Atuante na área da educação faz mais de 30 anos, Mara Lúcia Crestani Goergen, 50, é presidente do Sindicato dos Professores Municipais de Lajeado.
• Na sua visão, qual é o maior desafio das escolas e professores da região?
As mudanças no cotidiano das famílias ao longo dos anos alteraram o relacionamento dos pais com a escola e isso deturpou a visão deles sobre o tipo de responsabilidade da instituição em relação às crianças. Percebo que as demandas na sala de aula aumentaram, sobrecarregando o professor e atribuindo-lhe novas funções ao mesmo tempo em que vimos o nosso trabalho sendo desvalorizado. A escola de hoje se engessou e nesse processo foi se perdendo o relacionamento, participação e apoio dos pais, investimentos públicos e iniciativas comunitárias para resolução de necessidades menores do ambiente escolar, afinal, nem tudo é dever do governo.
• E o professor está de fato preparado e amparado para essas mudanças?
Vejo que a formação do professor não acompanhou essas mudanças. Hoje temos cada vez mais problemas sociais repercutindo nas escolas e muitos profissionais não estão preparados para lidar com isso. Por exemplo, quando um professor vai buscar formação para lecionar Português, ele aprende tudo sobre gramática, mas pouco ou nada se fala dos problemas psíquicos e sociais que essas crianças e jovens trazem de casa. Não saber detectar esses transtornos atrapalha a aula, estressa o professor e gera carências de todos os lados. Ele se detém ao conteúdo e a humanização fica de lado. Há um movimento de preparar melhor os profissinais para essas situações, mas muito pequeno e paliativo.
• De que forma, então, humanizaríamos as escolas?
A escola precisa da participação da família. Há 15 anos os professores realizavam trabalhos para trazer os pais até a escola e fazer com que presenciassem, discutissem e participassem do processo de ensino do aluno. Temos que ter em mente que a família educa e a escola ensina, mas isso não quer dizer que cada lado precisa fazer seu trabalho separado. A criança é uma só. Ela soma as vivências de lá e cá e esse ponto de encontro é para a formação. Precisamos de empatia de ambas as partes e que o professor converse com o pai, por mais controverso que o comportamento dele possa ser. Se a educação não tiver humanização, ela não é educação, mas sim um mero processo de transferência de conteúdo pragmático sem contexto social.
Victória Lieberknecht: victoria@jornalahora.inf.br