Solidão com vista pro mar

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Solidão com vista pro mar

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

São dias e dias vividos em busca de propósitos que não compreendo muito bem. Somos feitos de sonhos, esperanças, experiências e, é claro, de algumas decepções. Quando acordamos e abrimos nossos olhos para mais um dia, geralmente temos em mente o que as próximas horas nos reservam.
Prepotência nossa essa certeza de que dominamos os acontecimentos. A realidade é que deveríamos agradecer ao fato de que na verdade as horas que seguem poderão nos conceder algo que não tínhamos planejado. Essa expectativa serve-nos como um bálsamo que alivia os sintomas do tédio, da melodia repetitiva e do tempo de uma vida consumida e não consumada. Mas somos temerosos.
Preferimos controlar as marionetes a arriscarmos. Preferimos aplaudir sentados a viver nos palcos da vida, pois sentimos que esperar os aplausos que chegam ao final de cada show é angustiante demais. Então, de repente, já estamos acostumados a não sermos mais aplaudidos. Pena. Faz bem ouvir aplausos, mesmo vindos de pouca plateia. Não estou me referindo aos aplausos que elevam a nossa vaidade. Mas aos aplausos que, fazendo barulho, demostram que não estamos sós.
[bloco 1]
Demonstram que há alguém observando, testemunha a nossa atuação enquanto protagonistas de nossas vidas e coadjuvantes na vida dos mais próximos. Estar só me agrada. Ser só me aterroriza.
Então preencho meus dias com todas as formas de companhia que me são possíveis: família, trabalho, amigos, livros, músicas, lembranças, problemas, comida. Ainda assim há angústia. Talvez a solução seja saber conviver com a nossa própria companhia.
Observo que, independente das escolhas que fizermos ao longo da nossa vida, precisamos, entre muitas coisas, aprender a ficar bem quando estivermos sós. Sermos para nós mesmos uma companhia agradável, amável e suficiente. Do contrário, quando estivermos a sós, nos sentiremos como uma criança com medo do escuro.
Ao invés disso, devemos nos esforçar para que a nossa solidão faça-nos sentir como se estivéssemos de frente pro mar, contemplando um horizonte infinito, com ondas que vêm e vão, com marés altas e baixas, com inúmeras belezas escondidas lá no fundo e que, mesmo sem poder ver, sabemos que estão lá. Autoconhecimento e aceitação podem fazer da nossa solidão, uma solidão com vista pro mar.

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