O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro teve contornos surreais. A chegada foi digna de um estadista. Braço erguido, bandeira em punho, nos braços dos seus apoiadores. O esquema de segurança montado em Curitiba também merece destaque. A cena parecia tirada de algum filme hollywoodiano sobre um grande julgamento, ares de uma decisão impactante para o futuro.
Sem dúvida, o dia de ontem constará nos livros de história. Mas o gran finale ainda está longe. Todas as expectativas do dia em que Lula e Moro se encontraram frente a frente se mostraram reais, em especial pela conotação de ato político dado ao depoimento. Integrantes do PT, de movimentos sociais e de trabalhadores acamparam em frente ao fórum. Pintaram de vermelho as ruas próximas à sede do Judiciário. No outro lado, contrários ao ex-presidente também foram às ruas manifestar apoio ao juiz Moro.
Fechado para a imprensa, o conteúdo da acariação ainda não é público. O primeiro encontro tem característica muito mais de uma demonstração de força entre o petista e a Justiça Federal do que um possível esclarecimento do caso.
O processo em questão diz respeito aos supostos favorecimentos concedidos para a construtora OAS nos contratos com a Petrobras. Os discursos de Lula mostram uma tentativa de deslegitimar a atuação da Justiça, como se a inclusão dele como réu fosse vinculada a interesses políticos pré-determinados. Ele tenta convencer as pessoas de que o Judiciário, em especial Moro, consideram-no um perigo e que precisa ser desmascarado.
Com a retórica do ex-presidente, uma legião de militantes repete o discurso. Como efeito, o nome de Lula volta ao noticiário. Para alguns, ele vira mártir, para outros, está sentenciado e deve ser preso o quanto antes. Para fins de efeito à opinião pública, o nome dele já está entre os possíveis presidenciáveis para 2018.
A espetacularização do depoimento de Lula é negativa para o país. Aumenta ainda mais o distanciamento entre grupos pró e contra o líder do PT. A paixão, nos dois lados, afasta a possibilidade de manter a racionalidade neste momento de instabilidade.
Os holofotes sobre Curitiba tiram o foco da população sobre temas mais relevantes no momento, como as reformas trabalhista e previdenciária.
