“Blanquette de veau”, “cassoulet” e “coq au vin”

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

“Blanquette de veau”, “cassoulet” e “coq au vin”

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A tarefa do jornalista é contar histórias sem alterá-las. Não decidimos o destino dos fatos. O compromisso é com a verdade factual, mesmo quando dói na gente. Foi assim com a reportagem que fiz sobre a vida de Adriano da Silva, o “Adri”. Retratar a brusca queda de quem teve a grande chance de sucesso na vida doeu. E minha única vontade, ao escrever o texto, era criar um novo final para o enredo. Será que ainda dá tempo?
Escrever sobre a vida de Adri não foi simples. Foram meses tentando convencê-lo a dividir o drama pessoal dele com vocês, leitores. É compreensível, claro. Muito mais fácil seria convencer alguém a dividir uma história repleta de glórias. Sem erros. Sem culpas. Sem prisão. No fim, o ex-jogador aceitou a tarefa de se confrontar com a própria vida. Algo necessário para ele, principalmente.
Adri parece ciente dos erros que cometeu e sabe, claro, não terá nova chance na vida. Não tem idade, pernas ou saúde para seguir uma vida de atleta. Mas não podemos aceitar a morte prematura. Tampouco a morte derradeira. Por mais que tenha cometido erros na vida, merece uma nova chance. Merece sorrir com a vida.
Para quem não sabe, além de passar nove anos na Alemanha, morou por um ano na França. Aprendeu a língua e provou muito “Blanquette de veau”, “Cassoulet” e “Coq au vin”. Provou do luxo que lhe foi negado na infância pobre. Mas não teve cabeça para aguentar as tentações.
Hoje ele não tem gás de cozinha para ferver água. Na humilde casa no bairro Santo André, herdada da mãe recém-falecida, esquenta o que consegue de comida com lenha. A residência está sem energia elétrica. Abalado pelos vícios e problemas de saúde, ele não consegue empregos. Reclama, claro, de poucas oportunidades durante os períodos de lucidez.
Nessa terça-feira, três dias após a história dele ser lida por milhares de pessoas, Adri reapareceu na redação. Vestia um sobretudo meio surrado, usava uma bandana na cabeça e um brinco novo na orelha esquerda. Resquícios de elegância.
Quem primeiro o recebeu foi o editor, Filipe Faleiro. O Filipe é um ser humano espetacular. Pai da linda menina, Bibiana, é uma pessoa sensível. O Adri estava feliz com a reportagem sobre a vida e a carreira. Senti, nele, a vontade de ser definitivamente salvo pela nossa redação. Pediu dinheiro. Eu relutei em dar. Filipe não resistiu.
Ontem, conversei com Filipe. Concluímos que dar dinheiro não é uma solução útil. Decidimos fazer um levante na redação para arrecadar alimentos. Uma ação mais promissora. Mas ainda é pouco. É difícil ajudar quando a gente não sabe bem como ajudar, né!? Eu me sinto assim.
Sinto que Adri precisa de novas oportunidades. Me falou em dar palestras para jovens jogadores de escolinhas. Contar a história dele para alertar sobre os riscos do sucesso. Algo assim. Ele ainda quer participar do esporte.
Ele não quer mais “blanquette de veau”, “cassoulet” e “coq au vin”. Só quer tentar uma vida digna. Por isso é importante contar essa história. Não é um enredo único. São vários “Adrianos” só em Lajeado. Cabe a nós, lúcidos e saudáveis, tentar ajudá-los. E talvez a primeira forma de conseguir isso seja ouvindo suas histórias. Foi o que eu fiz, e espero fazer ainda mais.


Chega de migalhas para o Vale

A novela sobre a construção de uma pequena ponte sobre o Arroio Saraquá, na ERS-413, em Lajeado, é uma vergonha para qualquer brasileiro. São quase 15 anos aguardando pelo investimento. São promessas sobre promessas. Muitas dessas repletas de mentiras ou meias-verdades. Foi assim, também, com os acessos asfálticos anunciados em 1998 e ainda incompletos.
Estamos amorcegados, tão acostumados com as migalhas que nossa indignação parece perder força com as novas promessas. Basta vir um agente público mais pomposo até nossa região e fingir a assinatura de um documento que nós já esquecemos dos quase 15 anos aguardando uma obrinha como essa. O recado tem que ser único: Chega de migalhas para o Vale!


Tiro curto

– A empresa Greencard foi contratada pelo governo de Lajeado para administrar o vale-alimentação dos servidores. É uma orientação do Tribunal de Contas do Estado (TCE);
– A direção do Hospital São Gabriel Arcanjo, de Cruzeiro do Sul, avisa: não haverá atendimento de raios X amanhã;
– Em Colinas, a Ação Civil Pública movida pelo MP contra o ex-prefeito, Gilberto Keller, por cobrança irregular de exames, está parada faz mais de meio ano porque o advogado de uma ré ainda não devolveu o processo;
– Leitora da coluna avisa: “Como se não bastasse a Administração Municipal de Lajeado ter iniciado o ano letivo com a palestra de um coaching, agora, novamente teremos um momento de ‘formação docente’ com o coaching da mesma aula magma.” O assunto, segundo ela, desperta desagrado geral nos docentes do município. Recado dado;
– Um processo licitatório para terceirização de serviços da saúde em Estrela vem movimentando os bastidores;
– O Ministério Público de Lajeado receberá material do MP de Estrela sobre o processo contra a empresa de recolhimento de lixo que atua nos dois municípios;
– É hora de votar e participar na Consulta Popular. Nos dias 1º, 2 e 3 de agosto, os eleitores do Vale do Taquari poderão optar por projetos regionais. Os três mais votados recebem cerca de R$ 600.000 cada. É possível votar pelo site, nas urnas e ainda via SMS. Participe, tchê! E boa quinta-feira a todos!

A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.
Franz Kafka

 

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