Recebi uma ligação do céu

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Recebi uma ligação do céu

Por

Acordei atrasada. Meia hora depois do que é o costume. Saí da cama num salto e então rapidamente escovei os dentes e penteei os cabelos. Pulei a maquiagem, apenas passei um batom.
Fui acordar minhas filhas para que se arrumassem para a escola. Não escolhi muito, então, vesti uma calça jeans e uma camisa branca. Coloquei meus brincos e calcei um tênis. Fui até a cozinha e preparei leite e café. Tomamos aos goles, deixando as xícaras pela metade.
Deu tempo de deixar as meninas na escola, sem atrasos. Estacionei e sai correndo na chuva. Não pude abrir o guarda-chuvas porque acabei esquecendo-o em casa. Cheguei no escritório, desarmei o alarme e comecei logo a listar os afazeres para determinar as prioridades.
Se antes eu estava com pressa e atrasada, agora estava sob enorme pressão pois todas as tarefas pareciam-me prioridade. Ainda assim, me esforcei e nomeei as primeiras em que trabalharia.
Quando comecei a fazê-las, tocou o telefone. Atendi.
-Pois não?
– Bom dia! É a senhora Raquel?
– Sim sou eu mesma.
– A senhora tem um minuto para me atender?
Pergunta difícil de responder. Afinal há poucos instantes tive que priorizar o que eu faria primeiro e agora esta pessoa chega assim querendo furar a fila? Não sei não. Será que disponho mesmo de um minuto para ouvi-la? Resolvi conceder-lhe esse tempo e continuei o diálogo.
– Um minuto tenho sim. O que deseja?
– Gostaria de lhe pedir uma colaboração para a nossa entidade.
Ela passou de um minuto e me explicou toda a situação. Deve ter ocupado uns cinco minutos. Agradeci e expliquei que eu já colaborava com outras. Desliguei o telefone e voltei para as minhas atividades. Foi nesse momento que parei tudo o que fazia e tristemente me dei conta do quão difícil é para nós ceder nosso tempo, nossa atenção e algum recurso para quem precisa.
Tenho o entendimento de que todos nós estamos presos em um emaranhado de compromissos e tarefas, mas, definitivamente, não está certa essa escassez crônica de tempo que nos impede de atender ao próximo com o mínimo de atenção e que por vezes prejudica inclusive a qualidade do nosso “estar” com amigos, filhos, pais.
Naquela manhã, desliguei o botão da pressão e regulei-o para que ligasse outra vez em três horas. Deixei as tarefas como estavam (por fazer) e fui para a casa da minha avó que eu não via há meses. Tomamos um mate doce juntas e trocamos algumas falas corriqueiras. Foi bom demais.
Bem, resta-me agradecer à telefonista daquela entidade (que só pode ter sido um anjo) que, ao me ligar pedindo ajuda, acabou me ajudando.

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