A ressaca de temor causada pelo assalto ao Banco do Brasil com uso de explosivos, reféns e fuzis, na última terça-feira, 6, ainda ecoa na pequena comunidade de 6 mil habitantes. Em meio aos destroços da agência explodida, revelou-se a fragilidade na segurança pública do município. Nesta semana emergiu o boato de moradores de que o BB na cidade não voltará a abrir devido a falta de policiamento na cidade. A direção não confirma.
Com o único Banco do Brasil na cidade destruído, trabalhadores e aposentados que recebem salários pelo BB recorrem a agência dos Correios. Nisso, incluem-se os mais de 600 funcionários da Beira-Rio, por exemplo, que se aglomeram, em dias intercalados, em filas para sacar o dinheiro do mês.
“Isso nos prejudica muito. Principalmente os colegas que não possuem carro e que acabam tendo que ir até Lajeado. Trabalhamos a semana toda, se precisarmos falar com o gerente do BB, por exemplo, teríamos de faltar um dia no emprego, o que é bem complicado”, explicou Ana Paula Locatelli, 23, funcionária da Beira-Rio.
Devido a alta demanda de saques em dinheiro nos Correios da cidade, todos os dias, praticamente, a agência fica sem cédulas. A situação também impacta o comércio, que amplia os prazos de pagamento. “Tivemos que estender o prazo para pagamento de crediário devido a este incidente. Não há cédulas em dinheiro para todo mundo na cidade”, conta o gerente de loja Estevão Heisler, 26.
De acordo com a direção do Banco do Brasil, a situação ainda ainda está em análise. “Não há decisão sobre o fechamento ou quaisquer outras medidas – o que só acontece após avaliação pelas áreas de segurança e engenharia do BB”, informa a instituição.
Em abril do ano passado, a agência do Banco do Brasil em Boqueirão do Leão foi fechada após sofrer assalto, sendo transferida para Barros Cassal. O mesmo ocorreu em Progresso. As duas cidades estão sem o serviço.
O medo dá a volta na quadra
Na mesma quadra da agência do Banco do Brasil, localizada na rua 28 de maio, no centro da cidade, outros dois bancos circulam o perímetro – uma agência do Sicredi e outra do Banrisul. De acordo com relatos de moradores, uma vítima que teria sido feita de refém durante o assalto na madrugada de terça-feira, ouviu um dos bandidos anunciar que o próximo banco a ser assaltado na mesma ocasião seria o Banrisul. “Mas parece que eles desistiram porque conseguiram levar um alto valor do Banco do Brasil”, relata a moradora Claudete Enhgart, 55.
As cidades do interior gaúcho tem sido alvo permanente dos criminosos. Em Mata, na Região Central do Estado, por exemplo, nos últimos 30 dias dois bancos foram assaltados por quadrilhas. Somente neste mês, pelo menos 10 agências foram assaltadas no Estado.
No Vale do Taquari, foram 19 casos nos últimos 14 meses.
Amedrontados com a possibilidade de um novo ataque, especialmente com uso de explosivos,, moradores do condomínio Blumen que fica acima da agência do Banrisul, na rua Coronel José Diel, se mobilizam para que o banco saia do prédio.
“Todas as noites dormimos com medo de que um ataque igual ocorra abaixo de nós”, fala a costureira Thaís Neumann, 18.
Ela lembra que na noite do assalto, com a força da explosão, parecia que o prédio atacado era o deles. “Por mais que o banco tenha seguro, nossas vidas não estão asseguradas. Somos a favor de que esta agência do Banrisul seja transferida para outro local”, implora.
O gerente da agência do Banrisul informa que não poderia prestar maiores esclarecimentos sobre a mobilização dos moradores.
“O que posso dizer é que esta agência do Banrisul adota todas as medidas de segurança previstas”, resume Maicon Majada, gerente.
Preparo dos bandidos surpreendeu
Pelas esquinas e em rodas de conversa, moradores trocam informações sobre a madrugada do ataque. Muito além da fragilidade no efetivo policial, a ação da quadrilha, que durou cerca de 30 minutos, revelou o planejamento estratégico dos criminosos.
“A situação é bem complicada. Não são meros bandidos. São ladrões preparados que sabem o que e como fazer. A ação durou pouco tempo e cumpriu seu objetivo sem ferir ninguém. Infelizmente, temos de conviver com o despreparo da polícia”, reclama o empresário Rafael Azevedo, 21.
Com a força das explosões, estilhaços de dinamite atingiram a loja em frente ao Banco do Brasil. Uma vitrine inteira de vidro quebrou. Felizmente, não havia ninguém em frente ao estabelecimento.
“Tive que conversar com o gerente da agência do BB para não sair no prejuízo. O seguro do banco pagou uma nova vitrine para nós. Foi feia a coisa por aqui”, disse o empresário Jorge Luis Ely, 58.
Ainda que o Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil (Deic) tenha aumentado o efetivo do grupo de investigações de quadrilhas especializadas em ataques a banco, até o momento, nenhum criminoso envolvido no ataque a Santa Clara do Sul foi preso.