Encontros evocam luta permanente

dia da mulher

Encontros evocam luta permanente

Atividades alusivas ao Dia Internacional da Mulher marcaram a quinta-feira. Junto com as comemorações, os encontros trouxeram reflexões sobre o machismo, o combate à violência doméstica e à desigualdade de gênero que ainda prevalecem no cotidiano

Encontros evocam luta permanente
Vale do Taquari

O Dia Internacional da Mulher foi comemorado na região destacando as lutas já enfrentadas pelas mulheres e o fortalecimento da continuidade das conquistas. Lajeado, Estrela, Bom Retiro do Sul, Travesseiro e Fontoura Xavier sediaram, ontem e quarta-feira, os primeiros eventos deste mês, que será voltado a elas.

Em Lajeado, o grupo Mulheres em Movimento Mudam o Mundo, do Centro de Orientação Holística Saudável (Cohvisa) seguiu a tradição. Se reuniu no centro durante a manhã para entregar plantas medicinais e presentear as mulheres com abraços, sorrisos e materiais informativos.

Nos panfletos, a associação destacou momentos marcantes vividos pelas mulheres, que levaram à escolha da data representativa. Um deles foi o terror do dia 25 de março de 1911, quando 125 trabalhadoras morreram num incêndio na Companhia de Blusas Triangle, em Nova Iorque, enquanto lutavam por direitos trabalhistas.

Outro fato relembrado foi uma grande passeata das mulheres realizada em 26 de fevereiro de 1909, também na capital dos Estados Unidos, quando as reivindicações também foram voltadas por melhorias nas condições de trabalho.

“As mulheres estão pagando um preço muito alto”

Hoje os desafios são outros, mas ainda permeiam o campo do trabalho, dos relacionamentos e da vida social. Segundo o Fórum Brasileiro da Segurança, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país, que é o quinto em feminicídios no mundo.

“As mulheres estão pagando um preço muito alto por estarem se desafiando e enfrentando a sociedade. Ainda vivemos num mundo machista, que vê as mulheres como propriedade. E quando alguns homens não podem concorrer dentro do diálogo, então, eles agridem”, ressalta Eloede Conzatti, presidente do movimento.

Coordenadoria da Mulher

Na quarta-feira à noite, na Sociedade União Bom-retirense, o município empossou a responsável pela Coordenadoria da Mulher. Nilza De Paula ficará à frente da entidade, que tem o objetivo de articular, propor, executar, assessorar, apoiar ações e políticas públicas voltadas para a mulher e a defesa de seus direitos.

Depois da posse, a comandante Nádia Gerhardt, tenente-coronel da reserva da Brigada Militar e vereadora em Porto Alegre palestrou. Nádia foi a primeira mulher a comandar um Batalhão de Polícia no Estado. Ela implantou e coordenou a Patrulha Maria da Penha.

Caminhada da Sthas, Liga e Delegacia da Mulher orientou as mulheres

Caminhada da Sthas, Liga e Delegacia da Mulher orientou as mulheres

Caminhada pelas mulheres

Ainda no início da manhã, integrantes da Secretaria do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), Delegacia da Mulher de Lajeado e da Liga Feminina de Combate ao Câncer fizeram uma caminhada pela rua Julio de Castilhos. Elas entregaram presentes às mulheres e compartilharam informações sobre os serviços de proteção.

A assistente social Magda Rigo, responsável pelo Centro de Referência e Atendimento à Mulher (Cram), ressaltou a importância dos serviços da rede de proteção. “As mulheres romperam barreiras e hoje merecem homenagem. Devemos atuar para que conheçam nossos direitos e para que possamos exercê-los cada dia de forma mais plena, sem discriminações ou violência de qualquer tipo.”

Dos 2.037 servidores da prefeitura, 1.645 são do sexo feminino. Isso significa que mais de 80% da força de trabalho pública municipal é formada por mulheres. Isso decorre especialmente da formação das equipes de trabalho das escolas do município, formadas basicamente por mulheres.

Mulheres do campo

No Esporte Clube Travesseirense, ocorreu a tradicional comemoração organizada pelo Movimento das Trabalhadoras Rurais. Cerca de 700 mulheres de Arroio do Meio, Capitão e Travesseiro eram aguardadas para a programação, que iniciou com culto às 9h, seguido das palestras com a delegada aposentada, Elisabete Cristina Barreto Muller, e a advogada Bernadete Jaeger Lermen.

À tarde, representantes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR) falaram sobre a crise no setor leiteiro. Depois o médico Ronald Wolff fez uma palestra motivacional.

20º encontro

Em Fontoura Xavier, ocorreu o maior evento dedicado a elas. O 20º Encontro Regional do Dia Internacional da Mulher, no Parque das Tuias, reuniu cerca de duas mil pessoas. O objetivo foi integrar as mulheres, relembrar lutas e significados. Durante o dia, ocorreram debates sobre a mulher, apresentações artísticas e baile.

Empoderamento

O Workshop Musical Empoderamento Feminino, com palestra da terapeuta social e personal coach Sônia Mara do Nascimento e apresentação do Grupo Seu Tom, Seu Som, Seu Eco, foi realizado ontem à noite, na Soges, em Estrela.

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Entrevista

“ Não queremos passar à frente de ninguém”

Eloede Conzatti, 66, atua desde os 13 anos em movimentos sociais. Ex-vereadora e secretária da Educação de Lajeado, hoje é presidente do Cohvisa, onde atua desde a criação do grupo, há 18 anos.

A Hora – Por que o grupo tem o foco na saúde?

Eloede – Porque tudo depende da nossa saúde. Se não temos saúde, não temos vontade de estudar, de sair à rua, rir ou conversar. Então, a saúde é a porta para trabalhar a educação, a assistência, a política, os movimentos sociais e a economia, por exemplo. Hoje há muitas mulheres que são donas de casa, chefes de família e que precisam buscar a sobrevivência delas e dos filhos.

Em toda esta trajetória, quais os principais desafios que você percebe para as mulheres?

Eloede – Hoje é a violência. A agressão psicológica é uma das mais preocupantes, porque é uma violência silenciosa. As estatísticas mostram que muitas mulheres morrem todos os dias por querer apenas uma coisa: a liberdade de manifestação e de escolha. Não queremos passar à frente de ninguém. Nós queremos estar ao lado e junto da sociedade. Criar as famílias, dividir as tarefas, e dialogar.

Para muitos, o Dia da Mulher tornou-se uma data comercial. Qual tipo de valorização, de fato, está faltando às mulheres?

Eloede – Nós gostamos muito de receber um presente, quem não gosta. Mas hoje não é um dia de homenagem para dizer: você é a mais querida. Não. Você é um ser humano, que está ocupando um espaço neste mundo, e que tem direito de estar junto, dialogando.

Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br

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