Temer, pede para sair

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

Temer, pede para sair

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Investigado por suspeita de corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça, Michel Temer quer nos convencer de que é vítima de uma conspiração motivada por “interesses subterrâneos”. Repete, apenas com outras palavras, o discurso de Dilma Rousseff, agarrada à teoria do golpe enquanto era defenestrada do Palácio do Planalto por causa das pedaladas e mentiras escandalosas durante a campanha eleitoral.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada nessa segunda-feira, o interino Temer saiu com pérolas históricas ao improvisar respostas para perguntas derradeiras. Temer foi questionado sobre Rodrigo Rocha Loures, que foi filmado correndo na rua com uma mala de dinheiro. Respondeu que o deputado é uma pessoa de “muito boa índole”. Que raio de índole é essa?
Outra: ao ser indagado sobre prática de prevaricação, por ter ouvido empresário na sua casa relatando crimes, Temer devolveu: “Você sabe que não foi?” Mas, então, foi o que, cara pálida?
A pior: diante de tantas negações e alegações furadas, o jornal perguntou a Temer qual seria, afinal, a sua culpa no episódio todo. “Ingenuidade. Fui ingênuo”, respondeu. Nos poupe, Temer. Ninguém se elege deputado por cinco vezes, ganha duas eleições como candidato a vice-presidente e ainda arquiteta impeachment de sua ex-aliada, sendo ingênuo. Aliás, você conhece algum advogado ingênuo?

Dias estranhos

A hecatombe que se espalhou sobre o país ainda impede qualquer tipo de projeção. Cai ou não cai? Renuncia ou não renuncia? Quando os escândalos e as entranhas da corrupção parecem alcançar o topo, surgem novas e cada vez mais surpreendentes revelações. Dias e fatos tão estranhos que ontem até o inabalável Paulo Maluf foi condenado a sete anos de prisão.
O impacto da delação do bandido-confesso Joesley Batista – livre, leve e solto nos Estados Unidos e provavelmente rindo da nossa cara – mudou o rumo do país. Temer até que estava conseguindo cumprir seu único propósito do governo, de promover as reformas que facilitariam a recuperação econômica. Conseguiu aprovar a PEC do teto de gastos e o socorro aos estados falidos. Mudanças na legislação trabalhista e na Previdência, apesar de sua impopularidade intrínseca, avançavam. Do lado da economia real, já começavam a surgir tímidos sinais de melhora. Agora, tudo mudou.
As revelações de Joesley o feriram em cheio, provavelmente de modo mortal. Por mais que seus competentes advogados, pagos a preço de ouro, tenham capacidade de explorar as resvaladas jurídicas cometidas pela PGR, Temer não resistirá.
Aliás, o amadorismo empregado pela Procuradoria Geral da República (PGR) é flagrante. É inacreditável, por exemplo, que não tenha periciado a gravação antes de usá-la num caso que pode derrubar não um João da esquina, mas o presidente da República.
Igualmente foi desapropriado o tamanho dos benefícios concedidos aos criminosos irmãos Batista, que não terão de usar tornozeleira e poderão ficar no comando da empresa. Soa estranho ainda que a PGR não tenha tomado medidas para evitar que a JBS operasse no mercado utilizando-se das informações privilegiadas que tinha. Ou seja, permitiu que os Batista saíssem ainda mais afortunados do que entraram. Só no Brasil.
Ainda que a PGR tenha resvalado ou que as gravações permitam questionamentos, nada sustenta o presidente no cargo. Temer, pede para sair.

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