária são capazes de frear o processo de recuperação da economia. “Temporariamente, encontramos o rumo, com crescimento do PIB, inflação controlada e perspectiva de aumento do emprego.”
No período da tarde, foram realizados três workshops simultâneos. Na palestra de encerramento do evento, o pós-graduado em Marketing pela Ufrgs e doutor em Comunicação pela PUC-RS, Dado Schneider, falou sobre o perfil do profissional do século XXI.
Ideias para o cotidiano
Pela primeira vez no evento, a empresária Gisele Hahn, 50, começou a empreender recentemente. Segundo ela, o evento serviu para pensar sobre o próprio negócio e trouxe muitas ideias que podem ser aplicadas no cotidiano da empresa.
“Acredito que a qualificação constante é necessária para qualquer empreendimento”, diz. Conforme Gisele, o conhecimento obtido por meio dos workshops e palestras do Reload 2018 inspiraram a participação em outros eventos voltados para o setor.
Já a empresária Evanete Dill, 36, participou em quase todas as edições do reload. Para ela, o formato, os temas e o ambiente do evento deste ano surpreenderam. “A principal lição foi de buscar sempre a essência dos negócios no momento de tomada de decisão.”
Essência como valor das marcas
Sócio da Integra Alimentos e da Vovó Faz Bolo, Lucas Trevisou dividiu com Alexandre Heineck o painel “Marcas de Valor: o futuro e o presente das empresas que fazem a diferença”. De acordo com Trevisol, o sucesso das duas empresas em que atua está relacionado à essência do que é proposto.
Segundo ele, no cotidiano de uma empresa existem inúmeras situações que tentam o empreendedor a desviar desse caminho definido, seja por dificuldades no negócio ou de resultados que não correspondem ao esperado.
Em seguida, o diretor comercial da Docile Alimentos, Alexandre Heineck, falou sobre a história da empresa e da família Heineck no mercado de doces e apontou os caminhos que levaram a Docile a chegar aos mais de 80 anos de atuação no setor.
“Somos uma empresa familiar que já está na terceira geração, e começa a preparar o terreno para a quarta”, ressalta. Para ele, o gestor precisa pensar em sempre deixar um legado e uma história que possa inspirar as novas gerações e colaboradores.
“Para isso, temos que fazer as coisas com paixão e de forma muito bem-feita.”
Sem mitos no marketing digital
Responsável pelo setor de Digital Sales & Influencers Network do Grupo RBS, Arturo Garziera apresentou o workshop “Inspiração em meio à confusão”. Ele explicou os conceitos de marketing diante do avanço das plataformas digitais e das mudanças de comportamento do consumidor provocadas por essa nova realidade.
Segundo Garziera, o marketing digital precisa ser desmistificado. Afirma que boa parte dos empresários acredita que as ferramentas são muito complexas e que, apesar de algumas questões mais técnicas exigirem uma certa complexidade, em geral as regras são muito semelhantes a tudo o que já foi feito em termos de marketing e estratégia.
“O importante é tentar traçar paralelos com as coisas nas quais as pessoas tem maior conhecimento, para que o marketing digital ajude e não atrapalhe as pessoas”, alega. Conforme Graziera, o primeiro passo para estabelecer uma boa estratégia de marketing digital é a empresa se conhecer, saber seus objetivos e o que quer alcançar para depois traçar os caminhos para isso.
Atitude para novos resultados
Designer e urbanista, Reinaldo Leão Forte apresentou o painel “Varejando”, no qual abordou as tendências do mercado varejista no pós-crise. Segundo ele, o que os empresários do setor precisam compreender é a mudança na forma de pensar dos consumidores.
“Continuamos sempre em torno do mesmo problema, da mesma forma de fazer e buscando receitas prontas para as questões do cotidiano”, relata. Para Forte, às vezes, o empresário esquece de olhar para dentro da própria organização.
“Os produtos são commodities. O que diferencia um varejista do outro é o serviço e a entrega”, aponta. Segundo ele, a indústria criativa foi uma das mais afetadas pela crise, mas ao mesmo tempo alguns escritórios tiveram grandes resultados no período por entregarem de forma diferente os serviços.
Para ele, no caso do varejo, as pessoas precisam sair da zona de conforto e mudar os padrões.
Entrevista
“Não existe atalho, existe trabalho.”
A HORA – Como compreender as mudanças de uma sociedade cada vez mais veloz?
Dado Schneider – A palestra de hoje é uma continuação daquela que eu fiz em 2015 na Univates. Em pouco mais de dois anos, muita coisa mudou. Tem coisas que hoje eu já não diria, porque as coisas mudam muito rapidamente. De dois anos para cá, houve uma explosão das redes sociais e uma explosão da credibilidade das redes sociais. Houve uma crise quase insolúvel da economia e sinais de recuperação. Uma onda neoconservadora no mundo inteiro, que representa uma mudança contundente de comportamento. Estamos na iminência de uma eleição imprevisível, que pode repetir 1989. Naquela eleição havia 16 candidatos, vários de renome, e venceu o Collor, que veio de fora desse cenário. É algo que pode se repetir este ano. Disso tudo, a única coisa boa é que estamos mais calejados e nos assustamos menos com as coisas. Gente de qualquer idade está mais consciente e mais madura.
Como o profissional pode se adaptar a esse mundo de constante mudança?
Schneider – Ele não pode se desligar. Tem vezes que, ao terminar uma palestra, as pessoas vêm me pedir a indicação de um livro sobre o tema que eu abordei. Mas eu não conseguiria dar uma palestra dessas com apenas um livro. Eu leio tudo, livros, blogs, jornal impresso, ouço rádio o tempo todo, navego na internet. Não sigo redes sociais porque não quero ver gente brigando por causa de política ou futebol, mas chovem artigos, fontes e pessoas interessantes. Estou sempre hiperligado em tudo, e essa é a obrigação do profissional de hoje.
Diante disso, cresce o número de pessoas que oferecem fórmulas prontas para o sucesso…
Schneider – Tenho amigos que são grandes coaches. Por outro lado, temos uma enxurrada de gente que faz um curso de um de semana e se torna coach. Assim como existem grandes marqueeteiros, tem muita gente fazendo curso de fim de semana e se tornando especialista em marketing digital. Tem muito especialista em um monte de coisa, mas um especialista precisa ter dez mil horas de ofício, oito anos trabalhando oito horas por dia. Então temos uma crise de atalhos. As pessoas querem ficar ricas, inteligentes, e ser promovidas por meio de atalhos. Não existe atalho, existe trabalho. Trabalhar não é feio. Feio é trabalhar no que não se gosta, porque daí a pessoa não avança.
Qual o recado para os empresários que precisam lidar com os profissionais do século XXI?
Schneider – Que procurem sua turma. Quem não veio para o século XXI e continua com a metodologia do século passado, que procure pessoas que gostem de trabalhar à moda antiga. Uma pessoa mente aberta que gosta de trabalhar em rede, se vai para uma estrutura totalmente antiquada, mas que funciona, porque precisa de emprego, vai ficar infeliz. E a empresa vai ficar infeliz com ela. Tem gente que trabalha no método antigo, ganha dinheiro e é feliz. Tem que deixar esse cara trabalhar.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br