A manhã de segunda-feira foi agitada para a família Frohlich, moradora de uma pequena propriedade rural às margens da ERS-130, em Palmas, Arroio do Meio. Por volta das 6h, a Polícia Federal (PF) chegou ao local com um mandado de busca e apreensão, e também para condução coercitiva do patriarca, Everaldo. No entanto, tudo foi um grande equívoco policial e Judiciário.
Os mandados e a autorização para a condução eram referentes à 3ª fase da Operação Carne Fraca, denominada Operação Trapaça, que investiga supostos crimes de falsificação de documentos, planilhas e laudos por parte da multinacional BRF S/A. As falsificações, de acordo com a PF, serviriam para – entre outras razões – omitir a presença de salmonela pullorum em alguns animais abatidos.
Mais de 270 policiais federais e 21 auditores fiscais federais agropecuários cumpriram 91 ordens judiciais nos estados do Paraná, Santa Catarina, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. Foram 11 mandados de prisão temporária, 27 mandados de condução coercitiva e 53 mandados de busca e apreensão. Todos foram expedidos pelo Juízo Titular da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa (PR).
Dessas 91 ordens assinadas pelo juiz, Andre Wasilewski Duszczak, a pedido da PF, pelo menos uma está completamente equivocada, e levou o nome de Arroio do Meio para os principais jornais, rádios e telejornais do país, como sendo a única cidade gaúcha supostamente envolvida na investigação. A PF confirma o equívoco.
O arroio-meense chamado Everaldo Frohlich, de 49 anos, tem, na verdade, o mesmo nome de um médico-veterinário que mora na cidade de Piraí do Sul (PR) e que teria atuado na planta da BRF S/A, em Carambeí, outra cidade daquele estado, onde supostamente “liberou o abate de aves contaminadas por Salmonella pullorum”.
Conforme o despacho do juiz, o paranaense Everaldo Frohlich – que ainda tem um segundo nome, Rodrigo – é citado como morador de Arroio do Meio, mais precisamente da “ERS-130, próximo ao km 85, zona rural, Palmas”. Consta, ainda, que a residência dele ficaria “próxima à Escola Estadual São José das Palmas”.
De fato o arroio-meense mora naquele local. Mas com apenas um equívoco: a tal Escola Estadual São José das Palmas é, na verdade, o Esporte Clube São José de Palmas – instalado a poucos metros da propriedade rural dos Frohlich –, já que não existe qualquer educandário do estado com tal denominação em Arroio do Meio.
“Levamos um grande susto”
Passadas algumas horas da condução coercitiva, Everaldo Frohlich, o arroio-meense, fala em tom de brincadeira sobre o equívoco cometido pela Justiça paranaense, e faz questão de ressaltar a educação dos agentes da PF que foram até a residência. Entretanto, ele também confirma: o susto foi grande.
“Eu acordei de manhã com umas ‘luzinhas’ vermelhas piscando na janela, no vidro. Fui ver o que era e dei de cara com uma camionete grande da Polícia Federal. Pensei: Meu Deus”, relembra. Toda a família ainda estava dormindo, conta ele. “Imagina, era por volta das 6h. Não tinha ninguém acordado”, reforça ele.
Everaldo deu bom-dia aos três policiais e ao delegado. “Bom dia. É aqui que mora Everaldo Frohlich”, perguntou um dos policiais. “Sim, sou eu”, respondeu o agricultor. “Temos um mandado de busca e apreensão para o senhor”, replicou o mesmo policial.
O arroio-meense ficou preocupado, e o agente da PF tentou esclarecer. “É sobre questões sanitárias.” Everaldo foi acordar os dois filhos, mas um outro policial não deixou ele ir sozinho. “ Sei lá. Vai ver pensaram que eu poderia fugir”, comenta ele. Alguns minutos depois, e já percebendo que o agricultor poderia não ser a pessoa certa, alguns policiais começaram a pedir desculpas.
“Podem revistar tudo”
Com toda a família já acordada – e assustada –, Everaldo avisou aos policiais. “Podem revistar tudo. Se quiserem, podem colocar minha casa de pernas para o ar. Eu tenho algumas plantações, de aipim, batata, para consumo próprio, e às vezes abato alguns animais. Mas também para consumo próprio. E o que eu não carneio eu mando para o frigorífico”, disse.
Um dos agentes pediu se ele trabalhava com frangos e para a BRF. Ouviu a negativa. “Nunca tive aviário.” A outra pergunta também foi rapidamente respondida. “Me pediram se eu tinha formação em Veterinária. Eu respondi: só estudei até a 6ª série.” Foi então que, segundo os integrantes da família Frohlich, os policiais tiveram a certeza do erro.
Mesmo assim, Everaldo precisou ir até a Delegacia da Polícia Federal, em Santa Cruz do Sul. Foi com o próprio carro, na companhia de um dos filhos. “Um policial foi junto no nosso veículo”, informa. “Fomos conversando até lá, tudo bem tranquilo. Lá, a primeira coisa que me falaram foi: não tem nada a ver contigo e o cara certo é do Paraná. Nos desculpe.”
Vizinhos testemunharam
Duas vizinhas de Everaldo, Carine Reckziegel e Tatiane Schwertner, foram chamadas pelos policiais para testemunharem. Antes disso, também levaram um susto. “Eles gritaram para nós, pediram se poderíamos acompanhar a condução. Quando chegamos, já estavam todos acordados. O Everaldo estava bem assustado, tadinho. Mas não ouvimos nada da conversa. E antes do meio-dia ele já estava de volta”, contam.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br