A mais corajosa

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

A mais corajosa

Por

Houve um dia em que uma animada conversa entre amigas trouxe à pauta uma comparação de quem de nós seria a mais corajosa, a mais aventureira. Foram vários os depoimentos e histórias contadas: pulos de bungee jump, mergulhos em águas profundas, escaladas nas alturas, lipoaspiração, cortes radicais nas madeixas, mudança de carreira aos 40 anos, viagens sem destinos ou escalas planejadas, comer aipo em jejum, enfim, saiu de tudo um pouco.
Foi difícil entrarmos em um consenso de quem de nós seria a mais corajosa ou aventureira, mas ao final uma das amigas se manifestou e declarou considerar-se “a mais parada” pois, segundo ela, nunca fez nada de diferente ou ousado além de criar três filhos e dar aula para o Ensino Fundamental.
Com um breve silêncio e uma sequência de nananinanãos disparados simultaneamente, discordamos dela. Criar três filhos? Espera aí, querida! Antes de criá-los, você teve a coragem de encarar três partos normais. Depois assumiu o fato de que haveriam muitas noites em claro ou, como dizem popularmente, dormidas com um olho aberto e outro fechado. Ocupação e preocupação constantes passaram a fazer parte da sua vida, fosse pela assistência materna de ordem prática, que inclui mamadeiras, fraldas, remédios, ou de ordem psicológica, que nesse caso incluem questionamentos de como você irá pagar a faculdade, ensinar o que é certo e errado, dizer que há vida fora do celular, que chorar ou sorrir por amor faz parte da nossa existência.
Depois de tudo isso ainda estendemos nossa reflexão sobre a coragem que ela teve quando assumiu e seguiu com a nobre e tão injustamente desvalorizada profissão de professora. Falamos tanto e com tanta ênfase em nossos argumentos que no final da conversa já havíamos eleito a mais corajosa e aventureira entre nós.
Agora, alguns anos mais tarde, eu soube que uma amiga daquelas que na ocasião participou da conversa será mamãe. Falando com ela, perguntei como se sentia com a situação. Ela respondeu que sente muita expectativa e um medo enorme, bem maior que o medo que sentiu quando pulou a primeira vez de paraquedas. Por fim, foi ela quem me perguntou o que eu achava. Minha resposta foi simples: pois bem amiga, fecha os olhos e se atira!

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