Motoristas que cruzam a BR-386 se deparam com uma cena inusitada ao passar pela Linha Perau. Dispostas na entrada de uma propriedade, frutas, verduras e hortaliças estão à venda, mas sem preço determinado ou atendentes. Um cartaz orienta os consumidores a depositarem em uma caixinha o valor que acharem justo para os produtos.
Ideia do produtor rural Elson Henrique Griesang, 40, a feira self-service foi inaugurada na semana passada. Segundo ele, a ideia surgiu pela necessidade de vender a produção aliada à falta de tempo para isso.
Conforme Griesang, o sistema é comum em países da Europa como Alemanha e Suíça. Para o produtor, é uma forma de promover o bom senso entre os consumidores, garantir uma renda extra e evitar gastos com logística.
“Se eu fosse vender em feiras, teria que gastar com combustível, pneus e manutenção. Vender para atravessadores significa um valor irrisório para o produtor e caro para quem compra”, acredita.
Segundo ele, a maioria das pessoas contribui com um valor menor do que o cobrado no mercado, mas maior do que receberia se vendesse para atravessadores.
Conforme o agricultor, os alimentos são produzidos com o mínimo de produtos químicos. Alega utilizar veneno apenas para limpar o solo. O manejo das plantas, ressalta, é feito com materiais orgânicos como a pimenta, utilizada para matar pulgões.
“Vale a pena porque não depende de tempo, e os produtos acabariam estragando se ficassem em casa”, alega. Conforme Griesang, a conferência da caixinha com as contribuições é realizada duas vezes por dia, e a intenção da proposta é também mostrar que é possível confiar nas outras pessoas.
“Se alguém pegar e não pagar, vai da consciência de cada um. Não vou ficar fiscalizando para ver quanto cada pessoa deixou, porque não é isso que importa”, alega.
Direto da horta
Conforme Griesang, a intenção da família não é manter a feira na entrada da propriedade. Segundo ele, a ação é o embrião para uma proposta ainda mais ousada, uma espécie de colha e pague, também no modelo self-service.
“A pessoa vai poder entrar na propriedade, ir na horta para colher e depois pagar de acordo com a consciência”, alega. De acordo com o produtor, a proposta é de oferecer uma experiência nova para os consumidores e também reconectar as famílias com a terra.
“Queremos permitir que as famílias possam fazer essa visita, mostrar para os filhos de onde vêm os alimentos. Hoje as crianças já não sabem mais essas coisas”, relata.
Outro motivo para apostar nesse modelo de comércio foi a possibilidade de dedicar mais tempo à família. “Tenho dois filhos e a mãe deles trabalha fora. Na propriedade, também vivem minha mãe e meu padastro, que são idosos e precisam de cuidados.”
Para ele, estar em casa com os filhos representa a chance de prover uma melhor educação, responsabilidade que as famílias hoje transferem para a escola.
Desconfiança vencida
Mãe do produtor, Nelci Doraci Griesang não acreditava no sucesso da ideia. Para ela, que vive na localidade faz 48 anos, as pessoas não colocariam dinheiro na caixinha ao pegarem os produtos. A desconfiança foi vencida nos primeiros dias de funcionamento da feira.
“Vi um homem parar o carro e ele me perguntou como funcionava, porque não tinha preço nem dono. Aí eu falei que tem a caixinha para colocar o dinheiro e no fim ele deixou uma nota de R$ 20, bem acima do que esperávamos.”
De acordo com Nelci, todas as frutas e hortaliças foram plantadas pela família. “Quando chegamos aqui, não tinha nada, só morro e mato”, lembra. Conforme a produtora rural, parte das mudas que hoje compõem a feira foram adquiridas em outros estados, principalmente no Paraná.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br