Acidente interrompe carreira de maestro e comove cidades

Travesseiro

Acidente interrompe carreira de maestro e comove cidades

Professor de Música Gustavo Luís Rauber morreu entre o domingo e a segunda-feira após o carro que dirigia cair de um barranco. Marques de Souza e Travesseiro decretaram luto oficial

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Acidente interrompe carreira de maestro e comove cidades
Vale do Taquari

Centenas de pessoas lotaram o Clube Esportivo Travesseirense ontem para se despedir de um figura querida do município. Vizinhos, amigos, familiares, colegas e alunos deram adeus a Gustavo Luís Rauber, 28.

Professor de Música em duas escolas municipais, e regente da Orquestra Municipal de Marques de Souza, Rauber morreu entre a manhã de domingo e madrugada de ontem, após sofrer um acidente na VRS-811, em Travesseiro.

O Corolla que ele dirigia saiu de pista, e desceu um barranco de cerca de 20 metros, caindo em um lago. Conforme informações prestadas pela família à polícia, o professor estaria se dirigindo a um almoço na casa dos avós, em Forqueta, Arroio do Meio.

A ausência na reunião familiar causou estranheza. O contato por telefone não era possível e a própria família decidiu sair para procurá-lo. Marcas de um veículo na estrada geraram desconfiança e, depois, veio a confirmação. A retirada do veículo e do corpo de Rauber foi feita entre às 2h30min e às 6h45min, de ontem, pelo Corpo de Bombeiros de Lajeado.

O caso será investigado pela Polícia Civil de Arroio do Meio. O delegado responsável, João Alberto Selig, não havia recebido a ocorrência até o fim da tarde de ontem. Ele aguardará laudos médicos para apontar hipóteses, mas, por conhecimento prévio, acredita em um simples acidente de trânsito. Ainda não há mais detalhes do que teria acontecido no momento do acidente.

Velório reuniu centenas de pessoas ontem à tarde. A cerimônia segue hoje pela manhã. Em seguida, corpo de Rauber será sepultado no cemitério de Travesseiro

Velório reuniu centenas de pessoas ontem à tarde. A cerimônia segue hoje pela manhã. Em seguida, corpo de Rauber será sepultado no cemitério de Travesseiro

Velório e sepultamento

O corpo de Rauber foi encaminhado ao IML de Lajeado, e liberado antes do meio-dia de ontem. No início da tarde, chegou ao Clube Esportivo Travesseirense, onde o velório segue até a manhã de hoje. A partir das 9h, haverá missa de corpo presente na Igreja Matriz de Travesseiro, seguida do sepultamento no cemitério católico.

Travesseiro e Marques de Souza decretaram luto oficial por três dias. Hoje as repartições públicas não terão expediente até o meio-dia. Escolas tiveram as aulas canceladas.

 

 

Rauber havia concluído  o mestrado no dia 27 de abril

Rauber havia concluído
o mestrado no dia 27 de abril

Da infância para a eternidade

“Gus”, como era conhecido, é natural de Travesseiro. Filho de Orlando e Miriam Rauber, irmão mais velho de Joaquim e Josué. Estudou na Escola Estadual de Ensino Médio Monsenhor Seger, formou-se em Magistério no Instituto Estadual de Educação de Estrela (IEM) e cursou Licenciatura em Música pela UFRGS.

Nos dois últimos dois anos, também se dedicou ao mestrado em Educação Musical, pela UFRGS. Dissertação aprovada no dia 27 de abril. O momento foi registrado em uma postagem de agradecimento no Facebook, no dia 4.

“Essa pesquisa foi meus acordes, minhas melodias, meu palco por dois anos.” Também motivo de realização, segundo o amigo de infância Felipe Stefani. Criados na mesma rua, frequentavam a mesma escola, e tinham laços quase familiares, que se perpetuaram no coração do amigo.

Na sexta-feira passada, ambos tinham comemorado a nova fase de Rauber com um churrasco e jogo de carta. “Ele era uma pessoa muito pra cima. Parceiro. Nem sei o que te falar nessa hora. O Gus é fantástico”, resume.

Ponto onde aconteceu o acidente foi isolado após a retirada do automóvel

Ponto onde aconteceu o acidente foi isolado após a retirada do automóvel

Marcante

Em seu perfil no Facebook, Gus definia-se como um pessoa crente no que fazia, no próprio esforço, persistência e dedicação. Também ressaltava a paixão pelo ensino, que vinha de casa, de uma família formada por professores.

“Vivo pela educação pois para a atual e futura perspectiva mundial esse será o caminho.”

Professor na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Pretto desde 2007 – quando ainda cursava o Magistério – foi o responsável por implantar no currículo da instituição as aulas de Música. Ensinava a cerca de cem alunos, do 1o ao 6o ano, instrumentos diversos, além do canto. “Era um desenvolvimento. Começavam com a flauta, até aprender outros mais complexos. Tudo com ele”, conta a diretora Viviane Raquel Backendorf.

Rauber também era responsável pela Orquestrinha Infanto-Juvenil da escola, com a qual fez a última apresentação no sábado. Em homenagem às mães, exibiu com os alunos um mix de músicas. “Foi lindo. Para ficar na memória.” Assim como todos os sorrisos que ele dava e fazia os outros dar. “Era fora de sério. Perdemos o cara que nos fazia rir. Não tinha tempo ruim. Sempre arrumava um tempo para tudo. Quando tinha qualquer atividade diferente, ficava até de madrugada, era o último a sair.”

Características também lembradas por Fabiana Margarete Hofstetter, diretora da Escola Municipal Carlos Gomes, de Marques de Souza, onde Rauber desenvolvia desde 2009 um projeto semelhante ao de Travesseiro. “Era uma pessoa alto astral, brincava, mas também cobrava. Acreditava no que ele fazia, e apostava nos alunos.”

O professor ainda é lembrado como parceiro, amigo. Na sexta-feira, dedicou o seu intervalo para tocar sanfona às colegas. “Não acreditamos no que aconteceu. Uma saudade, uma dor inexplicável, uma pessoa que vai fazer muita falta. Parece que vamos acordar, e ele vai estar aqui de novo.”

Infográfico acidente travesseiro 2017-01Legado

Além dos alunos das duas escolas, Rauber transmitiu conhecimento a muitas outras pessoas da comunidade. Inclusive aos integrantes da Orquestra Municipal de Marques de Souza, que ajudou a formar.

Matheus Felipe Stoll, 18, era um deles. Com menos de 15 anos, lembra que tinha muita vontade de tocar instrumentos. “Via eles se apresentando e achava o máximo. Queria também. Mas queria guitarra. O Gus então me convidou, mas pediu para eu tocar teclado. Meio a contragosto, fui. E hoje posso dizer que me tornei músico profissional por causa dele. Tudo que aprendi foi com o Gus.”

Além da orquestra, também foram colegas na banda Cupim no Teto, que se desfez há algum tempo. Mas não findou a parceria profissional. Juntos, eles planejavam a gravação de um disco de Rauber. “Ele é um mestre. Tinha diversas músicas autorais, e queria gravar no meu estúdio. Já tínhamos combinado tudo. Mas não deu.”

 

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