Sei lá entende?

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Sei lá entende?

Por

Sábado à tarde, sentada em frente à manicure e ela me diz:
– Vá escolhendo a cor do esmalte que queres usar.
Enquanto ela trabalha, eu começo a dura escolha. Vou dos tons laranja aos tons nude. Então, por um instante, penso que o velho e antigo esmalte “Renda” seria uma boa opção. Azul. Isso mesmo, vou pintar de azul, afinal, há sempre uma primeira vez. Chega a hora e a manicure pergunta:
– Escolheu a cor?
– Sim, preto, por favor.
Mal tomei a decisão e a cabelereira pergunta-me:
– Como vais queres a escova?
É esse o momento que um turbilhão de pensamentos invade minha paz. Escova lisa? Para fora? Para dentro?
Já de frente para o espelho, olho-me fixamente. Hora de decidir outra vez. Uma decisão que fará toda a diferença (esse contexto só nós mulheres entendemos). Permaneço muda. Um silêncio tenso instala-se no ambiente. A cabeleireira está a postos com o secador na mão. As demais ajudantes permanecem imóveis me olhando, prontas para agir. Há uma senhora que aguarda com os bobs nos cabelos e até mesmo ela deixa de ler sua Vogue para olhar em minha direção e saber da minha escolha.
Começo a sentir uma sensação confusa. Não há mais para onde fugir. Preciso decidir e então digo:
– Por favor, prende.
– Prender? Estranho, você nunca prende.
Saio do salão de beleza e me dou conta que estou em um daqueles dias em que a vontade é dizer “sei lá” pra qualquer coisa que me perguntarem tipo: Está cansada? Sei lá. Quer sair para jantar? Sei lá. Vamos viajar no Natal? Sei lá. Quer assistir à TV? Sei lá. Vais para o banho agora? Sei lá.
Sei lá o que mais poderia ser respondido com sei lá. Eu estava com a minha mente e a minha alma em estado de sei lá. O que quer dizer isso? Algo que se pareça com bege. Um sentimento de esvaziamento mental, com o botão da racionalidade pausado e o botão da vontade emperrado. A liberdade de escolha ali dando bandeira e a inércia estabilizada, numa vontade figurada de ficar deitada numa rede, balançando devagar de um lado para o outro, sei lá, entende?

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